A mulher e o capitalismo

Defender um sistema onde 20 milhões de pessoas morrem de fome, de doenças tratáveis ou de falta de água potável todos os anos é uma tarefa ingrata, mas os liberais não se intimidam diante do desafio. O principal argumento utilizado em defesa do capitalismo é a narrativa de que o sistema permitiu a melhoria das condições de vida da classe operária. Houve de fato avanços nas condições de vida dos trabalhadores, mas essas melhoras derivam mais do próprio progresso tecnológico e das lutas travadas pelos próprios trabalhadores do que do capitalismo. Observando, por exemplo, os avanços conquistados pelas mulheres ao longo do século XX - o direito ao voto, as leis de proteção contra a violência doméstica, o direito de não serem consideradas propriedades de seus maridos, as leis contra a discriminação de gênero - não é difícil notar que nenhum deles foi concedido pela misericórdia dos bancos ou das câmaras de comércio. Ao contrário - foram adquiridos graças às lutas obstinadas travadas ao longo de décadas por socialistas e feministas, ao custo de muito sangue.

Pela sua própria lógica estrutural calcada na exploração do homem pelo homem, o capitalismo é incompatível com qualquer luta emancipatória. É um sistema econômico inerentemente opressor, sustentado pela subjugação da classe trabalhadora - reforçada por meio do fomento à desigualdade econômica, ao racismo estrutural, ao machismo e à misoginia. A subjugação da sexualidade feminina e o estabelecimento de padrões de comportamentos sexistas, por exemplo, surgiram como ferramentas utilizadas para submeter a instituição familiar às necessidades do capital, moldando-a conforme as necessidades de criação de excedentes, preservação da propriedade privada e divisão do trabalho. É por meio da manipulação desses padrões, por exemplo, que as mulheres foram convencidas de que as tarefas domésticas são algo natural, um ato de amor, e não apenas um trabalho não remunerado. Abaixo, reunimos alguns exemplos de anúncios publicitários, publicados nos Estados Unidos e em outros países capitalistas desde os anos cinquenta, que demonstram como a subjugação da sexualidade feminina, a estereotipificação, a desumanização e objetificação das mulheres são ferramentas que ajudam a naturalizar a opressão a serviço do capital.



"Mostre para ela que o mundo é dos homens". Anúncio da grife masculina Van Heusen de 1951.



"Se o seu marido descobrir que você não prova o café na loja antes de comprar...". Anúncio da Chase & Sanborn de 1952.


"Quer dizer que até uma mulher consegue abrir?". Anúncio da Alcoa Aluminium de 1953.



"É sempre ilegal matar uma mulher?". Anúncio da Pitney-Bowes de 1953.



"Homens são melhores do que as mulheres". Anúncio da Drummond Sweaters de 1959. O texto diz que "dentro de casas, as mulheres são úteis - até agradáveis às vezes. Mas numa montanha elas são um atraso".



"Sabrina demonstra a melhor invenção do mundo... o Projetor Bell & Howell". Anúncio de 1959.



"Chef faz tudo, exceto cozinhar - é pra isso que as esposas servem". Anúncio da Kenwood de 1961.



"Cedo ou tarde, sua esposa vai demonstrar um dos melhores motivos para ter um Volkswagen". Anúncio da Volkswagen de 1964 explicando que "mulheres são delicadas e gentis, mas elas batem em coisas. Se sua esposa bater com um Volkswagen, você não terá tantos prejuízos".


"Cigarros são como mulheres. As melhores são magras e ricas". Anúncio da Silva Thins de 1967.



"O jogo é Broomsticks". Anúncio da grife Broomsticks romantizando estupro coletivo.



"É bom ter uma garota na casa". Anúncio da grife masculina Mr. Leggs de 1970.



"Mulheres do futuro farão da Lua um lugar mais limpo". Anúncio da Lestoil de 1968. "Porque a Lua não vai se limpar sozinha".



"Sopre na cara dela e ela o seguirá por onde você for". Anúncio da Tripalet de 1969.



"Mantenha a casa limpa e o seu peso regulado". Anúncio da Total de 1970.



"Deixe ela ficar no lugar ao qual pertence". Anúncio da Weyenberg de 1974.



"Love's Baby Soft. Porque a inocência é mais sexy do que você imagina".




"Balance bem e aproveite...". Anúncio da Syntha-6.




Ensaio publicitário com múltiplas marcas em uma revista.



Anúncio da Blender.



Anúncio da Superette High Fashion.



"Passo 001 para uma economia maravilhosa". Anúncio da grife Meltin' Pot.



Anúncio da Jimmy Choo.



"Pareça bem em tudo que você faz". Anúncio da Fluid Salon.



Publicidade da Vogue Festival.



Anúncio da Dolce & Gabbana.



Anúncio da Pepsi insinuando estupro de vulnerável.

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