Mata Atlântica
O Brasil comemora em 27 de maio o Dia Nacional da Mata Atlântica. Criada por decreto federal em setembro de 1999, a data evoca a Carta de São Vicente, documento escrito pelo Padre Anchieta em 27 de maio de 1560, registrando pela primeira vez as características da biodiversidade das florestas tropicais das Américas.
A Mata Atlântica já foi o segundo maior bioma da América do Sul, atrás apenas da Amazônia. Originalmente, a Mata Atlântica ocupava mais de 1,3 milhão de quilômetros quadrados, estendendo-se por 17 estados do Brasil, com significativa concentração nas faixas litorâneas. O bioma também abrange a porção leste do Paraguai e a província argentina de Misiones. A ocupação humana da Mata Atlântica data de, pelo menos, 12 mil anos antes do presente. Os povos nativos, entretanto, estabeleceram modelos sustentáveis de ocupação do habitat, mantendo o bioma integralmente preservado até o início da colonização europeia. Após a chegada dos portugueses em 1500, iniciou-se a exploração econômica em larga escala da Mata Atlântica, a princípio com a extração do pau-brasil e posteriormente com a plantação de cana-de-açúcar, trigo e outras culturas.
O desmatamento se intensificou no século XVIII, com o ciclo do ouro e a criação de gado. Foi a partir do século XIX, entretanto, que a Mata Atlântica passou a ser submetida a uma devastação significativa, com a substituição progressiva do bioma pelas plantações de café. No século XX, a Mata Atlântica quase desapareceu, sendo reduzida para menos de 8% de sua cobertura original. A urbanização acelerada, o surto industrial, as grandes obras de infraestrutura (rodovias, ferrovias, usinas hidrelétricas, etc.), a pressão econômica pela expansão das fronteiras agrícolas tiveram impacto avassalador sobre o bioma. As áreas anteriormente ocupadas pelas florestas atlânticas passaram a abrigar 70% da população brasileira (mais de 145 milhões de habitantes) e o grosso das atividades econômicas do país. Em alguns estados como o Rio Grande do Norte, o bioma desapareceu por completo. Nas faixas litorâneas das regiões Sudeste e Sul, a Mata Atlântica subsiste apenas em reservas e bolsões isolados.
Acompanhando o processo de degradação ambiental, ocorreu o etnocídio dos povos indígenas, progressivamente massacrados ou submetidos a remoções forçadas de suas terras, ao mesmo tempo em que ampliou-se a concentração fundiária e a grilagem, aprofundando os problemas sociais no campo e nas cidades. Malgrado a emergência de uma nova legislação ambiental a partir da redemocratização, a poluição e a exploração predatória dos recursos remanescentes da Mata Atlântica seguem ocorrendo em grande escala. Nas últimas décadas, novas pressões econômicas pelo afrouxamento das regulamentações ambientais têm sido registradas e o desmatamento voltou a crescer. Entre 2019 e 2020, o desmatamento da Mata Atlântica paulista aumentou mais de 400%, segundo estudo coordenado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Outros nove estados detentores do bioma também tiveram crescimento expressivo do desmatamento no período.
Malgrado sua quase extinção, a Mata Atlântica segue sendo uma das florestas mais ricas em biodiversidade do planeta. O bioma representa apenas 0,8% das terras emersas da Terra, mas engloba 5% de todos os vertebrados do mundo e 5% de todas as espécies conhecidas da flora mundial. A Mata Atlântica abriga 15.700 espécies de plantas (8.000 das quais endêmicas) e mais de 2.200 espécies catalogadas de vertebrados.
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