A política externa do governo Lula e a Palestina
Um manifestante palestino desfralda a bandeira do Brasil diante de um grupo de soldados israelenses, durante um protesto contra a construção de um muro de separação erguido por Israel em Bilin, na Cisjordânia, em 10 de dezembro de 2010. Alguns dias antes, o Brasil havia reconhecido o Estado da Palestina com as fronteiras de 1967.
A política externa brasileira durante os dois mandatos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi caracterizada por um esforço na diversificação das parcerias internacionais, pelo fortalecimento da cooperação Sul-Sul e pela tentativa de estabelecer de uma diplomacia "ativa e altiva", conforme definição dada pelo chanceler Celso Amorim. Impulsionado pelo bom desempenho de sua economia, o Brasil passou a exercer um maior protagonismo internacional, integrando-se a um movimento de atuação mais assertiva das potências emergentes em prol da reforma da ordem internacional e do surgimento de novas formas de governança que desafiavam a hegemonia das potências ocidentais. É nesse contexto que surge, por exemplo, a coalizão dos BRICS e o plano de criação de um sistema global alternativo aos acordos de Bretton Woods.
Como parte desse processo de expansão de sua influência, de conquista de novos mercados e de criação de novos fluxos diplomáticos, o Brasil passou a estreitar seus vínculos com os países do Oriente Médio. Já em 2003, o Brasil propôs a criação da Cúpula América do Sul-Países Árabes (ASPA), que teve grande impacto no aumento do intercâmbio comercial birregional. Lula visitou onze países do Oriente Médio, inaugurou três novas embaixadas na região e foi o primeiro líder sul-americano convidado a participar da Cúpula da Liga Árabe. Em 2010, em oposição à pressão internacional articulada pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, o governo brasileiro tentou mediar um conflito em torno do projeto nuclear iraniano e votou contra a resolução do Conselho de Segurança da ONU que impunha novas sanções ao Irã.
O Brasil também passou a exercer uma postura mais assertiva em relação ao conflito Israel-Palestina, abandonando em parte a neutralidade retórica dos governos anteriores. Em 2004, o Brasil abriu um escritório de representação em Ramalá e assinou uma série de acordos de cooperação econômica e técnica com a Palestina. Três anos depois, diplomatas brasileiros participaram da Conferência de Anápolis, dedicada à construção de um acordo de paz entre palestinos e israelenses. Em 2009, o governo brasileiro doou 25 milhões de reais para a Autoridade Nacional Palestina, destinados à reconstrução da Faixa de Gaza, severamente afetada pela guerra entre Israel e Hamas entre os anos de 2008 e 2009. E em março de 2010, Lula tornou-se o primeiro presidente brasileiro a visitar a Palestina. Na ocasião, o mandatário brasileiro depositou flores no túmulo do líder palestino Yasser Arafat, provocando a ira dos parlamentares conservadores israelenses. Em contrapartida, governo brasileiro elevou o tom das críticas à Israel, condenando o bloqueio imposto contra o povo palestino.
Em 3 de dezembro de 2010, atendendo a uma antiga reivindicação feita quase duas décadas antes pelos palestinos, Lula reconheceu oficialmente a existência do Estado Palestino com as fronteiras de 4 de junho de 1967, anteriores à Guerra dos Seis Dias travada entre Israel e os países árabes. O reconhecimento fortalece a reivindicação da Palestina sobre os territórios da Cisjordânia, Faixa de Gaza e Jerusalém Oriental. A decisão foi formalizada em carta enviada ao presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmud Abbas. O Brasil foi o segundo país sul-americano a reconhecer o Estado da Palestina com as fronteiras de 1967, precedido apenas pela Venezuela. A decisão brasileira ensejou um efeito dominó diplomático, encorajando a maioria dos países da região a seguirem a decisão. Nas semanas seguintes, Argentina, Bolívia, Equador, Guiana, Paraguai, Uruguai e Peru também reconheceram o Estado da Palestina com o desenho das fronteiras anterior à Guerra dos Seis Dias. O apoio brasileiro foi fundamental para avançar a causa do reconhecimento internacional do Estado da Palestina e o país sedia desde 2011 a primeira embaixada palestina inaugurada nas Américas.
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