A Batalha de Puebla e o Cinco de Maio


"Batalha de Puebla", tela do pintor mexicano Patricio Ramos Ortega. A obra retrata a a vitória militar do México sobre a França, ocorrida em 5 de maio de 1862, durante a Segunda Intervenção Francesa. A vitória mexicana — a primeira contra o exército de uma potência ocupante — é celebrada anualmente nos festejos de "Cinco de Mayo".

A Batalha de Puebla foi o conflito inicial da Segunda Intervenção Francesa em território mexicano — por sua vez, expressão do oportunismo imperialista da França, tentando se beneficiar da grave situação de instabilidade política que afligia o México em meados do século XIX. A nação latino-americana estava mergulhada em crise financeira, conflitos armados e disputas internas pelo poder, com sucessivos golpes de Estado. Humilhado pelos Estados Unidos durante a Guerra Mexicano-Americana, o México teve suas forças armadas devastadas e foi obrigado a ceder metade do seu território para os estadunidenses. Mal assinara o armistício com os Estados Unidos, o país adentrou em outra disputa — a Guerra da Reforma, conflito civil entre conservadores e liberais, motivado por divergências sobre o papel da Igreja Católica e do modelo político do país.

Ao término desses conflitos, o país estava arruinado, com suas finanças falidas e quase em estado de anomia política. Assim, em 17 de julho de 1861, o presidente mexicano Benito Juárez decretou moratória, suspendendo o pagamento da dívida externa mexicana por dois anos. As potências coloniais europeias, entretanto, não aceitaram a moratória. Reino Unido, Espanha e França enviaram suas esquadras navais até o litoral do México, visando pressionar Juárez a retomar os pagamentos, sob ameaça de intervenção militar. O governo mexicano conseguiu negociar o pagamento com os britânicos e os espanhóis, que aceitaram retirar suas forças navais.

A França, entretanto, então governada pelo imperador Napoleão III, viu na crise diplomática uma oportunidade de expandir seus domínios coloniais nas Américas. Mesmo após o México concordar em pagar a dívida em prestações, Napoleão III ordenou a invasão do país, objetivando depor o governo republicano constitucional e instaurar o Segundo Império Mexicano, subordinando o país ao controle da Casa de Habsburgo e aos interesses econômicos e políticos da França. Em 8 de dezembro de 1861, as tropas francesas tomaram a cidade portuária de Veracruz. Em seguida, após ocuparem o litoral oriental do país, os franceses começaram a marchar rumo à capital, a Cidade do México, para depor o governo de Benito Juárez.

Seguro da superioridade francesa em relação às tropas mexicanas, o general Charles Ferdinand Latrille, Conde de Lorencez, previu que não haveria resistência significativa ao avanço de seu exército. Estava enganado. Os mexicanos haviam ligado os fortes de Guadalupe e Loreto com trincheiras defensivas ao longo das estradas e aproveitaram os desfiladeiros nos arredores de Puebla para surpreender os invasores franceses com ataques-surpresa, liderados pelo general Ignacio Zaragoza. O exército francês, à época considerado um dos melhores e mais bem equipados do mundo, tinha o dobro de combatentes das tropas mexicanas — mal equipadas e reduzidas desde a guerra contra os Estados Unidos. Mesmo assim, os mexicanos conseguiram forçar o recuo dos soldados de Latrille.

Milícias indígenas Zacapoaxtla e Xochiapulco, armadas apenas com machetes, conseguiram romper parte das linhas francesas enquanto a cavalaria mexicana flanqueava os invasores. Os franceses se reagruparam por duas vezes para tentar contra-atacar, mas foram novamente neutralizados. À noite, uma forte tempestade de granizo atingiu os invasores e o solo convertido em lama transformou-se em um novo obstáculo para o avanço da artilharia de Latrille. Com tudo dando errado, os franceses desistiram de tentar tomar Puebla, retirando-se para Orizaba. Era a primeira vitória do México em batalha contra uma potência imperialista e a primeira derrota sofrida pelo exército francês em 50 anos.

A vitória representou um importante impulso moral para o exército mexicano, mas foi curta. A França reforçou suas tropas com o envio suplementar de 30.000 soldados, derrotando no ano seguinte as forças mexicanas, capturando a Cidade do México e estabelecendo Maximiliano I como imperador do país. Não obstante, o triunfo francês também duraria pouco. Em 1867, as tropas mexicanas expulsaram os franceses e Maximiliano I foi fuzilado com seus generais no Cerro de las Campanas.

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