A Revolução de Outubro e o Dia do Trabalhador
Lenin conversa com Vladimir Zagorsky, secretário do comitê do Partido Comunista em Moscou, durante uma manifestação do Dia do Trabalhador. Moscou, Rússia, 1º de maio de 1919.
O Dia do Trabalhador foi instituído em 1891 pela Segunda Internacional, como uma homenagem aos operários e mártires da Revolta de Haymarket, responsáveis por organizar a histórica greve geral de Chicago, em 1º de maio de 1886. A repressão brutal à mobilização dos trabalhadores e a condenação de cinco anarquistas à pena de morte por enforcamento, em um processo enviesado e sem provas, causou comoção e consternação no movimento operário internacional. A data passou a ser então um dia de afirmação das lutas operárias e das reivindicações do proletariado em todo o mundo.
Em paralelo à Revolta de Haymarket, o movimento operário começava a se organizar politicamente na Rússia. Já em 1896, Lenin publicava um panfleto sobre o 1º de maio, chamando a classe operária à paralisação e defendendo a importância da organização política do operariado. As primeiras greves e passeatas do Dia do Trabalhador eram relativamente pacíficas e restritas aos grandes centros urbanos da Rússia. O massacre brutal dos grevistas russos pelas tropas do czar Nicolau II durante o Domingo Sangrento, entretanto, estabeleceu um ponto de inflexão, radicalizando a classe operária e alimentando o ressentimento contra a aristocracia russa e seus aparelhos repressivos. A subsequente Revolução de 1905 aprofundou a cisão entre o proletariado russo e o regime czarista e, mesmo sendo mal sucedida, conferiu prestígio às lideranças bolcheviques. Os anos seguintes foram marcados pela agitação política, massivas greves gerais, paralisações e levantes populares de todo tipo.
Banido pelo regime czarista, o Dia do Trabalhador tornou-se a principal data de luta da classe operária na Rússia. Operários demandavam a redução da jornada de trabalho para oito horas diárias, instituição do descanso semanal remunerado e várias outras reivindicações comuns às pautas proletárias da Primeira Internacional. As manifestações e greves gerais eram frequentemente lideradas pelos revolucionários bolcheviques, que exortavam os trabalhadores a se sublevarem contra o patronato e o czar.
O empresariado ameaçava os trabalhadores com sanções caso comparecessem às passeatas e a polícia buscava debelar as manifestações com brutalidade cada vez maior. Não obstante, as manifestações do Dia do Trabalhador tornavam-se mais e mais volumosas e assertivas a cada ano. O jornal "Gazeta Russa" registrou o clima em uma passeata em Moscou — o Dia do Trabalhador de 1914, poucos meses antes do início da Primeira Guerra Mundial. "Às 16h, a bandeira vermelha foi hasteada e canções revolucionárias ressoavam na Praça Lubyanka. Grandes unidades de gendarmes e policiais raivosos se mobilizavam contra os manifestantes. Houve muito tumulto e os trabalhadores atacaram os gendarmes com pedras".
Com o triunfo dos bolcheviques na Revolução de Outubro de 1917, o governo da Rússia soviética implementou de imediato as pautas reivindicadas pela classe operária desde o século XIX — redução da jornada de trabalho para oito horas diárias, descanso semanal remunerado, proibição do trabalho infantil e até mesmo inovações como as férias laborais remuneradas, instituída com décadas de antecedência em relação às potências ocidentais, ou a rede de equipamentos clínico-recreativos para usufruto dos trabalhadores (os chamados "sanatórios"). O Dia do Trabalhador, antes proibido, tornou-se uma celebração oficial do governo revolucionário. Lenin discursou nas primeiras manifestações após a oficialização da data, sempre conclamando os trabalhadores a se rebelarem contra a burguesia e o capitalismo, aderindo às greves ou pegando em armas. Nas décadas seguintes, após a fundação da União Soviética, o Dia do Trabalhador se converteu no segundo evento cívico mais importante do país, atrás apenas do aniversário da Revolução de Outubro.
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