Oscar Niemeyer
Alcunhado "gênio do concreto", Oscar Niemeyer é considerado um dos maiores expoentes da arquitetura moderna internacional. Influenciado pela lógica estrutural de Le Corbusier, Niemeyer desenvolveu um estilo extremamente original, tornando-se pioneiro na exploração das possibilidades construtivas e plásticas do concreto armado. Audaciosas e esculturais, suas obras aliam recursos estruturais avançados à simplicidade estética e à valorização da pureza da forma, resultando em edificações dotadas de monumentalidade, leveza e liberdade. Durante sua longa e prolífica carreira, Niemeyer desenvolveu mais de 600 projetos em quatro continentes. Colaborou com a construção de Brasília, projetando os principais edifícios cívicos da capital federal, e é autor de inúmeros monumentos e marcos urbanos espalhados por todo o Brasil. Além de seu valioso legado como arquiteto, Niemeyer foi militante da causa socialista e demonstrou desde cedo grande preocupação com problemas sociais.
Nascido no Rio de Janeiro, Oscar Niemeyer formou-se como engenheiro-arquiteto pela Escola Nacional de Belas Artes em 1934. Em seguida, ingressou no escritório de Lúcio Costa, onde integrou a equipe encarregada de desenvolver o projeto de Le Corbusier para o Ministério da Educação e Saúde (atual Palácio da Cultura), ao lado de Carlos Leão, Affonso Eduardo Reidy, Jorge Machado Moreira e Ernâni Vasconcelos. Assimilou diversas características da estética de Le Corbusier, como a ênfase na funcionalidade, a priorização da planta livre e o uso do pilotis, mas desenvolveu desde cedo um estilo único, integrado às referências da cultura nacional. Em 1937, projetou a Obra do Berço, seu primeiro projeto autoral. Dois anos depois, realizou seu primeiro trabalho internacional, dividindo com Lúcio Costa o desenho do pavilhão brasileiro da Feira Internacional de Nova York — obra premiada com a Medalha Cidade de Nova York.
Em 1943, Niemeyer elaborou o projeto do Conjunto da Pampulha, a convite de Juscelino Kubitschek, então prefeito de Belo Horizonte. O conjunto arquitetônico (cassino, clube, salão de dança e igreja) se destacou pela liberdade inventiva, exibindo já as características estéticas que acompanhariam a obra do arquiteto até o fim da vida. Em 1945, inspirado pela vitória da União Soviética sobre a Alemanha nazista, filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) e travou amizade com o revolucionário Luís Carlos Prestes. Sua aproximação com o PCB, entretanto, já havia se iniciado uma década antes, quando o arquiteto tornou-se colaborador do Socorro Vermelho, organização de serviço social ligada à Internacional Comunista. Julgando que as atividades políticas eram mais importantes que seu ofício de arquiteto, ofereceu seu escritório ao partido, que o converteu em seu Comitê Metropolitano.
A partir de 1947, Niemeyer integrou a equipe de arquitetos responsáveis por projetar a sede da Organização das Nações Unidas (ONU) em Nova York, inaugurada em 1952. A colaboração lhe granjeou destaque e convites para realizar trabalhos no exterior: na Venezuela, elaborou projeto para o Museu de Arte Moderna de Caracas; na Alemanha, participou do programa de reconstrução de Berlim, desenhando um conjunto de edifícios para o bairro Hansa. Aproveitou a ocasião para visitar as nações socialistas do Leste Europeu, conhecendo a Polônia, a Checoslováquia e a União Soviética. No Brasil, explorou o uso do concreto em superfícies curvas (projeto da Fábrica da Duchen, São Paulo) e buscou adaptar os programas utilitários à expressão plástica funcional em uma série de trabalhos (Banco Boavista e Casa das Canoas no Rio de Janeiro; Instituto Tecnológico da Aeronáutica em São José dos Campos; Edifício Copan em São Paulo; Aeroporto de Diamantina, etc.). Também projetou os pavilhões da exposição do IV Centenário da capital paulista, erguidos no Parque do Ibirapuera.
