Os grafites soviéticos no Reichstag
Em 2 de maio de 1945, o Exército Vermelho anunciava a captura de Berlim, após a rendição das últimas unidades leais ao Terceiro Reich ainda ativas na capital alemã. A Batalha de Berlim foi a última grande ofensiva militar no teatro europeu da Segunda Guerra Mundial, encerrando a impressionante contraofensiva construída pela União Soviética desde a Batalha de Stalingrado e consolidada após destruição das principais divisões alemãs na Operação Bagration. Reagindo aos invasores nazistas, as tropas soviéticas derrotaram os alemães em todas as frentes do Leste Europeu, dos países nórdicos e da Europa Central. Em seguida, invadiram a Alemanha e cercaram Berlim, que capitulou dois dias após o suicídio de Adolf Hitler.
Na manhã do dia 2 de maio, os soldados soviéticos tomaram o Palácio do Reichstag — a sede do parlamento alemão. Embora a essa altura o edifício já estivesse desocupado, a tomada do prédio público mais representativo da Alemanha era um ato de grande simbolismo e um poderoso emblema da derrota nazista. Doze anos antes, em fevereiro de 1933, o incêndio do Reichstag em uma operação de bandeira falsa servira de justificativa para que Hitler suspendesse as garantias constitucionais, consolidando a ditadura nazista.
Após tomarem o palácio, os soldados soviéticos encheram as paredes do edifício com inscrições, utilizando giz, tinta ou fuligem da madeira carbonizada. A maioria dos grafites são nomes dos soldados que tomaram Berlim: “Ivanov”, “Pyotr”, “Boris Victorovich Sapunov”, e muitos outros. Outras inscrições marcam datas e o percurso dos soldados ("Moscou-Smolensk-Berlim, maio de 1945"). Os soldados expressaram sentimentos, pensamentos e desabafos. Há homenagens aos colegas que tombaram no campo de batalha, nome dos pais, esposas e filhos que ficaram na União Soviética, o nome de suas cidades-natal. Outros grafites são mais mundanos, registrando observações inusitadas sobre a Alemanha, como o valor da tarifa padrão do banheiro público. Muitos são xingamentos aos nazistas, incluindo alguns impublicáveis.
A maior parte das inscrições foi removida após a reconstrução do Reichstag, mas os grafites e buracos de bala de algumas alas internas foram preservados como registros históricos. Não obstante, ficaram por décadas ocultados por painéis de gesso e paredes falsas. Em 1995, durante a reforma conduzida pelo arquiteto britânico Norman Foster, os painéis foram removidos, revelando os grafites originais e causando uma polêmica sobre o que fazer com as inscrições. Parlamentares conservadores consideraram que os grafites eram uma "humilhação" para a Alemanha e propuseram a remoção das inscrições. Prevaleceu, entretanto, o parecer dos historiadores e arquitetos sobre a necessidade de preservação dos registros. Vários novas tentativas de remover os grafites ocorreram desde então — a principal delas encampadas por um projeto de lei levado ao plenário em 2002. Até o momento, as inscrições, tal qual os soldados que as produziram, têm resistido heroicamente às investidas da direita alemã.
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