Farabundo Martí


O revolucionário salvadorenho Farabundo Martí retratado em 1929. Farabundo foi o fundador do Partido Comunista Salvadorenho e líder do Levante Camponês de 1932.

Farabundo Martí nasceu em 5 de maio de 1893 em Teotepeque, uma pequena comunidade agrícola localizada no departamento de La Libertad, em El Salvador. Após concluir o ensino básico em um colégio salesiano de Santa Tecla, Farabundo ingressou no curso de ciência política e jurisprudência da Universidade de El Salvador. Durante a graduação, teve seus primeiros contatos com as teorias socialistas e começou a analisar de forma crítica a exploração da classe trabalhadora salvadorenha e os privilégios da burguesia. Abandonou então o curso na Universidade de El Salvador e aderiu à luta camponesa. Em 1920, Farabundo foi preso junto com um grupo de estudantes após organizar um protesto contra os governos autoritários de Jorge Meléndez e Alfonso Quiñónez Molina. Forçado a se exilar do país, fixou-se na Guatemala e posteriormente no México, retornando a El Salvador em 1925.

Após voltar do exílio, Farabundo assumiu o cargo de representante local da Liga Anti-Imperialista das Américas. Foi novamente preso após comparecer à conferência da organização sediada em Nova York. Ao lado de Miguel Mármol, Farabundo foi um dos fundadores do Partido Comunista Salvadorenho (PCS), criado em 1930. Nomeado dirigente do partido e delegado da Internacional Comunista, Farabundo travou contato com o líder revolucionário nicaraguense Augusto César Sandino, auxiliando-o na organização do movimento de resistência contra a ocupação militar dos Estados Unidos na Nicarágua. Farabundo também fundou a seção local do Socorro Vermelho Internacional — organização de serviço social ligada à Internacional Comunista, responsável por fornecer ajuda material aos trabalhadores e aos prisioneiros políticos.

A Quebra da Bolsa de Valores de Nova York em 1929 e a Grande Depressão derrubaram os preços do café no mercado internacional. Fortemente dependente da exportação da commodity, El Salvador mergulhou em uma profunda recessão, levando ao aumento exponencial do desemprego e da miséria. O governo respondeu à crise fiscal aplicando medidas que puniam a classe trabalhadora e incentivavam a concentração fundiária, passando a confiscar as terras de pequenos produtores a fim de transferi-las para os grandes latifundiários. Farabundo dedicou-se a denunciar as ações injustas do governo salvadorenho, ao mesmo tempo em que fornecia importante ajuda aos camponeses depauperados, por intermédio das ações do Socorro Vermelho. O trabalho de base de Farabundo lhe garantiu amplo apoio entre os trabalhadores e camponeses, que aos poucos começaram a aderir ao discurso revolucionário. Incomodado com a crescente popularidade de Farabundo e com os rumores de que o dirigente pretendia se candidatar à presidência nas eleições seguintes, o governo de El Salvador o forçou novamente ao exílio em dezembro de 1930.

Logo após o pleito de 1931, Farabundo Martí retornou a El Salvador, reassumindo suas funções como secretário-geral do PCS. Poucos meses depois, Maximiliano Hernández Martínez, líder do partido fascista Legião Nacional Pró-Pátria, assumiu a presidência de El Salvador por meio de um golpe militar. Farabundo iniciou então um movimento revolucionário, organizando uma guerrilha de camponeses indígenas e pequenos agricultores, contrariados com as ações governamentais de favorecimento aos grandes proprietários de terra. Em 1932, teve início o Levante Camponês, com protestos e revoltas em todo o país. Camponeses e indígenas atacaram instalações militares e tomaram quartéis e edifícios governamentais, enquanto os dirigentes do PCS conclamavam as massas à sublevação. O movimento revolucionário obteve sucesso momentâneo, mas o governo salvadorenho logo recebeu auxílio material e logístico dos Estados Unidos para sufocar o levante.

Contando com a ajuda estadunidense, os militares salvadorenhos conseguiram esmagar a revolta popular em algumas semanas. A repressão evoluiu para um genocídio brutal, denominado "La Matanza", resultando no assassinato de aproximadamente 40.000 pessoas, a grande maioria indígenas. O massacre quase exterminou por completo a nação indígena pipil. Os militares salvadorenhos adotaram uma política de execução sumária de todas as pessoas com traços indígenas que encontravam pelo caminho, deixando pilhas de cadáveres pelas ruas dos vilarejos. Com a anuência de Maximiliano Hernández Martínez, as forças de repressão abusavam da crueldade, cometendo atos de tortura e executando idosos, mulheres e crianças com golpes de facão. Houve posteriormente a aprovação de uma legislação de repressão da cultura indígena, com a proibição da comunicação em línguas nativas e o banimento dos costumes e hábitos dos povos tradicionais.

Farabundo Martí foi capturado pelos militares e condenado à morte após um julgamento farsesco. Foi fuzilado pelo exército salvadorenho no dia 1º de fevereiro de 1932. Os demais líderes da revolta também foram executados — incluindo o indígena Feliciano Ama, o dirigente Francisco Sánchez e os estudantes universitários Mario Zapata e Alfonso Luna. Mesmo após a execução das lideranças, a revolta popular e o massacre levado a cabo pelas forças armadas se estenderam por mais alguns meses, até o término definitivo do conflito em julho de 1932.

Farabundo Martí segue como um dos maiores nomes símbolos de resistência da esquerda salvadorenha e inspiração para organizações revolucionárias latino-americanas. É o patrono da Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional (FMLN), grupo guerrilheiro convertido em partido político em 1992, e das Forças Populares de Libertação Farabundo Martí.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Othon Pinheiro, Lava Jato e Programa Nuclear Brasileiro

Explosão da Base de Alcântara

Evolução do PIB per capita da antiga União Soviética