Massacre de Soweto
Mbuyisa Makhubo e Antoinette Sithole carregam o corpo do menino Hector Pieterson, de doze anos, morto durante o Massacre de Soweto. A chacina teve início em 16 de junho de 1976, perpetrada pela polícia sul-africana, como represália a um protesto estudantil, deixando 566 mortos — quase todos crianças e adolescentes.
Desde 1948, o governo da minoria branca havia estabelecido na África do Sul o regime do apartheid, institucionalizando a segregação racial e o ideário da supremacia branca — relegando a maioria negra à condição de cidadãos de segunda classe, destituídos de direitos políticos e civis e sujeitos a abusos constantes. A resistência negra se consolidou em torno de organizações como o Congresso Nacional Africano e líderes como Nelson Mandela, mas a severa repressão do regime sul-africano nos anos sessenta levaria à desarticulação da maioria dos grupos, seguida pelo recrudescimento da legislação segregacionista — visível no fortalecimento da política dos bantustões (territórios separados para os habitantes negros) e na criação de leis que visavam consolidar a "supremacia cultural" da população branca.
Em 1974, o governo sul-africano sancionou o Decreto Médio do Africâner, uma lei que obrigava todas as escolas para negros da África do Sul a ensinarem a língua africâner — língua de raiz germânica e influência neerlandesa, símbolo das origens coloniais europeias e do regime segregacionista. O decreto visava não apenas reverter o declínio no uso do africâner no país, mas também excluía das escolas o ensino de línguas nativas e limitava o ensino do inglês. A medida provocou indignação generalizada entre os estudantes negros — sobretudo após tomarem conhecimento de que seria facultado aos estudantes brancos o direito de escolher a língua que seria utilizada em seus cursos escolares. A limitação do ensino do inglês também era vista como uma maneira de excluir os jovens negros do mercado de trabalho.
Em paralelo à indignação popular causada pelo Decreto Médio do Africâner, avançava o processo de independência de nações como Moçambique, Angola e Zimbábue, inspirando os estudantes a retomarem a mobilização antiapartheid. Em Soweto, um distrito negro de Joanesburgo, os estudantes organizaram uma série de reuniões para articular uma estratégia de oposição à nova lei. Receberam o valioso apoio do Movimento da Consciência Negra, organização liderada por Steve Biko, engajado na mobilização da classe estudantil contra o apartheid desde o fim dos anos sessenta. Com apoio do Movimento da Consciência negra, os estudantes organizaram os comitês de ação, envolvendo os professores e as comunidades escolares do distrito.
Em 30 de abril de 1976, os alunos da Escola Orlando West Junior realizaram uma passeata com cartazes exigindo direitos iguais e revogação do decreto que instituía o ensino obrigatório do africâner. A manifestação ensejou o início de uma greve dos estudantes e inspirou outras escolas a aderirem ao movimento. Algumas semanas depois, o Conselho Representativo dos Estudantes de Soweto resolveu marcar uma grande manifestação no dia 16 de junho.
A manifestação reuniu cerca de 20.000 pessoas, a maioria crianças em idade escolar, mas também professores que iam à frente da multidão pra desestimular possíveis reações às provocações dos policiais, que observavam a marcha acompanhados por cães. A passeata foi inteiramente pacífica, marcada por palavras de ordem contra o ensino do africâner e o apartheid. Como os estudantes não revidaram às constantes provocações e a manifestação crescia espontaneamente com a adesão de populares a cada quarteirão, os policiais resolveram agir, lançando os cães contra os manifestantes. Quando as crianças reagiram ao ataque jogando pedras, os policiais abriram fogo contra a multidão.
Estima-se que 566 pessoas morreram durante o Massacre de Soweto, quase todas crianças e adolescentes com idades entre 10 e 20 anos. Outras quatro mil pessoas ficaram feridas. Não contentes com o banho de sangue, os policiais ainda invadiram hospitais em busca de feridos e perseguiram os manifestantes até em suas casas. A brutalidade continuou ao longo das semanas subsequentes, resultando em mais algumas centenas de pessoas sumariamente executadas pela polícia sul-africana.
O massacre das crianças de Soweto causou consternação internacional, originando uma onda de protestos e levando o Conselho de Segurança da ONU a aprovar a Resolução 392, condenando as ações do governo sul-africano. Não obstante, Henry Kissinger, Secretário de Estado dos Estados Unidos, ignorou solenemente o massacre ao se reunir com o premiê da África do Sul, John Vorster, apenas uma semana depois, durante um evento na Alemanha Ocidental. Os dois voltariam a se encontrar poucas semanas depois na cidade de Pretória, sob fortes protestos dos manifestantes sul-africanos, que foram novamente alvejados pela polícia. Enquanto os corpos tombavam sem vida no chão, Kissinger negociava a participação de empresas estadunidenses na extração de minérios na Rodésia.
A hipocrisia do Tio Sam !!
ResponderExcluir23:59...ain... Fidel Malvadão!! Cuba merece embargo!
00:00 o governo sul-africano massacra negros! pura invenção dos vermelhos!
Nada de embargo!