A Liga de Defesa Nacional


Manifestantes da Liga de Defesa Nacional parabenizam a União Soviética e os pracinhas da Força Expedicionária Brasileira pelas vitórias obtidas sobre a Alemanha nazista durante a Segunda Guerra Mundial. Rio de Janeiro, 23 de março de 1945.

A Liga de Defesa Nacional é uma organização da sociedade civil fundada no Rio de Janeiro em 1916, por iniciativa de um grupo de intelectuais liderados por Pedro Lessa, Miguel Calmon e Olavo Bilac, com apoio formal do então presidente Venceslau Brás. Fortemente influenciada pelo pensamento conservador, a instituição tinha como objetivo inicial a promoção do ideário nacionalista, do militarismo e do culto às tradições. A liga tinha forte atuação na sociedade, articulando campanhas cívicas, organizando palestras, distribuindo panfletos e publicando livros. Foi responsável, por exemplo, por organizar a campanha que levou à implementação do Serviço Militar Obrigatório no Brasil. Também combateu intensamente as greves e comícios do movimento operário, rotulando-os como "subversão provocada por elementos estrangeiros".

A organização passaria por uma mudança radical em seu perfil durante a Era Vargas. O processo de fechamento político, iniciado após a neutralização do Levante Comunista de 1935 e consolidado após a instauração do Estado Novo, levou à suspensão dos direitos civis e ao banimento dos partidos políticos e dos movimentos sociais, acompanhado do recrudescimento dos aparelhos repressivos e da censura. Com suas organizações dissolvidas pelo governo, esquerdistas de diversas tendências (socialistas, comunistas, trotskistas) passaram a se aproximar das associações civis que permaneciam ativas para tentar articular um espaço institucional de luta contra o regime Vargas e contra o avanço do pensamento fascista. A Liga de Defesa Nacional foi uma das organizações que recebeu inadvertidamente esse afluxo de novos membros, passando a abrigar diversos militantes do então clandestino Partido Comunista do Brasil (antigo PCB).

A Liga de Defesa Nacional também passou a ser disputada por egressos de organizações integralistas, simpatizantes do fascismo e por liberais. Essa amálgama conferiu à instituição caraterísticas bem peculiares e contraditórias. Os comunistas, entretanto, conseguiram conduzir um processo mais eficaz de cooptação da pauta política da entidade, malgrado a permanência de características moralmente conservadoras e do discurso militaresco e ufanista. Após o início da Segunda Guerra Mundial em 1939, a organização se tornou um dos principais movimentos civis de articulação da luta antifascista. A entidade promovia conferências públicas sobre os perigos do fascismo em grandes casas comerciais, fábricas e escolas e passou a atrair o apoio de intelectuais, estudantes, profissionais liberais, operários e sindicalistas.

A Liga de Defesa Nacional liderou o movimento de conscientização da população contra os países do Eixo e pressionou o regime Vargas a abandonar a alegada neutralidade, denunciando sua postura vacilante em relação aos regimes nazifascistas. Após o rompimento das relações diplomáticas com os países do Eixo e o afundamento de navios mercantes brasileiros por submarinos alemães, a organização liderou nacionalmente três campanhas: o envio de uma força expedicionária para auxiliar os Aliados (concretizado em 1944), a criação de um esforço de guerra para arcar com as necessidades do conflito, e o "ajudismo", isso é, a coleta de auxílio material aos soldados brasileiros.

Em maio de 1943, a Liga de Defesa Nacional organizou em conjunto com a União Nacional dos Estudantes (UNE) a Semana Antifascista, importante evento de conscientização política, que incluiu solenidades e aulas públicas, visitas aos túmulos das vítimas do integralismo e um julgamento simbólico de Plínio Salgado, líder da Ação Integralista Brasileira (AIB). Durante todo o conflito, a organização seguiu arregimentando o apoio popular à causa antifascista e angariando apoio material para o esforço de guerra.

Após o fim da Segunda Guerra Mundial e o processo de redemocratização, os partidos e movimentos políticos previamente banidos foram legalizados e reestruturados. Com isso, a organização foi esvaziada. Os comunistas e socialistas retornaram ao PCB, os liberais foram para a União Democrática Nacional (UDN) e os trabalhistas se organizaram no Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). A organização retomou seu perfil conservador original, voltando à rotina de promoção de campanhas moralizantes, patrióticas e ufanistas.

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