O sacrifício de Domaldi


"O sacrifício de Domaldi", gravura de Erik Werenskiold.

Há um antigo ditado nórdico que diz que "a sorte do rei é a sorte da terra". A história de Domaldi, o Azarado, um dos reis lendários da Suécia, talvez seja uma das expressões mais significativas deste adágio.

Os reis lendários da Suécia são os monarcas que supostamente teriam reinado antes de Érico, o Vitorioso - o primeiro rei sueco cuja existência é atestada por fontes documentais. Não há registro historiográfico coevo sobre os reis lendários e suas histórias misturam acontecimentos reais com narrativas fantasiosas e elementos mitológicos - comprometendo a distinção entre o que é fato e o que é ficção nesses relatos.

Uma das principais fontes sobre os reis lendários é a chamada "Lista dos Inglingos", datada do século IX. Conforme a lista, a Suécia teria sido governada no século II d.C. por um rei chamado Domaldi. Herdeiro do trono, Domaldi seria filho de Visbur e neto de Valandro, ambos reis de destacada relevância na mitologia nórdica e adorados por seus súditos. Domaldi, entretanto, fora amaldiçoado ainda jovem por sua madrasta e seria responsável por um reinado bem mais atribulado do que seus antecessores.

Sempre segundo a "Lista dos Inglingos", o reinado de Domaldi foi marcado pelo colapso econômico da Suécia. O reino passou por uma sucessão de más colheitas e Domaldi, inepto, não tinha capacidade de gerenciar a crise. A pobreza e a fome se alastraram pelo reino, causando uma enorme insatisfação popular.

Domaldi acreditava que as más colheitas se deviam à fúria dos deuses, contrariados pela incredulidade e pelas poucas ofertas de sacrifícios feitas pelos súditos do reino. Assim, para aplacar a ira divina, Domaldi ordenou que todo o gado do reino fosse sacrificado. Os suecos seguiram a determinação do rei e ofereceram todos os seus bois para o abate durante um enorme ritual sagrado em Upsalir. O sacrifício, entretanto, de nada adiantou. A crise continuou a afligir o reino e o povo agora perdera o seu gado.

Domaldi afirmou que o sacrifício não fora o bastante e que os deuses estavam sedentos de sangue. Ordenou então que fossem realizados sacrifícios de seres humanos. Os sacerdotes seguiram a ordem e imolaram homens e mulheres em um novo ritual. Não obstante, a situação se agravou ainda mais: as colheitas se tornaram ainda mais pífias e o reino foi atingido por epidemias e doenças que se alastraram pela Suécia.

O rei ordenou mais um sacrifício humano, mas os chefes tribais, ditos Hövdingar, desobedeceram a ordem. Após uma reunião, os sacerdotes tentaram uma nova abordagem: oferecer o próprio rei Domaldi em sacrifício. O rei foi imolado e o seu sangue foi salpicado sobre as estátuas dos deuses nórdicos. Domar assumiu o reino. Dessa vez o sacrifício surtiu efeito. As epidemias finalmente foram debeladas e as boas colheitas retornaram, garantindo a prosperidade da Suécia por muitos e muitos anos.

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