A Revolução de Outubro de 1917 e a subsequente instalação do governo socialista transformaram a Rússia soviética em uma nação pioneira da promoção dos direitos das mulheres. Sob a liderança de Vladimir Lenin, o governo revolucionário russo editou decretos estabelecendo a igualdade formal e jurídica de homens e mulheres e instituiu o direito ao divórcio. No mesmo ano, a Rússia se tornou o primeiro país do mundo a legalizar o aborto. Os casamentos religiosos foram abolidos e substituídos pela parceria civil. O policiamento das vestimentas também foi abolido. A revolucionária Alexandra Kollontai coordenou uma série de programas que visavam criar o conceito de "nova mulher", incentivando as soviéticas a se libertarem da "opressão do casamento, da maternidade e do trabalho doméstico". O objetivo era criar um modelo mais saudável e autônomo de núcleo familiar, não subordinado à dependência financeira e à lógica do capital.
Comentando sobre as alterações, Lenin afirmaria: "No decorrer de dois anos, o poder soviético, em um dos mais atrasados países da Europa, fez mais para emancipar as mulheres e tornar seus direitos iguais aos do sexo 'forte' do que todas as repúblicas 'democráticas' avançadas e esclarecidas do mundo nos últimos 130 anos”. (...) Conhecimento, cultura, civilização, liberdade – em todas as repúblicas capitalistas burguesas do mundo todas essas palavras bonitas são combinadas a infames, repugnantes e brutais leis nas quais as mulheres são tratadas como seres inferiores, leis que lidam com direitos no casamento e divórcio, que falam sobre o status inferior de uma criança nascida fora do casamento quando comparada a uma criança “legítima”, leis que garantem privilégios aos homens, leis que humilham e insultam as mulheres. (...) A República Soviética, a república de trabalhadores e camponeses, prontamente exterminou essas leis e não deixou pedra sobre pedra na estrutura da fraude e da hipocrisia burguesas”.
O governo soviético buscou combater a dupla jornada e o trabalho doméstico não remunerado através da socialização das tarefas domésticas. Assim, trabalhos tradicionalmente feitos de graça pelas mulheres passaram a ser realizados por profissionais assalariados em creches, lavanderias públicas e restaurantes comunitários. Consolidando as reformas iniciadas em 1917, a União Soviética incentivou a educação feminina, garantiu a equidade dos salários em uma mesma função e encorajou as mulheres a ocuparem os postos de trabalho tradicionalmente relegados aos homens - inclusive nas Forças Armadas. As mulheres também foram incentivadas a participarem da vida política do país, votando nas eleições locais e se candidatando aos cargos eletivos nos sovietes.
Assim, a União Soviética colocava em prática na década de vinte ideais de emancipação feminina que só começariam a ser debatidos pelos países ocidentais nos anos 60 e 70. Algumas leis de igualdade de gênero aprovadas nos primeiros anos da União Soviética eram tão avançadas que até hoje não foram adotadas em países do Ocidente. Apresentamos abaixo um conjunto de cartazes históricos e obras gráficas que evocam a luta pelos direitos das mulheres na União Soviética.
"Trabalhadoras: peguem seus rifles!". Cartaz de 1919.
"Mulheres: sua educação é uma garantia de emancipação". Cartaz de Natalia Iznar, 1920.
"Isso é o que a Revolução de Outubro fez pelas trabalhadoras e pelas camponesas". Cartaz de 1920, referente à socialização das tarefas domésticas. A figura em vermelho aponta para os equipamentos criados pelo governo revolucionário: biblioteca, restaurante comunitário, um clube recreativo para trabalhadores, uma escola para adultos e um abrigo para mães solteiras.
"Mulheres: aprendam a ler e a escrever!". Cartaz de 1923.
"Proletárias e camponesas: compareçam às eleições. Unam-se aos homens sob a Bandeira Vermelha. Traremos pavor à burguesia." Cartaz de Nikolai Valerianov, 1925. A obra representa mulheres camponesas em trajes simples marchando lado a lado com trabalhadoras urbanas para subjugar o rechonchudo burguês no canto inferior direito. A obra visava incentivar as trabalhadoras humildes do campo a se engajarem nas atividades políticas.
