Malcolm X (II)

Malcolm X fotografado em 1965. Expoente do movimento do Nacionalismo Negro, Malcolm X foi um dos principais líderes da luta em prol dos direitos civis dos afro-americanos. Sua simpatia pelo socialismo, sua postura anticapitalista e suas críticas ao racismo institucional do governo estadunidense lhe renderam forte oposição das autoridades governamentais. Assassinado aos 39 anos de idade, converteu-se em um símbolo da luta antirracista e uma inspiração para os movimentos que buscam justiça social.

Malcolm Little nasceu em Omaha, Nebraska, em 19 de maio de 1925, como um dos quatros filhos do casal Earl e Louise Little. Seu pai era um militante ativo da Associação Universal para o Progresso dos Negros (UNIA, no acrônimo em inglês), motivo pelo qual a família era constantemente assediada por organizações supremacistas, nomeadamente a Ku Klux Klan. Em 1929, grupos racistas chegaram a incendiar a casa da família Little, sem que os bombeiros interviessem para apagar o incêndio. A família teve de se mudar várias vezes para escapar de ameaças.

O pai de Malcolm foi assassinado por grupos racistas de Lansing, Michigan, em 1931, deixando a família em situação financeira delicada e extremamente abalada psicologicamente. Earl tinha um seguro de vida, mas a seguradora se recusou a pagar o valor previsto na apólice, alegando que ele havia cometido suicídio. Louise jamais se recuperou do choque da morte de marido, permanecendo internada em uma clínica psiquiátrica por 26 anos. Malcolm e os irmãos passaram a viver em um orfanato de Lansing. Na escola do orfanato, Malcolm destacou-se entre os melhores alunos, mas perdeu interesse nos estudos após uma experiência frustrante com um professor. Após ouvir o jovem lhe dizer que pretendia ser um advogado no futuro, o professor retrucou advertindo-o que, em função da cor da sua pele, poderia no máximo ansiar em se tornar carpinteiro.

Malcolm deixou o orfanato e foi morar com sua irmã, Ella, em Boston. Passou a trabalhar como engraxate e à noite frequentava os bairros boêmios, consumindo drogas e bebidas alcóolicas. Mudou-se em seguida para Nova York, onde envolveu-se com gangues e começou a praticar furtos e assaltos até ser capturado pela polícia. Em 1946, foi sentenciado a dez anos de prisão em Norfolk, Massachusetts. Na cadeia, passou a ser visitado pelo irmão, Reginald Little, que lhe apresentou a Nação do Islã - organização religiosa liderada por Elijah Muhammad que lutava pela auto-gestão e pelos direitos civis dos afro-americanos. Malcolm converteu-se ao islamismo em 1953 e ingressou na Nação do Islã. Abandonou o seu sobrenome de batismo, considerando-o como uma herança da escravidão, e adotou a denominação Malcolm X.

Após sair da prisão, Malcolm X tornou-se um dos mais ativos líderes políticos da Nação do Islã. Assumiu a gestão do templo da organização no Harlem e se tornou um dos maiores nomes do movimento do Nacionalismo Negro. Malcolm X também passou a atuar como jornalista, escrevendo textos defendendo a emancipação da sociedade afro-americana e conclamando o povo negro à organização política. Em 1959, após ser registrado em um documentário sobre os movimentos nacionalistas negros, Malcolm X ganhou projeção nacional. Seus discursos tornaram-se progressivamente mais e mais inflamados, exortando os negros a usarem "todos os meios necessários" para sua autodefesa e resistência - incluindo o uso da violência. Malcolm X também passaria a criticar de forma ácida o sistema capitalista, defendendo a ideia de que o socialismo era mais benéfico à causa negra.

Os discursos incisivos de Malcolm X começaram a incomodar as autoridades estadunidenses, temerosas de que os afro-americanos se organizassem em movimentos de massa e acatassem o argumento da legitimidade da violência revolucionária como instrumento para a conquista dos direitos civis. A presença de Malcolm X em comícios do Partido Socialista dos Trabalhadores alarmou anda mais o governo dos Estados Unidos, que incumbiu o Departamento Federal de Investigação (FBI) do monitoramento permanente do ativista.

A oratória excepcional e retórica inflamada de Malcolm X foram fundamentais para a expansão da Nação do Islã e do ideário do Nacionalismo Negro. A defesa da legitimidade da violência revolucionária, entretanto, desagradaria algumas importantes lideranças do movimento, nomeadamente o pastor batista Martin Luther King Jr. A fragmentação do movimento negro se acentuaria nos anos sessenta, quando Malcolm X fez duras declarações denunciando os crimes do imperialismo estadunidense, por ocasião do assassinato do presidente John F. Kennedy. Por fim, Malcolm X também se desentenderia com as lideranças da Nação do Islã, após criticar ações impróprias de Elijah Muhammad. 

Malcolm X abandonou a Nação do Islã em 1964 e fundou sua própria organização - a Associação da Mesquita Muçulmana, que passaria a atrair vários membros da Nação do Islã. Nesse mesmo ano, iniciou uma jornada religiosa de peregrinação rumo à cidade sagrada de Meca, na Arábia Saudita. Por ocasião da viagem, adotou um novo nome - Al Hajj Malik Al-Shabazz. Ao retornar para os Estados Unidos, fundou uma nova instituição secular - a Organização da Unidade Afro-Americana, dedicada à defesa dos direitos civis de todos os afrodescendentes.

Objetivando expandir a influência de sua organização, Malcolm X atenuou a virulência de sua retórica de modo a unificar o movimento negro. Não houve, entretanto, tempo hábil para a estratégia. No dia 21 de fevereiro de 1965, enquanto proferia uma palestra no bairro do Harlem, em Nova York, Malcolm X foi assassinado com mais de dez tiros. As autoridades apontaram que o atentado foi organizado por desafetos ligados à Nação do Islã. Três membros da organização foram condenados e presos pelo assassinato. Persistem até hoje, entretanto, inconsistências e dúvidas sobre o assassinato de Malcolm X e muitas lideranças do movimento negro sustentam que o ativista foi vítima de um assassinato político orquestrado pelo governo dos Estados Unidos.

Malcolm X permanece até hoje como um dos maiores ícones do movimento negro. Sua luta por justiça racial sedimentou parte substancial das iniciativas em prol da organização política dos afro-americanos. A ele também são creditados o esforço em elevar a autoestima do povo negro e a reconexão com a herança africana. Malcolm X inspirou quase todas as organizações políticas e sociais afro-americanas surgidas a partir da segunda metade do século XX, incluindo o movimento Black Power, o movimento das Artes Negras e o Partidos dos Panteras Negras.

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