A indústria automobilística soviética


Uma oficina de montagem da Fábrica de Automóveis de Gorky, com os modelos "Pobeda" e "ZIM-12" em preparação. Níjni Novgorod, União Soviética, 1954. A Fábrica de Automóveis de Gorky foi inaugurada em 1932 como parte de um acordo de cooperação entre a União Soviética e a Ford.

Não havia indústria automobilística de peso na Rússia antes da era soviética. Dois fabricantes de automóveis eram responsáveis pela maior parte da produção no país - a Fábrica Russo-Báltica e a Sociedade Automotiva de Moscou (AMO). A produção, entretanto, era pífia e inteiramente baseada na importação de componentes junto aos fabricantes ocidentais. Após a Revolução de Outubro de 1917 e a subsequente instalação do governo socialista, as fábricas foram expropriadas. Renomeada como Prombron, a antiga Fábrica Russo-Báltica seguiu produzindo os automóveis que já fabricava e lançou alguns novos modelos a partir de 1922. Já a AMO (futuramente rebatizada como ZiL) passou a produzir caminhões sob licença da Fiat, além de produzir veículos pesados mais modernos, desenhados por seus próprios projetistas.

Em 1924, a União Soviética já produzia 100% de todos os componentes utilizados na fabricação dos veículos pesados. Em 1927, os engenheiros do Instituto de Automóveis e Motores Científicos (NAMI) apresentaram o primeiro modelo de veículo de passeio inteiramente fabricado no país - o NAMI-I, que passou a ser produzido pela Fábrica Estatal de Automóveis Spartak. Com a adoção dos planos quinquenais e a implementação do projeto de industrialização e produção em larga escala, o governo soviético passou a investir pesado na indústria automotiva, construindo fábricas em todo o país.

Em 1929, visando ampliar sua capacidade produtiva, a União Soviética assinou um acordo de cooperação com a Ford. Pelo acordo, o governo soviético se comprometia a adquirir automóveis e componentes automotivos ao custo de 13 milhões de dólares. Já a Ford se comprometia a transferir tecnologia e fornecer assistência técnica na construção de uma fábrica de automóveis que permitisse a produção em massa a custos reduzidos e tempo otimizado. Em decorrência desse acordo, seria inaugurada em 1932 a Fábrica de Automóveis de Gorky (Gorkovsky Avtomobilny Zavod, ou GAZ). A cooperação com a Ford duraria até 1936. Paralelamente, o governo soviético fundou a Moskvitch, outra grande fábrica automotiva em Moscou.

Em 1937, a União Soviética já produzia quase 200 mil veículos por ano (um aumento de 844,6% em sete anos). Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, quase todas as fabricantes de automóveis do país voltaram sua produção para o esforço de guerra. Em 1940, ciente da cooperação entre Henry Ford e o regime nazista, o governo soviético expropriou a fábrica da Ford que operava em Riga, na Letônia.

Após o fim da Segunda Guerra Mundial, o Comitê de Defesa do Estado tomou uma série de medidas para retomar a produção, que havia sido drasticamente reduzida tanto pelo esforço de guerra quanto pela destruição parcial da infraestrutura no país. A resolução nº. 9905, denominada "Sobre a Restauração e Desenvolvimento da Indústria Automotiva", determinava a instalação de novas fábricas de automóveis em Kutaisi e Dnepropetrovsk. Apenas cinco anos depois, o país já havia se recuperado e a produção de automóveis chegava a 363 mil veículos por ano.

Ao fim da década de 1950, a União Soviética já havia dobrado sua produção, chegando a mais de 600 mil veículos, entre carros, caminhões e ônibus. Seus fabricantes automotivos já produziam então 43 modelos de veículos e estavam entre as maiores fabricantes de caminhões do mundo. O país também começou a exportar veículos, primeiramente para os países do Bloco Socialista e, posteriormente, para clientes na Europa Ocidental. Modelos como o Lada (produzido em associação entre a VAZ e a Fiat) e o Volga (fabricado pela GAZ) tornaram-se bastante competitivos.

Entre os anos anos 60 e 80, foram criadas novas fábricas de veículos de passeio e vans em Stavropol Volzhsky e Izhmash e de veículos pesados na Geórgia, Bielorrússia e Montes Urais. A Volkswagen construiu uma fábrica de caminhões em Kama. Nos anos 80, a União Soviética produzia cerca de 2,3 milhões de veículos por ano, sendo o sexto maior produtor automotivo do mundo - e a maior fabricante de caminhões do planeta. O país exportava cerca de 400 mil carros por ano, sobretudo para os seus países satélites, mas também para a Europa Ocidental, América do Norte e América Latina.

Após a dissolução da União Soviética, as montadoras e fabricantes foram privatizadas e integradas à economia de mercado, sendo brutalmente afetadas pela crise econômica do período de transição. Quase todas as 43 fabricantes foram à falência e a produção de automóveis dos antigos países do bloco soviético foi reduzida em dois terços. Até hoje, a Rússia produz menos veículos do que a União Soviética produzia nos anos oitenta - quase quatro décadas antes.

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