Dia da Vitória em Moscou
Dia da Vitória: um show de luzes e fogos de artifício iluminam a multidão que se concentra na Praça Vermelha para celebrar o anúncio da rendição da Alemanha nazista. Moscou, União Soviética, 9 de maio de 1945.
Não há registro de nenhum outro evento que tenha sido celebrado com tanto entusiasmo na União Soviética quanto a vitória sobre o Terceiro Reich. A felicidade era plenamente justificada. Desde 1941, o país era o principal teatro de operações da guerra mais sanguinolenta da história. A Alemanha nazista submetera a população soviética a todo tipo de brutalidade, cometendo crimes de guerra numa escala nunca antes vista. Vinte e sete milhões de soviéticos morreram no conflito — quase 14% de toda a população do país. Os soviéticos, entretanto, resistiram heroicamente. Recomposto dos revezes iniciais, o Exército Vermelho impôs sucessivas derrotas às tropas nazistas em uma contraofensiva avassaladora iniciada em 1943. Após expulsaram os alemães de seu território, os soviéticos os subjugaram em todas as frentes do Leste Europeu. Avançaram então pela Europa Oriental libertando uma a uma todas as nações ocupadas pelos nazistas, até invadirem a Alemanha e tomarem Berlim, levando Adolf Hitler ao suicídio.
Berlim se rendeu dois dias após a morte do chanceler alemão. Algumas unidades leais ao Terceiro Reich seguiram oferecendo resistência por mais alguns dias. Na madrugada do dia 7 de maio de 1945, o Alto Comando das Forças Armadas da Alemanha reconhecia a derrota e oferecia sua rendição incondicional. A cerimônia ocorreu na cidade francesa de Reims. O Instrumento da Rendição Alemã foi assinado por Alfred Jodl, oficial da Wehrmacht. Subscreveram o documento os generais Ivan Susloparov, em nome dos soviéticos, e Walter Bedell Smith, representando os Aliados ocidentais. O major francês François Sevez assinou como testemunha. O Alto Comando soviético, entretanto, considerou o documento como um mero protocolo preliminar de rendição. Argumentando que a capitulação alemã era um evento histórico singular, os soviéticos afirmavam que a rendição não poderia ser firmada em um território libertado, mas sim no local de onde partiam as ordens do governo alemão — isso é, em Berlim. Também disseram que o documento precisaria ser subscrito por representantes das três armas da Wehrmacht.
Os Aliados concordaram com os argumentos soviéticos e organizaram um segundo ato militar de rendição, dessa vez na capital alemã. O documento foi assinado na noite do dia 8 de maio de 1945 nas instalações da Administração Militar Soviética em Berlim. Referendavam a rendição os oficiais alemães do exército, da marinha e da aeronáutica — respectivamente Wilhelm Keitel, Hans-Georg von Friedeburg e Hans-Jürgen Stumpff. Representando os aliados, subscreveram o marechal soviético Georgy Júkov (líder da ofensiva soviética que capturou Berlim), o marechal britânico Arthur Tedder e o general estadunidense Carl Spaatz. O general francês Jean de Lattre de Tassigny assinou como testemunha. O 8 de maio converteu-se na data de celebração do Dia da Vitória na Europa. No fuso-horário de Moscou, entretanto, já era 9 de maio quando o documento foi assinado, motivo pelo qual os soviéticos/russos celebram o Dia da Vitória nessa data.
Os soviéticos foram informados sobre a rendição alemã à 1h10 da madrugada do dia 9 de maio, por meio de um anúncio feito pelo locutor da Rádio Moscou Yuri Levitan: "Moscou está falando", dizia a transmissão. "A Alemanha fascista foi destruída". Os moscovitas nem esperaram amanhecer: saíram às ruas de madrugada para celebrar. Uma gigantesca multidão começou a se concentrar na Praça Vermelha, no centro de Moscou, enquanto as autoridades improvisavam um show de luzes com refletores e fogos de artifício. Foram horas e horas de entusiasmada comemoração. Houve até quem permanecesse na praça para ouvir o discurso de Josef Stalin proferido 22 horas depois. Um jornalista que se dirigia à capital soviética na ocasião registrou de forma objetiva a intensidade dos festejos: "Tive sorte de comprar uma garrafa de vodca na estação de trem assim que eu cheguei, porque era impossível comprar depois. Não tinha mais vodca em Moscou em 10 de maio. Bebemos tudo".
Mesmo após a dissolução da União Soviética, o 9 de maio segue sendo comemorado como "Dia da Vitória", com feriado, desfiles militares e atos cívicos na Rússia e na maioria das ex-repúblicas da confederação. A celebração chegou a ser abolida no Uzbequistão, mas retornou por reivindicação popular pouco tempo depois. Os países bálticos, por sua vez, transferiram a comemoração do evento para 8 de maio, em consonância com a celebração nos países da Europa Ocidental. A maioria dos populares, entretanto, ainda mantém o hábito de celebrar no dia nove.
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