Lenin e o Dia do Trabalhador


Reproduzimos abaixo o panfleto de Lenin sobre o Dia do Trabalhador escrito em 1896, para a União de Luta pela Emancipação da Classe Trabalhadora:

"Camaradas! Olhemos cuidadosamente para as condições da nossa vida; observemos o ambiente em que passamos os nossos dias. O que é que vemos? Trabalhamos arduamente; criamos riqueza ilimitada, ouro e tecidos ricos, brocados e veludo; escavamos ferro e carvão das entranhas da terra; construímos máquinas, navios, castelos, caminhos-de-ferro. Toda a riqueza do mundo é criada pelas nossas mãos, é obtida pelo nosso suor e sangue.

E que recompensa recebemos pelo nosso trabalho árduo? Se houvesse justiça, deveríamos viver em excelentes casas, usar boas roupas, e, de forma alguma, ficarmos à espera do pão nosso de cada dia. Mas, todos sabemos, muito bem, que o nosso salário dificilmente é suficiente sequer para o mínimo necessário para nossa existência. Os nossos patrões rebaixam os níveis salariais, nos obrigam a trabalhar durante longas jornadas e, ainda, nos multam injustamente.

Numa palavra, nos oprimem de todas as maneiras possíveis e, em caso de insatisfação da nossa parte, nos demitem imediatamente. Descobrimos, repetidamente, que aqueles a quem nos dirigimos para termos proteção são amigos e lacaios dos nossos patrões. Nós, os trabalhadores somos mantidos na ignorância, a educação nos é negada, para que não possamos aprender a lutar para melhorar as nossas condições. Eles nos prendem a amarras, nos descartam sem o menor pretexto, encarceram e exilam qualquer pessoa que ofereça resistência à opressão e nos proíbem de lutar. Ignorância e servidão – estes são os meios pelos quais os capitalistas e o governo, sempre ao seu serviço, nos mantêm subjugados.

Que meios temos para melhorar as nossas condições, aumentar os nossos salários, reduzir a nossa jornada de trabalho, nos protegermos de abusos, ler livros inteligentes e úteis Todos estão contra nós – os patrões (pois quanto pior estivermos, melhor eles vivem), e todos os seus lacaios, todos aqueles que vivem da generosidade dos capitalistas e que, a seu bel-prazer, nos mantêm na ignorância e servidão.

Não podemos procurar por ninguém que possa nos ajudar; só podemos confiar em nós próprios. A nossa força reside na união; a nossa salvação na resistência unida, teimosa, e enérgica aos nossos exploradores. Há muito que eles compreenderam onde reside a nossa força, e tem tentado, de todas as maneiras, nos manter divididos, e não permitir que compreendamos que nós, trabalhadores, temos interesses em comum.

Cortam os salários, não todos de uma só vez, mas um, de cada vez. Colocam capatazes sobre nossas costas, introduzem o trabalho por empreitada [ou temporário]; e, gargalhando nas nossas costas, divertem-se com a forma como nós, trabalhadores, nos esforçamos para executar nosso trabalho, baixando os nossos salários pouco a pouco.

Mas, nada dura para sempre; a mudança é inevitável. Há um limite para a paciência [para aquilo que se pode suportar]. Durante o ano passado, os trabalhadores russos mostraram aos seus patrões que a submissão servil pode ser transformada na ardente coragem de homens que não se submeterão mais à insolência dos capitalistas gananciosos pelo trabalho não remunerado.

Em várias cidades foram registradas greves, como em Yaroslavl, Taikovo, Ivanovo-Voznesensk, Belostok, Vilna, Minsk, Kiev, Moscou, dentre outras cidades. A maioria das greves terminou com vitórias para os trabalhadores, mas mesmo as greves mal sucedidas são apenas aparentemente infrutíferas. Na realidade, elas assustam terrivelmente os patrões, causam-lhes grandes perdas e os forçam a conceder concessões, por receio de uma nova greve.

Os inspetores [supervisores] da fábrica também começam a se mexer [a ficar mais espertos] e a reparar que os capitalistas são muito mais falhos do que aqueles que eles apontam como desprovidos de qualidades. Ficam cegos até os seus olhos sejam abertos pelos trabalhadores que convocam uma greve. É quando, de fato, os inspetores de fábrica percebem a má gestão nas fábricas de personagens tão influentes como o Sr. Thornton ou os acionistas da fábrica Putilov.

