João Doria e a reforma do Palácio dos Bandeirantes


Ambientes internos do Palácio dos Bandeirantes antes e depois da reforma milionária feita por João Doria em 2019.

Sede do governo do estado de São Paulo, o Palácio dos Bandeirantes abriga também secretarias estaduais, a residência oficial do governador paulista e um museu histórico e artístico. O edifício em estilo eclético foi projetado por Marcello Piacentini em 1934, com o objetivo de sediar a Universidade Conde Francisco Matarazzo. Com a crise financeira das Indústrias Matarazzo, as obras foram paralisadas. Após várias décadas, o edifício foi desapropriado durante a gestão Ademar de Barros, tornando-se em seguida sede do executivo paulista. Na década de 1970, Luís Arroba Martins transferiu um acervo de arte colonial para decorar o edifício, incluindo talhas de Aleijadinho e Mestre Ataíde e mobiliário histórico dos séculos XVII, XVIII e XIX. Para harmonizar o acervo palaciano, o edifício passou por uma reforma que lhe conferiu características neocoloniais. O imóvel é parcialmente tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional (IPHAN).

A reforma contratada por João Doria em 2019 e conduzida pela arquiteta Jóia Bergamo descaracterizou a ambientação interna neocolonial, dando ao palácio o aspecto de cafeteria de aeroporto ou funerária de luxo. As paredes e portas entalhadas em madeira de lei foram pintadas de cinza e preto. Os tetos de madeira foram encobertos por sancas e placas de gesso e os lustres foram substituídos por luminárias "plafon" embutidas. Os móveis históricos também foram adesivados ou cobertos com tinta preta. Cristaleiras históricas, obras de arte do século XIX e a coleção de cerâmicas foram substituídas por reproduções baratas de fotos P&B comercializadas nas lojas Walmart.

O resultado da reforma não deveria surpreender quem já viu o interior da mansão de João Dória nos Jardins, onde quadros de Romero Britto são expostos lado a lado com obras de Candido Portinari. Surpreendente é que os órgãos de fiscalização do patrimônio público nada tenham feito para impedir o atentado estético que conferiu ao edifício histórico a aparência medíocre de escritório corporativo com decoração de baixo orçamento da Avenida Faria Lima. Evidência adicional de que a crise, de fato, também é estética.





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