Massacre de Sharpeville
Corpos dos manifestantes sul-africanos estirados no chão após a brutal repressão policial conhecida como Massacre de Sharpeville, ocorrido há 61 anos, em 21 de março de 1960, na África do Sul. O massacre foi uma das chacinas mais violentas cometidas contra os militantes anti-apartheid, matando 69 pessoas e ferindo outras 180.
Desde o século XVIII, os governantes da minoria branca sul-africana promulgavam medidas para restringir o fluxo dos sul-africanos negros nas cidades do país. Esse processo se intensificou após 1948, quando o Partido Nacional instituiu oficialmente a política do apartheid - violento regime de segregação racial que vigorou por quase cinco décadas, relegando a maioria negra do país à condição de cidadãos de segunda classe. Uma das principais ferramentas de controle social utilizadas pelo apartheid era a Lei do Passe, que obrigava os sul-africanos negros a usarem uma caderneta onde se registravam os locais que estavam autorizados a frequentar. A caderneta limitava a mobilidade da população negra e a impedia de trabalhar e de acessar serviços básicos como hospitais ou escolas.
Ao longo dos anos cinquenta, diversos protestos foram organizados em oposição ao apartheid e à Lei do Passe, muitos dos quais organizados pelo Congresso Nacional Africano. Em 1960, a agitação política chegou a Sharpeville, um subúrbio negro nos arredores de Vereeniging, 80 quilômetros ao sul de Joanesburgo. Na cidade, a mobilização foi articulada por Robert Sobukwe, líder do Congresso Pan-Africanista, uma dissidência do Congresso Nacional Africano, fundada em Soweto em 1959. Sobukwe marcara a manifestação para o dia 21 de março de 1960, tomando o cuidado de enviar uma carta para as autoridades policiais informando sobre o caráter pacífico da manifestação, como uma tentativa de diminuir a possibilidade de violência.
No dia do protesto, cerca de 20.000 pessoas se reuniram em frente à delegacia de polícia de Sharpeville segurando cartazes e entoando palavras de ordem contra a Lei do Passe. Mesmo transcorrendo de forma pacífica, a manifestação logo recebeu ordem de dispersão da polícia. Um contingente de 300 policiais se locomoveu até o local, dando início a um tumulto com os manifestantes que se recusaram a sair. No meio da confusão, um policial foi derrubado e seus colegas, sem disparar sequer um tiro de advertência, reagiram abrindo fogo contra a multidão. O massacre se prolongou por vários minutos, deixando 69 manifestantes mortos e outros 186 feridos, a maioria com tiros nas costas.
O Massacre de Sharpeville tornou-se um dos símbolos dos horrores do apartheid, despertando forte comoção na comunidade internacional e fomentando diversos atos de repúdio ao regime do em todo mundo. A comunidade negra sul-africana respondeu ao massacre com uma série de protestos massivos, também violentamente reprimidos pela polícia e pelo exército sul-africanos. Em 30 de março de 1960, o governo da África do Sul declarou estado de emergência e baniu o direito de manifestação. A proibição vigorou por cinco meses. Ao longo desse período, pelo menos 25.000 pessoas foram presas e a Lei das Organizações Ilegais foi implementada, jogando grupos como o Congresso Pan-Africanista e o Congresso Nacional Africano na clandestinidade. Dois anos depois, em novembro de 1962, com colaboração da CIA, o governo sul-africano prenderia Nelson Mandela, um dos principais líderes da resistência anti-apartheid, que ficaria encarcerado por 27 anos. Após sua libertação, Mandela escolheria o local do Massacre de Sharpeville para assinar a primeira constituição promulgada após o fim do regime do apartheid, em 1994.
A data do massacre, 21 de março, foi escolhida em 1966 pela Organização das Nações Unidas (ONU) para a celebração do Dia Internacional contra a Discriminação Racial. Na África do Sul a data também é comemorada como Dia dos Direitos Humanos.
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