Também em São Petersburgo, criamos problemas para os patrões. A greve dos tecelões na fábrica de Tornton, dos trabalhadores na fabricação de cigarro nas fábricas de Laferm e Lebedev, dos trabalhadores da fábrica de calçados, a agitação entre os trabalhadores das fábricas de Kenig e Varonin e entre os trabalhadores das docas, e, finalmente os recentes distúrbios em Sestroretsk [distrito da então capital São Petersburgo] provaram que deixamos de ser mártires submissos, e partirmos para a luta.

Como é sabido, os trabalhadores de muitas fábricas e oficinas organizaram a “União de Luta pela Emancipação da Classe Trabalhadora”, com o objetivo de expor todos os abusos, de erradicar a má gestão, de lutar contra as opressões insolentes dos nossos exploradores sem escrúpulos, e de conseguir a libertação total do seu poder.

A “União” distribui panfletos, à vista dos quais os patrões e os seus fiéis lacaios tremem nas suas botas. Não são os panfletos, em si, que os assustam; mas a possibilidade da nossa resistência unida, da demonstração do nosso gigantesco poder, que nós já lhes mostramos muito mais de uma vez.

Nós, trabalhadores de São Petersburgo, membros da “União”, convidamos os demais trabalhadores a juntarem-se à nossa “União” e a promover a grande causa de união dos trabalhadores para uma luta pelos seus próprios interesses. É tempo de nós, trabalhadores russos, quebrarmos as correntes com que os capitalistas e o governo nos mantêm presos, a fim de nos mantermos subjugados. Já é tempo de nos juntarmos à luta dos nossos irmãos, os trabalhadores de outras terras, para estarmos com eles sob uma bandeira comum sobre a qual está inscrita: “Trabalhadores do mundo, uni-vos!”

Na França, Grã-Bretanha, Alemanha e outros países, onde os trabalhadores já se uniram em fortes sindicatos e ganharam muitos direitos, estabeleceram o 19 de abril, o Primeiro de Maio no estrangeiro [Antes da Revolução de Outubro, o calendário russo estava 13 dias atrasado em relação ao Oeste Europeu], como feriado geral da classe trabalhadora.

Abandonando as fábricas abafadas, os trabalhadores marcham em fileiras sólidas, com colunas [dos distintos setores e categorias] e faixas, ao longo das principais ruas das cidades; mostrando aos patrões toda a força do seu poder crescente. Reúnem-se em encontros com numerosas pessoas, onde são proferidos discursos, relembrando as vitórias sobre os patrões no ano anterior e indicando os planos de luta no futuro.

Com medo de que ocorra uma greve, nem um único dono de fábrica multa os trabalhadores pela ausência do trabalho neste dia. Neste dia, os trabalhadores também recordam aos patrões a sua principal reivindicação: a jornada de trabalho de oito horas – 8 horas de trabalho, 8 horas de descanso e 8 horas de lazer. Isto é o que os trabalhadores de outros países estão exigindo, agora.

Houve um tempo, e não há muito tempo, em que eles, como nós, agora, não tinham o direito de fazer com que suas reivindicações fossem sequer apresentadas. Eles também estavam sendo massacrados pelas carências e faltava-lhes unidade, tal como nós, agora.

Mas eles, através de uma luta obstinada e pesados sacrifícios, ganharam para si próprios o direito de discutir, em conjunto, os problemas da causa dos trabalhadores. Enviamos os nossos melhores votos aos nossos irmãos de outras terras para que a sua luta os conduza rapidamente à desejada vitória, ao tempo em que não haverá senhores nem escravos, nem trabalhadores nem capitalistas, mas todos trabalharão de forma igual e todos desfrutarão da vida da mesma forma.

Camaradas! Se nos esforçarmos enérgica e sinceramente para nos unirmos, não estará muito distante o momento quando nós, tendo unido as nossas forças em fileiras sólidas, seremos capazes de nos unirmos abertamente nesta luta comum dos trabalhadores de todas as terras, sem distinção de raça ou credo, contra os capitalistas de todo o mundo.

E nossos braços enrijecidos serão levantados bem altos e as infames correntes da servidão cairão por terra. Os trabalhadores da Rússia surgirão, e os capitalistas e o governo, que serve e ajuda, sempre zelosamente, os capitalistas, serão atingidos pelo terror!

19 de abril de 1896

União de Luta pela Emancipação da Classe Trabalhadora".

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