Execração de Mussolini
Os corpos do ditador Benito Mussolini (segundo a partir da esquerda), de sua amante, Clara Petacci (no meio) e de outros três líderes fascistas (Nicola Bombacci, Alessandro Pavolini e Achille Starace) pendurados pelos pés e expostos à execração pública na Piazzale Loreto, em Milão, em 29 de abril de 1945.
Fundador e líder do Partido Fascista italiano, Mussolini projetou-se nacionalmente graças à sua habilidade retórica e ao discurso demagógico, que buscava cooptar a insatisfação popular com a instabilidade política e com a crise econômica. Buscando responder à frustração dos trabalhadores pauperizados após o fim da Primeira Guerra Mundial e apelando para o chauvinismo e conservadorismo dos setores médios, Mussolini conseguiu arregimentar uma legião de seguidores, convertendo o Partido Fascista em uma organização de massas. Apenas três anos após sua fundação, o partido já contava com 720 mil filiados e milhões de simpatizantes, tornando-se a força política mais expressiva da Itália.
O Partido Fascista logo atraiu o apoio massivo da burguesia italiana. Os ataques organizados pelas milícias fascistas contra líderes sindicais e organizações de esquerda agradaram o empresariado, que se mobilizou para financiar a agremiação. O fascismo era visto como um instrumento eficaz para neutralizar o avanço da esquerda, desarticular os movimentos operários e fortalecer o domínio político das elites — sendo por isso reivindicado como um modelo de governança pela burguesia internacional. Em 1922, após organizar a marcha simbólica dos Camisas Negras sobre Roma, Mussolini conquistou o apoio irrestrito do rei Vítor Emanuel III, que o nomeou como primeiro-ministro.
A partir de 1923, Mussolini eliminou energicamente seus oponentes, baniu os partidos políticos, extinguiu os direitos civis e reprimiu brutalmente a esquerda e os movimentos sociais, transformando a Itália em uma ditadura fascista em que exercia o cargo de chefe-supremo — alcunhado "il Duce". Apesar disso, Mussolini seguiu contando com apoio entusiasmado da burguesia, contemplada pelas políticas econômicas do regime. A imprensa o saudava de forma inconteste, exaltando seus programas de obras públicas e a tentativa de ampliar a influência italiana no mundo.
Para além da repressão brutal aos opositores, Mussolini buscou expandir os domínios coloniais italianos na África, cometendo uma série de crimes de guerra, incluindo o uso de armas químicas na Líbia e o massacre indiscriminado de civis na Etiópia. A política imperialista italiana, entretanto, incomodou o Reino Unido e a França, receosos do recrudescimento das disputas coloniais. Visando forjar novas alianças, Mussolini se aproximou da Alemanha nazista, estabelecendo o Eixo Roma-Berlim em 1936. Buscou a partir de então emular as ações de Adolf Hitler, que se tornaria seu mentor e modelo.
A aliança com a Alemanha resultou na subordinação da política externa italiana aos ditames do regime nazista. Mussolini apoiou incondicionalmente todas as ações encampadas por Hitler: sancionou as leis raciais fascistas para alinhar a Itália à política supremacista alemã, enviou tropas para auxiliar os falangistas durante a Guerra Civil Espanhola e referendou o avanço da Alemanha sobre a Checoslováquia determinado no Acordo de Munique. Em 1939, Mussolini e Hitler firmaram o Pacto de Aço, tornando o ingresso da Itália na Segunda Guerra Mundial uma decorrência obrigatória.
A aliança militar com a Alemanha foi desastrosa para a Itália, que amargou sucessivas derrotas durante a Segunda Guerra. O ataque à Grécia em 1940 terminaria com uma derrota fragorosa, que forçou as tropas italianas ao recuo e impeliu Mussolini a fazer um humilhante pedido de ajuda à Alemanha. Na Batalha do Mediterrâneo, as forças de Mussolini foram subjugadas pelo Reino Unido. No norte da África, as tropas italianas foram expulsas da Líbia e da Etiópia. Por fim, a União Soviética aniquilaria o reforço de 200 mil soldados enviados pelo regime italiano para a Frente Oriental.
O desempenho medíocre da Itália no conflito gerou divisões na cúpula do regime fascista. A insistência de Mussolini em manter o apoio militar à Alemanha nazista e a deterioração das condições de vida da classe operária levaram à rápida perda de apoio popular. A miséria crescia exponencialmente. Submetidos ao racionamento de itens básicos e à inflação de guerra, os trabalhadores viam seu poder de compra ser devastado, enquanto o governo esbanjava em gastos militares e acumulava derrotas. Os bombardeios dos Aliados tornavam-se cada vez mais frequentes. O desembarque das tropas aliadas na Sicília em maio de 1943 foi o fator decisivo para que o rei Vítor Emanuel retirasse seu apoio ao "Duce".
Em desgraça, Mussolini foi destituído do cargo de primeiro-ministro e teve sua prisão decretada. O regime fascista entrou em colapso. Nas ruas, a população destruía os símbolos fascistas e exigia a libertação dos presos políticos. Vítor Emanuel logo assinaria um armistício e abandonaria Roma, que seria ocupada pelos partisans — grupos armados de civis que compunham a Resistência Italiana ao nazifascismo. Antes que pudesse ser entregue aos aliados, entretanto, Mussolini foi libertado por paraquedistas alemães da SS. Com apoio dos militares nazistas, Mussolini fugiu para o norte da Itália, onde proclamou a "República de Salò" — Estado fantoche controlado pela Alemanha.
Embora Mussolini fosse formalmente o chefe de Estado, o comando efetivo da República de Salò foi entregue a Rudolf Rahn, plenipotenciário das SS e comandante das forças de ocupação alemãs. A República de Salò tentou rearticular suas defesas, mas foi continuamente enfraquecida pelo avanço dos Aliados e pelas ações da Resistência Italiana — responsável por conduzir campanhas bem sucedidas em Bolonha, Turim e Gênova. Em 25 de abril de 1945, os partisans agrupados no Comitê Nacional de Libertação tomaram Milão, levando à capitulação da República de Salò e à libertação da Itália.
Quando os alemães iniciaram sua retirada da Itália, Mussolini tentou segui-los, mas foi impedido pelos partisans, que o capturaram. Em 28 de abril de 1945, o líder fascista foi fuzilado ao lado da amante, Clara Petacci, e outros correligionários. Em Milão, a notícia da morte de Mussolini fez uma multidão sair às ruas para celebrar. Sedentos por vingança, os populares atiraram pedras, cuspiram, chutaram e balearam os corpos dos líderes fascistas. Mussolini teve a face desfigurada.
No dia seguinte, sob os aplausos de um público eufórico, os cadáveres de Mussolini, Clara Petacci e outros três membros da cúpula do Partido Fascista (Nicola Bombacci, Alessandro Pavolini e Achille Starace) foram pendurados de cabeça para baixo em um posto de gasolina da Piazzale Loreto — exatamente no mesmo local onde, um ano antes, os fascistas haviam pendurado os corpos de quinze opositores assassinados pelo regime de Mussolini, com o objetivo de amedrontar a população.
Comentários
Postar um comentário