Sérgio Buarque de Holanda
Sérgio Buarque de Holanda nasceu em São Paulo em 11 de julho de 1902, filho do farmacêutico pernambucano Cristóvão Buarque de Hollanda e da dona de casa fluminense Heloísa Gonçalves Moreira. Cursou o ensino básico da Escola Caetano de Campos e no Ginásio São Bento, onde foi aluno do historiador Afonso Taunay. Em 1921, mudou-se com a família para o Rio de Janeiro, onde passou a trabalhar como jornalista, crítico literário e editor. Tomou parte do Movimento Modernista em 1922, aproximando-se de Mário de Andrade e Oswald de Andrade e assumindo a função de representante da revista Klaxon. Após graduar-se em direito pela Universidade do Brasil (atual UFRJ), mudou-se para Berlim, atuando como correspondente d'O Jornal e analista político dos acontecimentos na Alemanha, Polônia e União Soviética. Durante sua estadia na Europa, aprofundou seus estudos em história e ciências sociais, além de traduzir obras alemãs para o português. Com a ascensão do nazismo, retornou ao Brasil.
Fixando residência no Rio de Janeiro, ingressou no cargo de professor assistente da extinta Universidade do Distrito Federal. Casou-se em 1936 com Maria Amélia Alvim, com quem teve sete filhos - Sérgio, Álvaro, Maria do Carmo e os músicos Ana de Hollanda, Cristina Buarque, Miúcha e Chico Buarque. Nesse mesmo ano, assumiu a vaga de professor de história na UFRJ e publicou o livro "Raízes do Brasil", clássico da historiografia brasileira e obra fundamental dos estudos sociológicos nacionais. A obra parte da teoria weberiana para analisar os reflexos da estrutura política e sociocultural do sistema colonial português na formação da sociedade brasileira, interpretando o surgimento do patriarcado rural e estabelecendo novos conceitos e modelos explicativos sobre a passionalidade do povo brasileiro ("homem cordial") e sobre o fenômeno da subordinação da esfera pública aos interesses privados de determinadas pessoas e grupos específicos ("patrimonialismo").
Em 1941, Sérgio visitou os Estados Unidos, atuando como professor visitante em diversas universidades. Em 1944, publicou "Cobra de Vidro", uma compilação de ensaios e artigos publicados na imprensa nas décadas anteriores. No ano seguinte, lançou o livro "Monções", versando sobre o Brasil Colonial. Colaborou como crítico literário para diversos jornais e revistas e foi um dos fundadores da Associação Brasileira de Escritores. Também trabalhou no Instituto Nacional do Livro e na Biblioteca Nacional. Em 1946, retornou a São Paulo, assumindo a direção do Museu do Ipiranga. Ficou neste cargo até 1956, tendo sido responsável por empreender uma importante reforma museológica que conferiu à instituição o atual caráter de museu histórico. Em paralelo, ocupou o posto de professor na cátedra de história econômica na Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Viajou para a Itália em 1953, onde permaneceu por dois anos lecionando na Universidade de Roma.
Em 1958, Sérgio assumiu a cadeira de História da Civilização Brasileira na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP). No mesmo período, publicou "Caminhos e Fronteiras" e "Visão do Paraíso", ambos abordando temas relacionados à colonização do Brasil. Foi eleito membro da Academia Paulista de Letras em 1958 e homenageado com o Prêmio Edgar Cavalheiro do Instituto Nacional do Livro. Em 1960, tornou-se coordenador do projeto "História Geral da Civilização Brasileira", para o qual contribuiria com diversos escritos. Fundou ainda o Instituto de Estudos Brasileiros da USP em 1962.
Após o golpe militar de 1964, atuou como professor convidado em uma série de universidades estrangeiras e integrou as missões culturais da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) na Costa Rica e no Peru. De volta ao Brasil, demitiu-se da USP em 1969, em protesto contra a promulgação do Ato Institucional N.º 5 (AI-5), que havia cassado os direitos políticos e determinado a aposentadoria compulsória de alguns de seu colegas professores. Ao lado de Oscar Niemeyer e outros intelectuais, ingressou no Centro Brasil Democrático (Cebrade), organização de oposição à ditadura militar ligada ao Partido Comunista Brasileiro (PCB).
Mesmo desligado da USP, Sérgio seguiu atuando como tradutor, articulista, ensaísta e editor ao longo dos anos setenta. Em 1972, publicou "Do Império à República", obra de história política abordando a crise do Império do Brasil no final do século XIX. Também lançou "Vale do Paraíba - Velhas Fazendas" e a coletânea "Tentativas de Mitologia". Voltou a lecionar como professor visitante nas universidades de Nova York, Columbia, Yale e Harvard e permaneceu intelectualmente ativo até o fim da vida. Foi condecorado com o Prêmio Juca Pato da União Brasileira de Escritores e com o Prêmio Jabuti de Literatura da Câmara Brasileira do Livro. Foi um dos membros fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT) em 1980, participando do ato de fundação da legenda no Colégio Sion e recebendo a terceira carteira de filiação do partido, após Mário Pedrosa e Antonio Candido. Faleceu dois anos depois, em 24 de abril de 1982, aos 79 anos.
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