GUM de Moscou
Um "shopping center" socialista - imagens do GUM de Moscou.
GUM é a abreviatura de "Glavnyj Universalnyj Magazin" (Главный универсальный магазин), literalmente "Loja de Departamento Principal". Os GUM eram centros comerciais existentes nas cidades de grande e médio porte da União Soviética, reunindo comércio de produtos, oferta de serviços, restaurantes e equipamentos de lazer, como cinemas, teatros e boliches. Os GUM eram geridos pelo governo soviético e concentravam lojas estatais e pequenos negócios privados. Foram criados, a princípio, como empresas-modelo de varejo, com o objetivo de democratizar o consumo de bens essenciais e torná-los acessíveis aos cidadãos.
Localizado na Praça Vermelha, o GUM de Moscou era o maior da União Soviética. O estabelecimento funcionava em um imponente complexo arquitetônico de 16 edifícios interconectados por galerias envidraçadas. O suntuoso conjunto fora projetado por Alexander Pomerantsev e Vladimir Shukhov e inaugurado como centro comercial em 1893, tornando-se desde então um dos recintos mais elitizados do país, frequentado pela aristocracia russa e pela nobreza czarista.
Após o triunfo da Revolução de Outubro de 1917, o centro comercial foi desapropriado. O complexo abrigou a princípio os escritórios de organizações do governo revolucionário. Após 1918, como parte de um esforço para diminuir o déficit habitacional, os andares superiores foram convertidos em moradias comunais. Famílias sem teto passaram então a viver em um dos prédios mais luxuosos de Moscou, com vista para o Kremlin. No andar térreo, abriram-se brechós onde os bens confiscados da burguesia eram comercializados a preços acessíveis. Em 1921, sob a vigência da Nova Política Econômica instituída por Lenin, o GUM foi reaberto como uma loja de departamento estatal. Mas já em 1930, diante da instituição dos planos quinquenais, o estabelecimento foi reformulado.
Até meados dos anos cinquenta, o complexo funcionaria como uma edificação multifuncional, abrigando comércios no térreo e moradias populares no andares superiores. O local também sediava centros de alfabetização, oficinas de língua estrangeira, creches, clínicas médicas, casas de banho, salões de cabeleireiro, gráficas, etc. Após a morte de Stalin em 1953, os moradores foram realocados para apartamentos populares e o GUM de Moscou foi reaberto como uma gigantesca loja de departamento, ocupando todo o complexo arquitetônico.
Curiosamente, o centro comercial localizado na capital da União Soviética se tornaria um dos maiores shopping centers do mundo. Possuía 47 mil metros quadrados de área construída, centenas de lojas e uma média diária de 200 mil visitantes. O GUM era subdividido em gigantescos departamentos de têxteis, vestimentas, calçados, roupas íntimas, utensílios de cozinha, móveis, tapetes, acessórios, papelaria, brinquedos, bens culturais e bens perecíveis. A oferta de mercadorias contemplava mais de 30 mil tipos de itens.
O complexo também se notabilizou pela oferta de serviços, pelos eventos culturais e pelas atividades recreativas. Abrigava festivais, três salas de cinema, um teatro, galerias de arte e pistas de boliche. No inverno, o pátio central era convertido em uma pista de patinação no gelo. Apesar do enfoque comercial a partir dos anos sessenta, o GUM seguiu sediando serviços públicos - nomeadamente um departamento do Instituto Plekhanov, voltado à alfabetização de adultos. O espaço seguiu como um importante centro de lazer, entretenimento e de comércio de bens duráveis para o povo moscovita nas décadas seguintes.
Nos anos oitenta, em meio às reformas conduzidas por Mikhail Gorbatchov, o GUM passou a sediar comércio de produtos importados e artigos raros. Com a dissolução da União Soviética, os GUM foram privatizados e convertidos em supermercados ou shopping centers convencionais. O GUM de Moscou foi vendido para a Bosco di Ciliegi e transformado em um shopping de alto padrão, especializado no comércio de artigos de luxo. Inacessível para o bolso da maioria do povo russo, o GUM de Moscou concentra hoje grifes como Louis Vuitton, Emporio Armani, Gucci e Prada, abandonando o perfil de centro comercial de massas e reaproximando-se de sua origem de refúgio da aristocracia russa.
Interior do GUM de Moscou em 1961.
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