Stuart Angel Jones

Stuart Angel Jones, revolucionário e mártir da luta armada contra a ditadura militar.

Stuart Angel Jones nasceu em Salvador, Bahia, em 11 de janeiro de 1946. Filho do empresário estadunidense Norman Jones e da estilista mineira Zuzu Angel e irmão da jornalista Hildegard Angel, Stuart passou a infância com a família no Rio de Janeiro. Na adolescência, tornou-se atleta do Clube de Regatas Flamengo e foi bicampeão carioca de remo. Posteriormente, ingressou no curso de economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Stuart iniciou sua militância política como membro da Dissidência Estudantil do Partido Comunista Brasileiro (PCB) na Guanabara. Após o golpe militar de 1964, ingressou e tornou-se um dos dirigentes do Movimento Revolucionário Oito de Outubro (MR-8), organização política marxista que integrava a luta armada contra a ditadura militar. Conforme informações do inquérito policial, Stuart teria participado do sequestro do embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Charles Burke Elbrick, que teve sua soltura negociada em troca da libertação de quinze presos políticos.

Monitorado pelos órgãos de repressão da ditadura militar, Stuart foi preso em junho de 1971 próximo ao seu "aparelho" no bairro do Grajaú, Zona Norte do Rio de Janeiro. Em seguida, foi levado para o Centro de Informações da Aeronáutica (CISA), na Base Aérea do Galeão, onde foi interrogado sobre o paradeiro do capitão Carlos Lamarca, líder do MR-8. Stuart se negou a revelar a localização de Lamarca, sendo submetido a espancamentos e sessões de tortura. O guerrilheiro Alex Polari, preso no mesmo local, assistiu de sua janela as torturas às quais Stuart foi submetido. O estudante foi amarrado a um carro e arrastado por todo o pátio do quartel. Depois, foi obrigado a aspirar os gases tóxicos que saíam do escapamento do veículo. Como seguiu se negando a colaborar com os militares, foi morto na mesma noite. Tinha 25 anos na ocasião.

Os restos mortais de Stuart nunca foram encontrados. Reinaldo Cabral e Ronaldo Lapa relatam no livro "Desaparecidos Políticos" que seu corpo teria sido levado para uma unidade militar na região da Restinga da Marambaia e então jogado em alto mar por um helicóptero da Marinha. Outras fontes alegam que Stuart foi enterrado como indigente em um cemitério nos subúrbios cariocas, possivelmente em Inhaúma.

Os responsáveis por sua tortura e morte, conforme registros historiográficos analisados após a redemocratização, teriam sido os brigadeiros João Paulo Burnier e Carlos Afonso Dellamora, os tenentes-coronéis "Abílio Alcântara" e Muniz, os capitães Lúcio Barroso e Alfredo Poeck, o major Pena e os agentes do DOPS Mário Borges e Jair Gonçalves da Mota. Em 2013, descobriu-se que "Abílio Alcântara" era na verdade o codinome utilizado pelo sargento Abílio Correa de Souza, um suboficial da aeronáutica treinado em contraespionagem na Escola das Américas, em Forte Gulick, no Panamá. A Escola das Américas é um instituto subordinado ao Departamento de Defesa dos Estados Unidos que tem por objetivo a "formação de contra-insurgência anticomunista". A Escola das Américas treinou boa parte dos militares latino-americanos em técnicas de tortura durante a Guerra Fria, incluindo nomes acusados de genocídio e crimes contra a humanidade como Leopoldo Galtieri e Manuel Noriega. Abílio Correa de Souza foi o principal torturador de Stuart e a última pessoa a vê-lo com vida em sua cela.

A mãe de Stuart, Zuzu Angel, foi informada sobre o que ocorrera com o filho por meio de uma carta escrita por Alex Polari. Começou então a pressionar os militares, cobrando explicações sobre o ocorrido e informações sobre o paradeiro do corpo de Stuart. Bem relacionada no mundo da moda, Zuzu conseguiu criar uma campanha de impacto internacional, organizando desfiles-protestos com roupas manchadas de sangue, atraindo a atenção da imprensa estrangeira e contando com a adesão de figuras como Joan Crawford, Liza Minnelli e Kim Novak. Baseando-se na dupla cidadania do filho, que também era cidadão estadunidense, Zuzu Angel tentou levar o assunto até o congresso dos Estados Unidos apelando ao senador Ted Kennedy. Também tentou obter a intervenção do secretário de estado, Henry Kissinger, entregando-lhe um dossiê sobre Stuart. Apoiador do regime militar brasileiro, o governo dos Estados Unidos apenas a ignorou. A pressão internacional, entretanto, fez algum estrago sobre a imagem do regime militar, forçando os generais a trocarem todo o alto comando da Aeronáutica.

Zuzu Angel morreu em 14 de junho de 1976, num atentado disfarçado de acidente de automóvel, no bairro carioca de São Conrado, sem jamais descobrir o paradeiro do corpo do filho. A esposa de Stuart, Sônia de Moraes Jones, também militante do MR-8, foi igualmente assassinada pelos militares, desaparecendo em junho de 1973. Em 1998, a Comissão Especial dos Desaparecidos Políticos reconheceu o envolvimento direto do Estado brasileiro na morte de Zuzu Angel.

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