A quinta-coluna
Na terminologia política, a expressão "quinta-coluna" refere-se a uma estratégia de subversão e sabotagem empregada durante um conflito ou disputa contra um grupo inimigo, semelhante à ação dos chamados "agentes duplos". Os "quinta-colunas" são grupos clandestinos que simulam fidelidade, concordância ou adesão a uma determinada causa, para se infiltrarem em um país, região, segmento da sociedade ou organização. A partir disso, passam a colaborar com as forças inimigas, espionando, sabotando, subvertendo e obstruindo internamente a própria organização a qual pertencem.
O uso da expressão "quinta-coluna" remonta à Guerra Civil Espanhola, a sangrenta disputa pelo controle político da Espanha que transcorreu entre os anos de 1936 e 1939, servindo de prelúdio à Segunda Guerra Mundial. O conflito ocorreu em um contexto de crescente instabilidade política e radicalização da sociedade espanhola, culminando no embate entre os republicanos (agrupados em torno da aliança entre anarquistas, socialistas e comunistas) e as forças nacionalistas (compostas pela união de falangistas, monarquistas, católicos e carlistas). Sem aceitar a vitória da esquerda nas eleições de 1936, os setores conservadores da sociedade espanhola, liderados pelo general Francisco Franco, iniciaram uma insurreição armada para derrubar a Frente Popular. Com apoio de tropas da Itália fascista e da Alemanha nazista, os nacionalistas dominaram vastas porções do território espanhol. Por sua vez, a Frente Popular manteve sob seu controle a capital, Madri, e outras cidades importantes como Barcelona, Valência e Bilbao, recebendo apoio da União Soviética e de dezenas de milhares de voluntários das Brigadas Internacionais. A guerra durou quase três anos e custou mais de 650 mil vidas. As tropas nacionalistas saíram vitoriosas e Franco tornou-se chefe de um regime ditatorial de inspiração fascista que se estenderia por quase quatro décadas.
A expressão "quinta-coluna" foi registrada pela primeira vez em um telegrama secreto enviado pelo diplomata alemão Hans Hermann Völckers à cúpula do regime nazista em setembro de 1936. No documento, Völckers transcreve uma informação que repercutia entre os republicanos e que havia sido atribuída ao general Francisco Franco, asseverando que os nacionalistas estavam se preparando para marchar sobre Madri com quatro colunas (formações militares), ao passo que uma quinta coluna estaria esperando para saudá-los dentro da cidade - referindo-se a facções que fingiam estar vinculadas ao campo legalista, mas se preparavam para ajudar as tropas de Franco a subjugar os republicanos.
Relatos sobre uma "quinta-coluna" pronta para trair os republicanos e prestar auxílio os franquistas se proliferaram em outubro de 1936, mas com informações contrastantes. A revolucionária Dolores Ibárruri publicou artigo no "Mundo Obrero" repetindo a expressão, mas atribuindo-a ao general Emilio Mola. Outro revolucionário, Domingo Girón, abordou o termo em um comício, mas o imputou ao general Gonzalo Queipo de Llano. Já o jornalista soviético Mikhail Koltsov indicou o nacionalista José Enrique Varela como autor da expressão. Malgrado o desencontro das informações, os combatentes republicanos ficaram alarmados diante da existência de impostores em seus quadros e passaram a espalhar panfletos, anúncios e cartazes, incitando a população a redobrar os cuidados e a denunciar eventuais quinta-colunistas.
O termo foi retomado durante a Segunda Guerra Mundial, onde passou a ser utilizado pelos Aliados em referência a colaboradores infiltrados do regime nazista, estampando cartazes de alerta sobre possíveis sedições e deslealdade. A Queda da França em 1940 foi atribuída por alguns jornalistas ocidentais não apenas à debilidade das forças domésticas, mas também à colaboração de uma suposta "quinta-coluna" pró-Alemanha atuante no país. Em agosto de 1940, o jornal The New York Times fez uma matéria identificando "quinta-colunas aliadas ao nazismo" em órgãos dos governos da Polônia, Checoslováquia, Noruega e Países Baixos, enquanto Walter Lippman recomendava cuidado com uma possível organização quinta-coluna se estabelecendo em território estadunidense, junto às comunidades nipo-americanas.
Ainda em 1945, logo após os soldados soviéticos tomarem Berlim, derrubando o regime nazista e encerrando a Segunda Guerra Mundial na Europa, o governo estadunidense passou a associar a expressão "quinta-coluna" às organizações socialistas ativas nos Estados Unidos. Não obstante, Estados Unidos e seus aliados europeus foram os que mais se utilizaram desse expediente ao longo da Guerra Fria. Um dos casos mais famosos é a fundação do Partido Marxista-Leninista dos Países Baixos, uma legenda falsa criada pela CIA e pelo serviço secreto holandês no âmbito da Operação Arenque Vermelho, com o objetivo de acessar informações confidenciais e monitorar lideranças de esquerda, além de desarticular, dividir e ridicularizar o campo progressista.

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