Partido Comunista do Vietnã


"A Conferência da Unificação", do pintor vietnamita Phan Ke An. A obra retrata o conclave liderado pelo revolucionário Ho Chi Minh que teve início em 3 de fevereiro de 1930 e resultou na fundação do Partido Comunista do Vietnã.

O partido foi o sucessor da Liga da Juventude Revolucionária Vietnamita, fundada por Ho Chi Minh em Cantão, China, em 1925. A Liga da Juventude buscava preparar a luta armada revolucionária contra o domínio colonial francês sobre o Vietnã (à época chamado de Indochina), mas foi dissolvida em 1928 por pressão do Kuomintang, o Partido Nacionalista Chinês. A liga se subdividiu em duas organizações - o Partido Comunista da Indochina e o Partido Comunista de Aname -, que passaram a disputar a hegemonia sobre o movimento anticolonial vietnamita. Uma terceira legenda, denominada Liga Comunista da Indochina, se juntou à disputa. Em 3 de fevereiro de 1930, Ho Chi Minh organizou a "Conferência da Unificação" em Hong Kong, reunindo os líderes dos três partidos, que se fundiram para criar o Partido Comunista do Vietnã. Por determinação da Internacional Comunista, a organização mudou seu nome para Partido Comunista da Indochina pouco tempo depois.

Inicialmente pequena, a organização começou a atrair apoio popular dos camponeses frustrados com o endividamento e a crise financeira provocadas pela quebra das safras de 1929 e 1930. O partido começou a organizar os camponeses em conselhos autogeridos, ao mesmo tempo em que passou a amealhar multidões em suas manifestações de 1º de maio, que se assemelhavam a comícios de massa. Preocupadas, as autoridades coloniais francesas reagiram violentamente, atirando contra os manifestantes, prendendo e executando vários membros do Comitê Central do partido, levando-o à desarticulação. Em 1935, a Internacional Comunista incumbiu Le Hong Phong de restaurar o partido e, no ano seguinte, Ha Huy Tap assumiu o cargo de secretário-geral.

A derrota da França diante da Alemanha Nazista na Segunda Guerra Mundial e a subsequente colaboração do regime de Vichy com as potências do Eixo deslegitimaram a reivindicação de soberania francesa sobre a Indochina, que foi então ocupada pelo Japão. A exemplo dos franceses, os japoneses também reprimiram severamente o Partido Comunista, executando mais de 2.000 membros da agremiação, incluindo quase toda sua cúpula. Em 1941, Ho Chi Minh retornou ao Vietnã e reorganizou o partido ao lado de Vo Nguyen Giap, Truong Chinh e Pham Van Dong, que estabeleceriam uma liderança forte e unificada ao longo das quatro décadas seguintes.

Ho Chi Minh fundou a Liga Revolucionária para a Independência do Vietnã (Viet Minh), abrangendo partidos políticos, militares, organizações religiosas e outros setores da sociedade favoráveis à independência do Vietnã. O Viet Minh logo se tornaria a mais importante força de combate contra a ocupação japonesa, amealhando apoio popular e ampla legitimidade. Malgrado o apoio popular à luta contra os invasores, Ho Chi Minh teve de enfrentar forte oposição interna dos grupos trotskistas - sobretudo a Oposição Esquerda de Outubro, liderada por Ho Huu Tuong e Phan Van Hum. Filiado à Oposição de Esquerda Internacional, o grupo rejeitava a Internacional Comunista e defendia a estratégia da "revolução permanente" de Leon Trótski, conclmando a esquerda vietnamita a rejeitar a liderança de Ho Chi Minh, a quem chamava de "estagiário de Moscou". Alegando que a "independência é inseparável da revolução proletária", a Oposição Esquerda de Outubro se negou a apoiar o Viet Minh.

Mobilizando fortemente o povo vietnamita, o Viet Minh expulsou os invasores japoneses após a Revolução de Agosto de 1945. Em seguida, Ho Chi Minh forçou o imperador Bao Dai a abdicar do trono e proclamou a independência do Vietnã. A comunidade internacional, entretanto, não reconheceu a independência do país. Tropas chinesas ocuparam o norte do Vietnã e forças franco-britânicas tomaram o sul. Ho Chi Minh foi forçado a aceitar a incorporação do Vietnã como território francês e a decretar a dissolução do Partido Comunista do Vietnã. Não obstante, a luta luta anticolonial foi retomada tão logo as tropas chinesas se retiraram e o Partido Comunista foi restabelecido sob a denominação de Partido dos Trabalhadores do Vietnã. A Guerra da Indochina contra as forças francesas continuou até 1954, com a vitória vietnamita na Batalha de Dien Bien Phu.

Os Acordos de Genebra dividiram o Vietnã ao meio, concedendo ao Viet Minh o controle dos territórios ao norte e autorizando os grupos anticomunistas a se instalarem ao Sul. Após neutralizar os focos internos de oposição e desestabilização, o Viet Minh instalou, com apoio da União Soviética e da China, um governo socialista na República Democrática do Vietnã (ou Vietnã do Norte), ao passo que os Estados Unidos passaram a apoiar o regime repressivo de Ngo Dinh Diem na República do Vietnã (ou Vietnã do Sul). Em 1955, após sucessivas tentativas unilaterais de reunificação, os dois países entraram em conflito, dando início à Guerra do Vietnã. No congresso sediado em Hanói em 1960, o Partido dos Trabalhadores do Vietnã reafirmou seu compromisso com a missão do socialismo e com a libertação do Vietnã do Sul e coordenou a criação da Frente de Libertação Nacional da Vietnã. Também estabeleceu sua própria organização clandestina no país vizinho - o Partido Revolucionário do Povo do Vietnã do Sul. Após a assinatura do armistício e a retirada das tropas estadunidenses em abril de 1975, a guerra foi encerrada o Vietnã foi unificado sob a liderança dos socialistas.

Em 1976, o Partido dos Trabalhadores do Vietnã se fundiu com o Partido Revolucionário do Povo do Vietnã do Sul e retomou sua denominação original - Partido Comunista do Vietnã. O quarto congresso do partido, realizado nesse mesmo ano, reuniu 1.088 delegados, representando 1,5 milhão de filiados - quase 3% da população vietnamita. Durante o congresso, aprovou-se o Segundo Plano Quinquenal (1976-1980) e várias emendas à constituição do partido, apesar dos acalorados debates sobre a necessidade de reformas econômicas. O Terceiro Plano Quinquenal (1981-1985) teve como enfoque a necessidade de investir na melhoria das condições de vida da população, investimentos na industrialização, normalização das relações comerciais internacionais e a correção dos gargalos do planejamento estatal. Em 1986, pouco tempo após a morte de Le Duan, ocorreu o sexto congresso do partido e a reunião do Politburo, onde Truong Chinh defendeu a necessidade de reformas radicais. A eleição de Nguyen Van Linh para o cargo de secretário-geral do Partido Comunista reforçou o domínio da ala reformista da velha guarda do partido. Seu sucessor, Vo Van Kiet, consolidou o processo de implementação do socialismo de mercado. O ímpeto reformista arrefeceu em meados dos anos noventa com a reconstituição do Politburo.

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