Saúde pública na Coreia do Norte


Bebês recém-operados são monitorados pela equipe médica do Hospital Infantil Okryu, em Pyongyang, Coreia do Norte, em novembro de 2017. O Hospital Okryu é reconhecido como um centro de excelência para tratamento de cardiopatias congênitas e cirurgias cardiovasculares em crianças.

Em 1947, um ano após assumir o cargo de presidente do Comitê Popular da Coreia do Norte, Kim Il-Sung sancionou a Lei de Segurança Social, instituindo a assistência médica gratuita como direito de todos os coreanos e criando o sistema universal de saúde pública. Kim Il-Sung foi o principal responsável pela construção da infraestrutura básica do sistema de saúde norte-coreano. A maioria dos hospitais existentes na Coreia do Norte foram erguidos nas décadas de 1960 e 1970. Entre 1955 e 1986, o número de hospitais na Coreia do Norte saltou de 285 para 2.401 e o número de clínicas médicas passou de 1.020 para 5.644.

Kim Il-Sung também estabeleceu a obrigatoriedade de check-ups periódicos, iniciou os programas de imunização em massa e ampliou a cobertura dos serviços de saúde. Posteriormente, o país instituiu serviços especializados, criou redes de farmácias públicas e um sistema de telemedicina ligando os hospitais de Pyongyang aos centros médicos provinciais. A exemplo do que ocorre em outros países socialistas, a rede de atenção básica norte-coreana é bastante abrangente e há um grande enfoque em medicina preventiva.

As campanhas de imunização, a instituição do sistema universal de saúde e a expansão do saneamento básico permitiram a melhoria das condições de vida e indicadores de saúde dos norte-coreanos. A porcentagem da população servida por redes de esgoto saltou de quase zero para 83% em poucas décadas. A expectativa de vida, que era de 37,6 anos em 1955, praticamente dobrou em 60 anos. A crise financeira dos anos 80, a dissolução da União Soviética, os desastres naturais dos anos 90 e as atribulações da Marcha Árdua (1994-1998) afetaram fortemente a capacidade de financiamento do sistema de saúde norte-coreano, mas o país permaneceu oferecendo serviços de qualidade, bem acima da média dos países na sua faixa de renda per capita.

Em 2010, a ONG britânica Anistia Internacional publicou um relatório criticando severamente o governo da Coreia do Norte por supostamente não atender as necessidades básicas de assistência médica da população do país. Produzido com base nos relatos de 40 desertores, o documento afirmava que os hospitais públicos da Coreia do Norte estavam abandonados ou operando em condições precárias de higiene. O relatório afirmava, por exemplo, que os médicos faziam cirurgias sem anestesia e à luz de velas e que os pacientes eram obrigados a pagar pelos serviços.

Visando investigar as alegações da Anistia Internacional, a Organização Mundial da Saúde (OMS) enviou uma delegação para vistoriar as instalações médicas da Coreia do Norte. Após a vistoria, a diretora-geral da OMS, Margaret Chan, criticou o relatório da Anistia Internacional, classificando suas informações como "factualmente incorretas". Chan negou as alegações de instalações inadequadas e afirmou que o sistema de saúde norte-coreano era "a inveja dos países em desenvolvimento", elogiando a grande oferta de médicos e leitos hospitalares e os programas de médicos da família e de saúde materna. A diretora da OMS reconheceu a existência de problemas pontuais relacionados à ausência de insumos e equipamentos defasados, mas ressaltou que a situação em nada se assemelhava ao caos narrado pela ONG inglesa. Afirmou ainda que o relatório da Anistia Internacional não era embasado por qualquer metodologia científica, mas meramente em relatos anedóticos de um número muito reduzido de pessoas que saíram da Coreia do Norte há muitos anos, se não décadas.

O relatório sobre a Coreia do Norte produzido pela Anistia Internacional entrou para um longo rol de polêmicas envolvendo a ONG inglesa, frequentemente acusada de possuir um viés negativo em relação aos governos não alinhados com as potências ocidentais. O caso mais famoso é o das falsas alegações feitas por representantes da Anistia Internacional de que soldados iraquianos teriam massacrado bebês em incubadoras durante a invasão do Kuwait - um dos episódios citados como justificativa para a Guerra do Golfo.

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