O Foro de São Paulo
O então presidente do Partido dos Trabalhadores, Luiz Inácio Lula da Silva, sua esposa, Marisa Letícia, o sindicalista Jair Meneguelli e o presidente de Cuba, Fidel Castro, reunidos durante a primeira conferência do Foro de São Paulo, em julho de 1990.
O Foro de São Paulo é uma organização internacional que congrega 123 partidos políticos de esquerda, movimentos sociais e organizações sindicais provenientes de 27 países da América Latina e do Caribe. O foro foi fundado por convocatória de Fidel Castro e Lula em julho de 1990, a princípio como um órgão de concertação política, voltado à promoção da integração latino-americana, à reafirmação da soberania e da autodeterminação dos países da região, e ao combate às políticas econômicas neoliberais instituídas durante os anos noventa. A organização possui uma secretaria executiva localizada em São Paulo e três secretarias regionais - Cone Sul, sediada no Uruguai, Andino-Amazônica, estabelecida na Colômbia, e Mesoamericana e Caribenha, com sede em El salvador. Cinco agremiações brasileiras integram o Foro de São Paulo: PT, PCB, PCdoB, PDT e Cidadania (antigo PPS).
O primeiro encontro da organização foi sediado no extinto Hotel Danúbio, em São Paulo, em julho de 1990. O encontro reuniu 48 partidos políticos e organizações de 14 países e teve como enfoque o debate sobre a nova conjuntura internacional após a queda do Muro de Berlim e a discussão de novas estratégias de enfrentamento ao embargo econômico imposto a Cuba pelos Estados Unidos. A conferência foi marcada pela presença de organizações de diversas matrizes político-ideológicas, abrangendo desde organizações marxistas-leninistas e grupos guerrilheiros até partidos sociais-democratas e agremiações da democracia cristã. Durante o encontro, aprovou-se a chamada "Declaração de São Paulo", que definiu como objetivos do foro a articulação da luta popular e anti-imperialista, a construção da ação política consensual e o fomento à integração regional. O documento também condenou o intervencionismo estadunidense, as ações contra Cuba e a Revolução Sandinista e o processo de militarização das zonas andinas, sob o pretexto de "combater o narcoterrorismo".
Desde 1990, o Foro de São Paulo já organizou 23 encontros - quatro sediados no Brasil e os demais na Argentina, Uruguai, Equador, Venezuela, Cuba, México, El Salvador, Nicarágua e Antígua e Barbuda. Além dos encontros do Foro, a organização promove reuniões setoriais dos grupos temáticos - mulheres, jovens, afrodescendentes, povos indígenas, luta anticolonialista, etc. A organização teve intensa atuação na América Latina ao longo dos anos noventa, articulando importantes iniciativas intersetoriais. Diversos partidos políticos vinculados ao foro alcançaram destaque na região, organizando a oposição a projetos neoliberais como a Área de Livre Comércio das Américas (ALCA) e ajudando a fomentar iniciativas como o Fórum Social Mundial.
Entre o fim da década de 1990 e o início dos anos 2000, diversos partidos vinculados ao foro obtiveram vitórias eleitorais históricas, no fenômeno conhecido como "maré rosa" - a guinada à esquerda que predominou na América Latina até meados da década de 2010. Entre os presidentes de agremiações ligadas ao foro que assumiram o poder no período estão Hugo Chávez na Venezuela (1999), Lula no Brasil (2002), Néstor Kirchner na Argentina (2003), Tabaré Vásquez no Uruguai e Martín Torrijos no Panamá (2004), Evo Morales na Bolívia (2005), Michelle Bachelet no Chile, Rafael Correa no Equador, Daniel Ortega na Nicarágua e Manuel Zelaya em Honduras (2006), Fernando Lugo no Paraguai (2008), Mauricio Funes em El Salvador (2009) e Ollanta Humala no Peru (2011).
Paradoxalmente, o sucesso eleitoral das agremiações afiliadas refreou a importância política e a capacidade de articulação do foro - preterido em relação aos processos históricos e às particularidades sociais, econômicas e políticas dos novos governos e suas alianças em prol da governabilidade. As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, por exemplo, foram excluídas da organização após o abandono das negociações de paz e tiveram sua presença nas atividades do foro barradas pelo PT de forma contínua desde 2002. Não obstante, os encontros da organização continuaram a servir de base para a constituição de novas organizações internacionais latino-americanas como a União de Nações Sul-Americanas (UNASUL), a Comunidade dos Estados da América Latina e do Caribe (CELAC) e a Alternativa Bolivariana para as Américas (ALBA).
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