A política externa de Donald Trump


O ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assina um decreto revertendo as alterações do "degelo cubano" - denominação dada à política de abrandamento das sanções estadunidenses contra Cuba, levada a cabo entre 2014 e 2015. O decreto de Trump endureceu as restrições econômicas contra a ilha, voltou a proibir visitas individuais e gastos de cidadãos estadunidenses em estabelecimentos turísticos controlados pelo governo cubano. Na ocasião, o mandatário estadunidense afirmou que "as atrocidades cometidas desde o início do regime dos irmãos Castro não serão toleradas" e que as sanções contra Cuba não serão levantadas até que Cuba "legalize os partidos políticos, reestabeleça eleições livres sujeitas à supervisão internacional e abra o seu mercado ao livre comércio".

A reversão do degelo cubano foi apenas a primeira de uma série de medidas tomadas por Donald Trump visando intensificar as sanções contra a ilha. O endurecimento das sanções causaram um prejuízo de 20 bilhões de dólares a Cuba - mais de 100 bilhões de reais. Em meados de 2020, Trump anunciou novas restrições à importação de produtos e proibiu cidadãos estadunidenses de se hospedarem em propriedades do governo cubano. E em janeiro de 2021, poucos dias antes de deixar seu cargo, Trump declarou Cuba como uma "nação financiadora do terrorismo", mesmo status reservado pelo governo estadunidense ao Irã, à Síria e à Coreia do Norte. A designação de Cuba como nação terrorista isola ainda mais o país caribenho, impõe limitações à ajuda externa, reforça a proibição de comércio de itens básicos e amplia ainda mais as sanções financeiras, além de justificar eventuais intervenções militares futuras.

Trump também foi responsável por estabelecer uma série de sanções contra o governo da Venezuela. Em março de 2018, o mandatário estadunidense assinou uma ordem executiva que proibia a compra de novos títulos da dívida venezuelana. Um ano depois, o governo dos Estados Unidos sancionou mais de 100 organizações e indivíduos ligados ao governo da Venezuela. Cinco meses mais tarde, Trump assinou decreto estabelecendo sanções totais, congelando todos os ativos e bens do governo venezuelano e proibindo todas as transações financeiras com o país. Trump também reconheceu Juan Guaidó como legítimo presidente da Venezuela, após o golpista venezuelano se autoproclamar mandatário. Em seguida, o governo Trump indiciou Maduro por "narcoterrorismo" e ofereceu uma recompensa de 15 milhões de dólares por sua captura.

Em maio de 2020, a Venezuela debelou uma tentativa de invasão marítima por mercenários empregados pela Silvercorp, uma milícia privada que foi contratada pela Casa Branca para prestar serviços de segurança. Dois dos mercenários presos eram assessores de segurança de Trump. As sanções de Trump contra o governo venezuelano arrasaram o país, causando crises no sistema de saúde, travando o acesso a insumos básicos e medicamentos, interrompendo o fornecimento de energia elétrica e o comércio de bens de consumo. Um estudo feito pelo Centro de Pesquisas Econômicas e de Políticas Públicas dos Estados Unidos estima que as sanções de Trump resultaram na morte de mais de 40.000 venezuelanos.

Em novembro de 2019, o governo Trump apoiou o golpe que depôs o presidente da Bolívia, Evo Morales, e o impediu de tomar posse após a vitória na eleição que lhe garantiria um novo mandato. O golpe boliviano, conduzido por milícias de extrema direita controladas pela afluente minoria branca do país, contou com cumplicidade da Organização dos Estados Americanos (OEA). A instituição, praticamente controlada pelo governo estadunidense, foi a principal responsável por legitimar, sem quaisquer evidências, alegações de fraude feitas pela oposição, que serviram de justificativa para a quartelada. O governo Trump imediatamente endossou a narrativa de fraude - contestada por todos os observadores internacionais e 133 economistas e estatísticos que acompanharam o pleito - e reconheceu a legitimidade do governo golpista.

Em dezembro de 2020, Trump impôs sanções contra o governo da Nicarágua, bloqueando ativos do país no sistema financeiro dos Estados Unidos. O mandato de Trump foi marcado por uma série de ataques verbais, humilhações e desrespeito aos povos latino-americanos. Trump iniciou unilateralmente a construção de um muro na fronteira com o México e afirmou que obrigaria o governo mexicano a pagar os custos da obra. Apelando ao eleitorado reacionário, insuflou o preconceito contra imigrantes latinos. As autoridades responsáveis por aplicar as leis imigratórias estabeleceram protocolos de separação deliberada de crianças dos seus pais. Crianças imigrantes sem documentos passaram a ser presas em jaulas trancadas com cadeados, ao passo que várias mulheres encarceradas em centros de detenção de imigrantes tiveram seus úteros removidos à força em ações de esterilização eugênica.

Dando continuidade à mórbida e tradicional obsessão estadunidense pela intervenção no Oriente Médio, Trump determinou o bombardeio contra a Síria em 2018, apresentado como uma resposta a um ataque químico em Duma, atribuído pelo governo Trump, sem quaisquer provas, ao governo de Bashar-al-Assad. Ainda no Oriente Médio, Trump atacou o Irã, assassinando o major-general Qasem Soleimani em um bombardeio conduzido pelas Forças Armadas estadunidenses em janeiro de 2020. Em seguida, anunciou uma série de sanções econômicas contra o país, afirmando que o Irã é "o principal patrocinador do terrorismo" e "uma ameaça ao mundo civilizado", emendando que jamais permitirá que o país asiático desenvolva armas nucleares. Em um outro ataque, dessa vez com drones, Trump ordenou o assassinato de Abu Mahdi al-Muhandis, vice-chefe do Comitê de Mobilização Popular do Iraque, que liderava a luta contra o Estado Islâmico no país.

Em Israel, Trump apoiou de forma entusiasmada a continuidade do massacre contra os palestinos e o roubo dos seus territórios. Também reconheceu Jerusalém como capital israelense, ordenando a transferência da embaixada estadunidense para essa cidade, intensificando os atritos com a comunidade palestina e os países vizinhos. Trump ainda acirrou a guerra comercial contra a China e financiou os protestos antigovernamentais em Hong Kong, utilizados como justificativa para a aprovação de sanções econômicas contra o governo chinês. Também acusou o governo chinês de cometer "genocídio" contra os uigures, ameaçando a aplicação de novas sanções, bem como pressionou para judicializar as acusações nos tribunais internacionais de direitos humanos.

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