Entre os vários retrocessos civilizacionais conduzidos pela ditadura civil-militar brasileira, poucos foram tão destrutivos quanto o incentivo ao desmatamento em larga escala da Amazônia, ocorrido a partir da década de 1970 - época do chamado "Milagre Econômico". Até o final dos anos 60, a floresta estava praticamente intocada, mas os militares não enxergavam nada de positivo nisso. Ao contrário: a narrativa do regime era a de que a Amazônia era um problema nacional, um desperdício de espaço, um "deserto verde" cheio de riquezas intocadas que precisava ser "civilizado". A Amazônia era frequentemente chamada de "inferno verde" e os militares utilizavam slogans ufanistas e patrióticos para justificar a necessidade da exploração predatória: "integrar para não entregar".
Em pouco mais de duas décadas, o regime militar conseguiu devastar um quinto da área da floresta, causando o deslocamento forçado e a morte de milhares de indígenas. Abriu estradas, construiu hidrelétricas, concedeu terras para fazendeiros, incentivou a ação destrutiva de pecuaristas, latifundiários, madeireiras e garimpos. Criaram até mesmo instituições para custear a exploração predatória da floresta - nomeadamente a Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam). A maior cúmplice do regime militar nesse processo foi a imprensa brasileira, que colaborou enormemente para validar e naturalizar os interesses políticos e econômicos que pressionavam pela transformação da floresta em dinheiro, endossando a narrativa do governo de que a destruição da Amazônia significava progresso. Apresentamos abaixo 15 exemplos de peças de publicidade e propaganda produzidas ao longo dos anos 70 e 80, glorificando e exaltando a destruição da Amazônia. As imagens foram compiladas pelo botânico Ricardo Cardim.

Anúncio da companhia Netumar adverte que "a Amazônia do folclore, da selva impenetrável” já era. E emenda “Como isto nos orgulha”.
Edição especial da revista Manchete lançada em outubro de 1970 com 12 páginas coloridas dedicadas à "conquista" da floresta viabilizada pela abertura da rodovia Transamazônica, sob o sugestivo título de "Aqui vencemos a floresta".
Capa da edição especial da revista Manchete dedicada ao 'Novo Brasil". A matéria reproduz o discurso de que é preciso destruir a floresta para ocupar o “vazio demográfico” e explorar as riquezas da região.
Propaganda oficial do regime militar comemorando o fim do “Inferno Verde”, como a ditadura se referia à Amazônia.
Propaganda governamental na revista "Isto É Amazônia", publicada em novembro de 1972. O texto apresenta as lendas e folclore dos povos da região como sinônimos de atraso e conclama os empresários e se engajarem na exploração da floresta, apresentada como "um pote de ouro à espera dos felizardos". "Vamos faturar". “Há um tesouro à sua espera. Aproveite. Fature. Enriqueça junto com o Brasil”.
Reportagem da revista Veja de janeiro de 1982 glorificando as vitórias na "luta contra a selva". Na matéria de capa, a revista exalta o "desenvolvimento" em Rondônia, dita "a nova estrela no Oeste": “"Há mais de dez anos Rondônia é o destino de um dos maiores fluxos migratórios da história do Brasil ou atualmente em curso no mundo".
Propaganda oficial da ditadura apresentando a Amazônia como uma "mina de ouro" e aconselhando: "Transfira boa parte desse ouro para o seu bolso".
Anúncio da Andrade Gutierrez publicado na revista “Manchete” exalta a construção da rodovia Transamazônica: “Para unir os brasileiros nós rasgamos o inferno verde”.
Capa da revista “Isto É Amazônia”, publicada pela Sudam em novembro de 1972, com textos em português e em inglês. Ao mesmo tempo em que repetia o discurso ufanista de que era necessário ocupar a Amazônia para que não fosse tomada por estrangeiros, o regime militar conclamava os estrangeiros a comprarem terras e investirem na exploração da floresta.
Matérias escritas por Amaral Netto, jornalista apologista da ditadura militar e divulgador das ações do regime, glorificando a construção da Transamazônica.
Publicidade do Bank of London aludindo à importância da construção Transamazônica e a participação da instituição bancária na exploração da floresta.
Capa de revista “O Cruzeiro” com matérias exaltando a construção das rodovias na região Norte e elegendo a "Miss Transamazônica".
Cartaz celebrando a inauguração da rodovia Belém-Brasília e a transformação da floresta em pasto e lavouras.
Anúncio da construtora Queiroz Galvão sobre Juarez Transamazônico, o primeiro menino a nascer no “admirável mundo novo” que ela estava ajudando a construir.
Edição da revista Manchete comemorando os 150 anos da Independência e citando, novamente, a construção da Transamazônica como uma conquista civilizacional.
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