O Caso Ana Lídia


A menina Ana Lídia Braga tinha sete anos de idade quando foi sequestrada na entrada do Colégio Madre Carmen Sallés, em Brasília, no dia 11 de setembro de 1973. Seu corpo foi encontrado no dia seguinte, em um terreno da Universidade de Brasília, com os cabelos cortados e marcas de queimadura por cigarro. Ana Lídia fora estuprada, barbaramente torturada e asfixiada até a morte. Junto ao corpo, havia preservativos usados e marcas de pneus, que poderiam facilmente servir de provas para sustentar a condenação dos autores do crime, não fosse por um detalhe - os suspeitos eram filhos de políticos do primeiro escalão da ditadura militar.

A investigação confirmou que após o sequestro Ana Lídia foi levada para um sítio que pertencia ao senador Eurico Resende, então vice-líder da bancada da Aliança Renovadora Nacional (ARENA) - o partido político oficial dos militares. Testemunhas confirmaram que viram Ana Lídia em poder de Eduardo Ribeiro Resende (filho do senador Eurico Resende), de Alfredo Buzaid Júnior (filho de Alfredo Buzaid, Ministro da Justiça do governo de Garrastazu Médici) e do traficante de drogas Raimundo Lacerda Duque. Apurou-se também que o sequestro teria sido armado com o aval do irmão da menina, Álvaro Henrique Braga, que teria concordado em vendê-la para traficantes.

Assim que se apurou o envolvimento dos filhos de Eurico Resende e de Alfredo Buzaid no crime, o regime militar ordenou o fim imediato das investigações. Em 20 de maio de 1974, a Polícia Federal emitiu o seguinte comunicado: "De ordem superior, fica terminantemente proibida a divulgação através dos meios de comunicação social, escrito, falado, televisionado, comentários, transcrição, referências e outras matérias sobre o caso Ana Lídia".

A proibição de divulgar ou investigar o crime se manteve até o fim do regime militar. Somente treze anos após o assassinato, já no período da redemocratização, a jornalista Mônica Teixeira, da Vídeo Abril, deu início a uma investigação independente, conseguindo obter testemunhas e evidências que implicavam Alfredo Buzaid no caso, o que possibilitou a reabertura do inquérito policial. Entretanto, uma sucessão de imprevistos estranhos e mal esclarecidos e a súbita morte de algumas das testemunhas intimadas a depor impediu o avanço das investigações. A exumação do corpo não foi autorizada pela justiça e o processo foi novamente encerrado por "falta de provas".

Até hoje, o caso Ana Lídia não obteve desfecho e ninguém foi punido pelo crime. Em sua homenagem, uma área com um playground próxima à entrada do Setor Hoteleiro Sul de Brasília foi batizado como "Parque Ana Lídia". O túmulo da menina segue sendo um dos mais visitados no cemitério da cidade. Sua história se converteu em um símbolo da impunidade dos crimes cometidos por pessoas ligadas ao regime militar. 

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