Guerra da Coreia (II)
Imagens da Guerra da Coreia, um dos mais violentos conflitos tributários da Guerra Fria, que se estendeu por três anos e deixou entre 3 e 5 milhões de mortos.
Alvo da cobiça estrangeira desde o século XIX, a península da Coreia foi transformada em protetorado e dominada pelo Japão após a queda da Dinastia Qing. Ao longo de quase quatro décadas, o Japão submeteu a Coreia a um dos projetos coloniais mais repressivos da Ásia, confiscando as terras produtivas dos nativos, instaurando o trabalho forçado e institucionalizando a violência sexual. A agressiva ocupação japonesa motivou os coreanos a apoiarem ao esforço de guerra das nações aliadas contra os japoneses durante a Segunda Guerra Mundial. A União Soviética passou a combater as tropas japonesas ao norte da península, ao passo que os Estados Unidos concentraram seus esforços militares na porção meridional do território coreano.
Durante a Conferência de Potsdam, realizada em junho de 1945, soviéticos e estadunidenses acordaram a divisão da península da Coreia em duas zonas de influência distintas, delimitadas ao longo do Paralelo 38. Na porção setentrional da península, formou-se a República Popular Democrática da Coreia (dita Coreia do Norte), uma nação socialista integrada à esfera de influência sino-soviética, que passou a ser governada pelo revolucionário Kim Il-Sung. Ao sul, instalou-se um regime militar de orientação capitalista, subordinado aos interesses estadunidenses — a República da Coreia (ou Coreia do Sul) —, cujo governo foi entregue ao ditador Syngman Rhee. A criação dos dois Estados transportou para a península a atmosfera de tensão geopolítica da Guerra Fria, com os dois governos pressionando pela reunificação do território sob seus respectivos modelos de organização política e econômica.
Os pequenos incidentes e provocações que começaram a ocorrer já em 1948 gradualmente atingiram novas magnitudes. Em 23 de junho de 1950, poucos dias depois de uma visita de autoridades militares estadunidenses, as tropas sul-coreanas estacionadas em Ongjin iniciaram um ataque com bombas e morteiros contra uma linha de defesa da Coreia do Norte. Em seguida, os sul-coreanos atacaram a cidade de Kaesong e invadiram a região de Ryonchon. Em 25 de junho de 1950, a Coreia do Norte respondeu às agressões, ordenando a incursão contra as forças militares do Sul. O presidente sul-coreano Syngman Rhee emitiu declaração de guerra, dando início ao conflito.
Mais numerosas, bem equipadas e apoiadas indiretamente pela União Soviética, as forças armadas da Coreia do Norte avançaram rapidamente sobre o sul, forçando o ditador Syngman Rhee a evacuar a capital Seul. Em meio à invasão, o governo da Coreia do Sul perpetrou os chamados Massacres das Ligas Bodo, em que 200 mil sul-coreanos suspeitos de serem comunistas ou simpatizantes da esquerda foram sumariamente executados. Apenas três dias após o início da guerra, os norte-coreanos já haviam tomado Seul e ocupavam quase toda a península, isolando as forças sul-coreanas no bolsão de Pusan.
Diante da vitória iminente das forças norte-coreanas e da possibilidade de unificação das duas Coreias sob um regime socialista, o governo dos Estados Unidos decidiu intervir diretamente no conflito. Visando revestir a intervenção com aspecto de legitimidade e evitar o envolvimento direto da União Soviética, os Estados Unidos pressionaram a ONU a aprovar a Resolução 38 — o que lhe permitiu despachar tropas militares sob a bandeira das Nações Unidas para atuar no conflito. As tropas da ONU eram compostas por soldados oriundos de diversas nações ocidentais, mas 90% dos soldados eram estadunidenses. O comando da força expedicionária estadunidense ficou a cargo do general Douglas MacArthur, que coordenou o contra-ataque após o desembarque anfíbio em Inchon.
O reforço bélico estadunidense reverteu a tendência até então assinalada, assegurando a vitória sul-coreana na Batalha de Pusan e forçando o recuo das tropas da Coreia do Norte para além do Paralelo 38. Seguindo ordens do presidente estadunidense Harry Truman, as tropas do general MacArthur prosseguiram marchando rumo a Pyongyang, visando derrubar o governo de Kim Il-Sung. Incomodado com as pretensões estadunidenses, o presidente chinês Mao Tsé-Tung decidiu intervir na guerra. Em outubro de 1950, a China despachou um contingente de 300 mil homens para auxiliar as forças norte-coreanas. Josef Stalin também encaminhou esquadrões aéreos, três divisões de baterias antiaéreas e seis mil caminhões com suprimentos em favor dos norte-coreanos. A entrada da China e a intensificação do apoio soviético equilibraram a disputa. As tropas sul-coreanas e estadunidenses foram decisivamente derrotadas nas batalhas de Onjong e do Rio Chongchon e sofreram severas perdas nos ataques a Changjin.
Acuadas, as forças estadunidenses e sul-coreanas foram obrigadas a recuar aos limites do Paralelo 38. Após uma sucessão de derrotas, o general MacArthur passou a exigir do governo estadunidense autorização para o uso de armas nucleares contra a China e a Coreia do Norte, mas Harry Truman considerou a ideia insensata e o removeu do comando das tropas, substituindo-o pelo general Matthew Ridgway. A Força Aérea dos Estados Unidos deu início a uma devastadora campanha de bombardeamento aéreo em larga escala contra a Coreia do Norte. Foram despejadas 635 mil toneladas de bombas e 32 mil toneladas de napalm sobre o território norte-coreano, matando um quinto de toda a população civil do país e obliterando quase todas as suas cidades.
A guerra se arrastou por mais dois anos, atraindo cada vez mais atores externos. Países como Reino Unido, França e Austrália intensificaram o envio de tropas em favor das forças sul-coreanas e estadunidenses, enquanto Alemanha Oriental, Bulgária e Polônia se juntaram à China e Coreia do Norte. Malgrado a virulência das batalhas, a disputa chegou a um impasse estratégico, onde os ganhos de uma parte eram imediatamente neutralizados pelo avanço da outra. O equilíbrio de forças levou à alteração dos objetivos iniciais em favor do restabelecimento dos limites territoriais acordados entre os dois países. Em julho de 1953, quando as duas frentes se estabilizaram, foi assinado um armistício, levando ao cessar-fogo. Não obstante, nenhum tratado de paz foi firmado e, apesar do fim das hostilidades, as duas Coreias permanecem tecnicamente em guerra até hoje. A Guerra da Coreia foi um dos conflitos mais sangrentos do século XX, deixando um enorme rastro de destruição e um número de mortos estimado entre três e cinco milhões de pessoas, a grande maioria civis.
Uma senhora e seu neto passam diante dos destroços de sua residência, destruída por um bombardeio estadunidense em Pyongyang.
Soldados estadunidenses capturados pelas forças militares da Coreia do Norte aguardam a liberação numa base próxima ao Paralelo 38, em 5 de outubro de 1950.
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