Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD)
Fundada pelo governo dos Estados Unidos em 1947, durante o mandato de Harry Truman, a Agência Central de Inteligência (CIA, no acrônimo em inglês) tinha como prioridades máximas deter o avanço do socialismo, desarticular as organizações e governos de esquerda e apoiar ações alinhadas aos interesses estadunidenses. Nos primórdios da Guerra Fria, a CIA priorizou ações de inteligência, espionagem e cooptação dos aparelhos ideológicos latino-americanos, visando manter todos os países do continente alinhados aos ditames de Washington. Uma das principais estratégias adotadas pela CIA para atingir tais objetivos era a criação de think tanks conservadores e anticomunistas, apresentados sob a fachada de organizações acadêmicas ou institutos de pesquisa dedicados ao desenvolvimento nacional. Esses órgãos tinham por objetivo canalizar o apoio das elites, dos intelectuais, das organizações políticas e de amplos setores das sociedades latino-americanas à agenda política e econômica estadunidense. O primeiro think tank financiado pela CIA no Brasil foi o Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD).
O Instituto Brasileiro de Ação Democrática foi fundado no Rio de Janeiro em maio de 1959, por iniciativa de Ivan Hasslocher, ex-integralista e informante da CIA para o Brasil, Bolívia e Equador. O IBAD visava organizar a oposição ao governo de Juscelino Kubitschek e às lideranças políticas identificadas com a tradição varguista e com o nacional-desenvolvimentismo. Quando João Goulart tomou posse em 1961, o IBAD intensificou seu ativismo, ajudando a coordenar a mobilização anticomunista e reacionária que culminaria no golpe de Estado de 1964 e na subsequente instalação da ditadura empresarial-militar brasileira.
Para cooptar apoio da sociedade, o IBAD buscava influenciar os debates políticos, econômicos e sociais por meio de uma forte atuação política e publicitária, bancada por intermédio de doações dos empresários brasileiros e estadunidenses e subvenções da própria CIA. O instituto possuía sua própria agência de propaganda - a Incrementadora de Vendas Promotion, mantida com capital estadunidense e pautada pelo Escritório do Coordenador de Assuntos Interamericanos (OCIAA), órgão do governo dos Estados Unidos. A Promotion disseminava propaganda anticomunista e contra o governo de Goulart em jornais, revistas, estações de rádio, canais de televisão e exibição de filmes. Apenas em 1963, o IBAD custeou, por meio da Promotion, 1.706 exibições de filmes apenas no Rio de Janeiro, e material de propaganda anticomunista para 179 mil militares em quartéis, escolas e navios.
A agência investia pesado não apenas na publicidade, mas na própria produção cultural, utilizando-se de radionovelas, filmes, livros e programas de televisão para reforçar valores anticomunistas e favoráveis à defesa do liberalismo, do capitalismo e do "American Way of Life". Em 1964, a Promotion gastou outros 2 milhões de dólares em propaganda antigovernista. O IBAD também atuou fortemente para desarticular as Ligas Camponesas e as organizações sindicais. Em 1961, o IBAD coordenou a criação do Serviço de Orientação Rural de Pernambuco (SORPE), por intermédio do qual conseguiu assumir o controle da Federação dos Sindicatos Rurais e pôs em prática um plano de dividir os movimentos operários para prejudicar a candidatura de Miguel Arraes ao governo pernambucano.
O IBAD também era responsável por comandar a Ação Democrática Popular (ADEP) - uma frente parlamentar conservadora e reacionária, formada por deputados e senadores de diversos partidos, que tinha por objetivo desestabilizar o governo de João Goulart, desarticular políticas progressistas e fazer lobby em prol dos interesses estadunidenses. Nas eleições de 1962, o IBAD despejou enormes quantias de dinheiro - cerca de 5 bilhões de cruzeiros, em valores da época - para financiar as campanhas de políticos de direita: 250 candidatos a deputados federais, 600 candidatos a deputados estaduais e 8 candidatos a governadores. O objetivo do IBAD era criar um ambiente de desestabilização cooptando o Congresso e os governos estaduais, de forma a isolar e paralisar as ações do executivo, emperrando o governo de Goulart e abrindo o caminho para um golpe de Estado. Os recursos utilizados para financiar as campanhas provinham da CIA, do governo estadunidense e de empresários do Brasil e dos Estados Unidos.
Como as práticas do IBAD eram proibidas pela legislação eleitoral, deputados da base de apoio de Goulart instalaram uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no congresso para investigar o financiamento ilegal de campanhas pelo instituto. O relatório final da CPI determinou que o IBAD incorreu em uma série e ilegalidades e atos de corrupção e o presidente João Goulart decretaria o fim da instituição por meio de decreto. O estrago, entretanto, já estava feito. Sem governabilidade, base de sustentação e pressionado pelo empresariado, pelos militares, pelos setores conservadores, João Goulart seria deposto em 2 de abril de 1964, em um golpe militar afiançado pelo governo do democrata Lyndon B. Johnson e pela própria CIA, por intermédio da Operação Brother Sam. Os antigos quadros do IBAD, muito influentes junto à cúpula do regime militar, foram integrados aos órgãos públicos e continuaram a atuar politicamente em favor dos interesses estadunidenses dentro do próprio governo brasileiro.
O fundador do IBAD, Ivan Hasslocher, ex-integralista e agente da CIA, atuante também na Bolívia e no Equador.
Comentários
Postar um comentário