Sociedade Fabiana
Há 137 anos, em 4 de janeiro de 1884, a Sociedade Fabiana era fundada em Londres. A associação era composta por intelectuais e humanistas oriundos da elite vitoriana, que tinham por objetivo difundir os ideais do fabianismo - também chamado de "socialismo fabiano". O fabianismo se apresentava como uma espécie de "socialismo antimarxista", rejeitando a revolução, as ideias ditas "utópicas" e próprio conceito de luta de classes. Influenciados pelas ideias de John Stuart Mill, os fabianos defendiam a "progressão humanista" das instituições já existentes, sem rupturas bruscas. A superação do capitalismo, alegam os fabianos, deveria ocorrer de forma lenta, gradual e natural, através de reformas e do próprio avanço das mentalidades. O nome do movimento deriva do cônsul romano Fábio Máximo, que se notabilizou pelo uso de uma estratégia militar gradual e temporizada, misturando espera e lento atrito, ao enfrentar as tropas cartaginesas comandadas por Aníbal.
A maioria dos membros da Sociedade Fabiana eram intelectuais, escritores, poetas e dramaturgos, tais como George Bernard Shaw, Virginia Woolf, H. G. Wells, Bertrand Russell, Edward Carpenter, Annie Wood Besant e Salama Moussa. O movimento também teve adesão de alguns anarquistas (Charlotte Wilson), sufragistas (Emmeline Pankhurst) e sexólogos (Havelock Ellis). Na gestão da Sociedade Fabiana, estava o casal Sidney e Beatriz Webb, responsáveis por estabelecer as bases teóricas do movimento.
O fabianismo se caracterizou pela ambiguidade e contradições de suas posturas. Ao mesmo tempo em que defendiam projetos efetivamente progressistas, como a adoção do sistema universal de saúde pública, os fabianos também ecoavam ideias elitistas e demofóbicas, tais como a eugenia e o conceito de "higienização social". Na maioria das vezes, suas ideias coincidiam com as reformas liberais do início do século XX, época em que defendiam a criação de um estado de bem-estar capitalista, baseado no modelo alemão bismarckiano. A Sociedade Fabiana foi componente essencial na fundação do atual Partido Trabalhista do Reino Unido, em 1906, e manteve laços profundos com a agremiação ao longo de toda a primeira metade do século XX.
Malgrado sua enorme influência no Ocidente, onde ajudou a fundamentar o ideário socialdemocrata, os socialistas fabianos eram muito criticados pelos marxistas, que os consideravam agentes contrarrevolucionários a serviço da desmobilização da classe operária. Lenin os chamava de "defensores indiretos do social-chauvinismo" e definiu a Sociedade Fabiana como "a expressão mais consumada do oportunismo da política liberal-trabalhista." Trótski, por sua vez, considerava que o fabianismo era "uma tentativa sub-reptícia de salvar o capitalismo da fúria da classe operária".
A Sociedade Fabiana entrou em declínio a partir dos anos trinta, por uma série de fatores, incluindo os embates ideológicos referentes à experiência socialista da União Soviética e a perda de influência do Partido Trabalhista, suplantado pelo ativismo sindicalista e organizações da classe operária. Vários membros da Sociedade Fabiana também se filiaram à União Britânica de Fascistas, fundada por Oswald Mosely em 1932, aumentando o desprestígio do movimento junto à esquerda.
No período do entre-guerras, o fabianismo foi revigorado com o surgimento da segunda geração fabiana, integrado por nomes R. H. Tawney, G.D.H. Cole e Harold Laski. O movimento também se expandiu entre líderes proeminentes do Terceiro Mundo, ganhando adeptos como Jawaharlal Nehru na Índia, Obafemi Awolowo na Nigéria, Muhammad Ali Jinnah no Paquistão e Lee Kuan Yew em Singapura. No Oriente Médio, a Sociedade Fabiana influenciou o surgimento do baathismo, que se tornaria uma corrente política de relevo em países como Iraque, Síria e Egito.
Atualmente, o fabianismo passa por um novo período de renascimento, congregando parte considerável dos atuais quadros do Partido Trabalhista do Reino Unido, incluindo o ex-primeiro-ministro Tony Blair, e contando com a adesão de vários acadêmicos como Bernard Crick, Thomas Balogh, Nicholas Kaldor e Peter Townsend. As críticas originais ao movimento também seguem válidas até os dias de hoje e podem ser associadas à própria iconografia adotada pelos fabianos ainda no século XIX. O logotipo original dos fabianos era uma tartaruga, simbolizando a predileção de seus membros por uma transição lenta e imperceptível para o socialismo. Já o brasão do grupo representava um lobo se despindo de uma fantasia de cordeiro. O brasão foi posteriormente abandonado devido às conotações negativas óbvias. Pode-se especular que Lenin, entretanto, o consideraria como uma representação bastante adequada.
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