Beth Carvalho


A cantora, compositora e instrumentista Beth Carvalho apontando para um quadro de Che Guevara em sua casa. Alcunhada "Madrinha do Samba", Beth Carvalho foi uma das artistas de maior prestígio e popularidade da história do Brasil.

Beth Carvalho nasceu no Rio de Janeiro, em 5 de maio de 1946, uma família engajada política e artisticamente. Seu pai, João Francisco Leal de Carvalho, era militante comunista e amigo de artistas como Elizeth Cardoso, Silvio Caldas e Aracy de Almeida. A mãe, Maria Nair Santos, era pianista. O avô, Ressu, era tocador de bandolim. Após ganhar um violão de sua mãe, Beth se interessou pela batida de João Gilberto e passou a frequentar ensaios de escolas e rodas de samba. Ainda adolescente, começa a dar aulas de música e a cantar e tocar em encontros nas casas de artistas como Tom Jobim e Marcos Valle.

Iniciou sua carreira profissional cantando bossa nova. Em 1965, lançou seu primeiro compacto, com as músicas "Por Quem Morreu de Amor" e "Namorinho". Em 1966, cantou seus primeiros sambas, ao lado de Nelson Sargento e Noca da Portela. Foi integrante do Conjunto 3D e participou dos grandes festivais musicais — o Festival Internacional da Canção (onde conquistou o terceiro lugar com a música "Andança"), o Festival Universitário e o Festival Brasil Canta no Rio, entre outros. Dividindo os vocais com o trio Golden Boys, impressionou o público com seu timbre grave, a impostação forte e a naturalidade da sua interpretação.

Em 1973, obteve grande sucesso com o LP "Canto Por um Novo Dia" e gravou "Folhas Secas", composta especialmente para si por Nelson Cavaquinho. Em 1976, também gravou "As Rosas Não Falam", de Cartola, canção inclusa em seu quinto álbum, "Mundo Melhor". O disco "De Pé No Chão", lançado em 1978, é outro importante marco de sua carreira, mesclando samba de estúdio com elementos musicais das rodas de pagode do bloco Cacique de Ramos, trazendo importantes inovações na instrumentação do samba, como a adaptação do banjo, o repique de mão e a levada do Tantã. A canção "Vou Festejar", presente no LP, ajudou a popularizar o pagode nos anos oitenta.

Beth Carvalho se empenhou em divulgar o samba e tornou-se porta-voz dos compositores oriundos do bloco Cacique de Ramos. Fomentou a carreira de vários talentos, recebendo por isso a alcunha de "Madrinha do Samba": Fundo de Quintal, Zeca Pagodinho, Almir Guineto, Arlindo Cruz, Luiz Carlos da Vila, Jorge Aragão e até mesmo Bezerra da Silva. No mesmo período, gravou o sucesso "Coisinha do Pai", de Jorge Aragão, Almir Guineto e Luís Carlos. Em 1997, a canção esteve entre as obras selecionadas para ser enviada ao espaço pela NASA.

Ao todo, Beth Carvalho gravou 31 discos, dois DVDs e apresentou-se em shows em todos os continentes. Entre as apresentações históricas em que tomou parte, estão a "Olimpíada Mundial da Canção" em Atenas (em que representou o Brasil e ganhou um busto em sua homenagem), o show do Carnegie Hall em Nova York, a apresentação em Varadero (Cuba), e o show em Soweto (África do Sul). Sua carreira musical foi incluída como parte do currículo acadêmico na Faculdade de Música de Kyoto, no Japão. Beth Carvalho recebeu 17 discos de ouro, 9 de platina e 6 Prêmios Sharp.

Militante política ativa, Beth Carvalho considerava que o socialismo "é único modelo que pode salvar a humanidade." Exaltava as conquistas da Revolução Cubana e era admiradora de Che Guevara, Fidel Castro, Leonel Brizola e Hugo Chávez. Era presidente de honra do Partido Democrático Trabalhista (PDT), mas apoiou todas as campanhas presidenciais do Partido dos Trabalhadores (PT) desde a década de oitenta. Também apoiou o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e o movimento Lula Livre.

Beth Carvalho era ferrenha crítica do imperialismo estadunidense e acusava a CIA de estar interessada em acabar com o samba, "travando uma guerra contra a cultura brasileira". Em uma entrevista concedida ao portal IG em 2011, a sambista declarou: "Os Estados Unidos querem dominar o mundo através da cultura. Estas armas dos morros vêm de onde? Vem tudo de fora. Os Estados Unidos colocam armas aqui dentro para acabar com a cultura dos morros, nos fazendo achar que é paranoia da esquerda. Mas não é, não." Na mesma ocasião, criticou o discurso da legitimação das ditas "democracias" liberais burguesas e refutou as acusações de que Cuba seria uma ditadura: "Cuba não precisa ter mais que um partido. É um partido contra todo o imperialismo dos Estados Unidos. Aqui a gente está acostumada a ter vários partidos e acha que isso é democracia."

Beth Carvalho faleceu no Rio de Janeiro em 30 de abril de 2019, aos 72 anos.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Othon Pinheiro, Lava Jato e Programa Nuclear Brasileiro

Explosão da Base de Alcântara

Evolução do PIB per capita da antiga União Soviética