"'Toda cozinheira deve aprender como governar o país'. Lenin". Cartaz de 1925 incentivando mulheres a participaram da vida política do país.
"Lênin e a trabalhadora. No país dos sovietes, toda dona de casa deve aprender a governar o país". Cartaz de 1926 exortando as mulheres a participaram da vida política da União Soviética.
"8 de março: Dia da emancipação da mulher". Cartaz de Adolf Strakhov-Braslavski, 1926.
"8 de março: Proletárias de todas as nações sob a bandeira da Internacional Comunista rumo a uma Revolução de Outubro mundial." Cartaz produzido entre 1922 e 1930.
"Pare!". Cartaz de 1929 de combate à prostituição.
"Abaixo os assediadores da linha de produção". Cartaz de Konstantin Rotov, 1930.
"Abaixo a escravidão da cozinha! Viva a nova vida cotidiana!". Cartaz de Grigóri Shegal, 1931. A obra faz referência à socialização das tarefas domésticas. A personagem em vermelho aponta para as novidades destacadas em segundo plano: um clube recreativo para trabalhadores, uma cantina comunitária e uma creche estatal.
"Trabalhadora: aprenda a pilotar aviões e conheça a tecnologia aeronáutica. Frequente as escolas de aviação civil!". Cartaz de 1931.
"8 de março: Dia de levante das trabalhadoras contra a escravidão na cozinha. Abaixo a opressão e a mentalidade pequeno-burguesa do trabalho doméstico". Cartaz de 1932.
"'As mulheres das fazendas coletivas são uma grande força'. Josef Stalin. Cartaz de Maria Voron, 1934.
"Todos os recordes mundiais devem ser nossos! 2ª edição dos Jogos Esportivos e Atléticos dos Sindicatos do Comércio da União Soviética". Cartaz de 1935.
"Camponesa, coletivize sua aldeia. Junte-se às fileiras das mulheres tratoristas vermelhas". Cartaz da década de 1930.
"Mulheres: conduzam as locomotivas!". Cartaz de Aleksandr Deineka de 1939, incentivando mulheres a se tornarem maquinistas.
"Fascismo - o maior inimigo das mulheres. Todos unidos contra o fascismo". Cartaz de 1941, denunciando o estupro e assassinato de mulheres soviéticas cometidos pelos invasores nazistas durante a Operação Barbarossa.
"Nós os substituiremos". Cartaz de 1941 conclamando as mulheres a ocuparem os postos na produção industrial deixados pelo homens convocados pelo Exército Vermelho para lutar na Segunda Guerra Mundial.
"Glória às camaradas combatentes". Cartaz de G. Zaitsev, 1941.
"Tudo pela vitória! Para a frente aliada, das mulheres da União Soviética". Cartaz de 1942.
"Glória à mãe-heroína". Cartaz de 1944.
"Mulheres da Bielorrússia: vocês serão honradas pela eternidade pelas glórias que obtiveram na batalha".
"Nós vamos reconstruir". Cartaz de 1945, referindo-se ao esforço de reconstrução da infraestrutura da União Soviética após o término da Segunda Guerra Mundial.
"Todas às urnas!". Cartaz de 1947 exortando as mulheres a participarem das eleições.
"'Não existiam e não podiam existir mulheres como essas nos velhos tempos'. Josef Stalin." Cartaz de 1950, referindo-se às mulheres ocupando cargos políticos nos sovietes.
"Batemos a meta… e você?". Cartz de Oleg Savostiuk, 1954.
"Vida longa à igualdade de direitos das mulheres da União Soviética!". Cartaz de B. Berezovski.
"Viva a heroína soviética - filha da grande nação.". Cartaz de Y. Solovyev, 1963, em homenagem a Valentina Tereshkova, primeira mulher a ir para o espaço.
"Invente, melhore, implemente". Cartaz da década de 1970 incentivando mulheres a participarem de pesquisas em ciência e tecnologia.
Comentários
Postar um comentário