Democracia Corinthiana (I)


Jogadores do Corinthians exibem faixa com os dizeres "ganhar ou perder, mas sempre com democracia" antes da final do Campeonato Paulista, disputada contra o São Paulo, em 1983.

A Democracia Corinthiana foi um dos maiores movimentos políticos da história do futebol. Surgiu na década de 1980, em plena ditadura militar, sob a liderança de um grupo de jogadores de futebol politizados, como Sócrates, Wladimir, Casagrande e Zenon.

Após uma péssima campanha nos campeonatos paulista e brasileiro de 1981 e o agravamento de uma crise financeira, Waldemar Pires foi eleito para o cargo de presidente do Corinthians e escolheu o sociólogo Adilson Monteiro Alves para dirigir o time de futebol. Embora pouco experiente, Adilson era favorável a mudanças radicais no modelo de gestão desportiva do clube, optando por instituir uma administração coletiva e compartilhada com o time. Dessa forma, decisões importantes como contratações, regras de concentração, direito de consumo a bebidas alcoólicas pelo público, liberdade de expressão de opiniões políticas, etc., passaram a ser decididas por meio do voto igualitário dos membros do time - isso é, o voto do técnico tinha igual peso ao voto dos jogadores e dos funcionários. O termo Democracia Corinthiana seria cunhado e popularizado pelo publicitário Washington Olivetto e pelo jornalista Juca Kfouri.

Esse método inovador de gestão duraria até 1985 e renderia ótimos frutos. O Corinthians chegou às semifinais do campeonato brasileiro em 1982 e conquistou o título de campeão paulista em 1982 e 1983. O time também conseguiu quitar todas suas dívidas, deixando uma reserva de três milhões de dólares em caixa para o período seguinte. Paralelamente ao sucesso desportivo, a Democracia Corinthiana teve importante atuação na luta pela redemocratização do Brasil. Os jogadores do time usavam camisas estampadas com palavras de ordem como "Diretas Já" ou "Eu Quero Votar Para Presidente", em apoio às campanhas pelo fim da ditadura militar e à pressão popular pela redemocratização do país. Os principais nome do elenco também participaram ativamente das manifestações das Diretas Já.

O ativismo em prol da redemocratização incomodou os militares, que começaram a pressionar o time, exigindo moderação das mensagens políticas. Não obstante, durante pelo menos quatro anos, o Corinthians seguiria utilizando-se de sua visibilidade e da sua força popular para defender a bandeira da abertura política, exortando o povo a lutar pela reconquista de seus direitos. Com a saída de Sócrates e Casagrande e a inauguração de modelos gestões mais comerciais, nomeadamente a filiação ao Clube dos 13, a Democracia Corinthiana chegou ao fim. O movimento, entretanto, se converteu em um dos maiores símbolos do uso do esporte em prol da mobilização popular e da luta pelos direitos civis.

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