Em 1956, durante o governo Juscelino Kubitschek, foi nomeado para a direção do departamento de arquitetura da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), empresa encarregada da construção de Brasília. Em conjunto com Lúcio Costa, elaborou um dos mais relevantes exemplares da arquitetura contemporânea mundial, projetando a maioria dos edifícios cívicos da nova capital do país: Palácio da Alvorada, Palácio do Planalto, Palácio da Justiça, Palácio do Itamaraty, Esplanada dos Ministérios, Catedral de Brasília, Universidade de Brasília, Teatro Nacional, etc. A cidade foi inaugurada em 21 de abril de 1961 e impulsionou a carreira internacional de Niemeyer. Em 1962, o arquiteto fez diversos projetos no Líbano (Feira Internacional e Permanente de Trípoli e Conjunto Esportivo de Beirute). No ano seguinte, foi agraciado pelo comitê soviético com o Prêmio Lenin da Paz e nomeado membro honorário do Instituto Americano de Arquitetos de Nova York. Em 1964, projetou em Israel o plano urbanístico de Negev, os conjuntos Nordia e Panorama e a Universidade de Haifa. No mesmo ano, desenhou a Universidade de Acra, em Gana.
Após o golpe militar de 1964 e a instauração do regime de exceção, a circulação da revista "Módulo", fundada por Niemeyer em 1955, foi suspensa. No ano seguinte, em protesto contra a nova política universitária imposta pela ditadura, o arquiteto se demitiu da Universidade de Brasília e partiu para a França, a fim de participar de uma exposição individual em sua homenagem no Pavilhão de Artes Decorativas do Palácio do Louvre. Ainda na França, projetou o plano urbanístico da cidade de Grasse e desenhou o Centro Cultural de Saint-Baume. Viajou em seguida para o Gabão, onde fez o projeto do Palácio de Libreville, e Portugal, onde elaborou o plano urbanístico de Algarve e desenhos para um hotel e um cassino na Ilha da Madeira.
Em 1967, em retaliação às suas críticas ao regime militar, o governo Costa e Silva cassou seu registro profissional, impedindo-o de atuar no Brasil. Niemeyer exilou-se então na França, obtendo autorização para trabalhar regularmente. Projetou o Centro Cultural de Le Havre, a Bolsa de Trabalho de Bobigny e a sede do Partido Comunista Francês (PCF), organização em que passou a militar, e iniciou sua produção no campo do mobiliário. Na Itália, desenhou a sede da Editora Mondadori, em Milão, antes. Partiu então para a Argélia, elaborando uma série de projetos a pedido do governo revolucionário (plano urbanístico de Argel, Universidades de Argel e Constantine, Mesquita de Argel).
Com o processo gradual de distensão do regime militar operado a partir do governo Geisel, Niemeyer voltou a publicar a revista "Módulo". Em 1978, o arquiteto liderou a criação do Centro Brasil Democrático (Cebrade), agremiação de intelectuais e políticos de oposição ao regime militar que atuaria em prol da redemocratização e da reorganização dos movimentos sociais e operários. Em 1979, foi condecorado com o título de Oficial da Ordem da Legião de Honra da França e homenageado por uma exposição itinerante sobre sua obra. Retornou ao Brasil após a promulgação da Lei da Anistia, imediatamente retomando seus projetos arquitetônicos. Em Brasília, desenhou o Memorial JK (1980), o Memorial dos Povos Indígenas (1982) e o Panteão da Pátria (1985) e no Rio de Janeiro o Edifício Manchete (1983) e o Sambódromo (1984). Após a eleição de Leonel Brizola para o governo do Rio de Janeiro, colaborou com Darcy Ribeiro no projeto dos Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs) — centros educacionais de período integral que ofertavam atividades recreativas e complementares.
Após a redemocratização, Niemeyer intensificou sua atuação profissional no país e recebeu do governo brasileiro a condecoração de Grande Oficial da Ordem do Rio Branco. Em 1988, foi laureado com o Pritzker, o principal prêmio internacional de arquitetura. No ano seguinte, recebeu o Prêmio Príncipe de Astúrias. Ainda 1989, assistiu em São Paulo a inauguração do Memorial da América Latina, um de seus projetos mais relevantes. Em 1990, manifestando seu desacordo com a tendência liquidacionista expressa pela cúpula do PCB, Niemeyer desligou-se do partido. Dois anos depois, entretanto, assumiu o cargo de presidente de honra do novo PCB, após o processo de restauração da legenda, resultante da cisão dos quadros que renunciaram à conversão da agremiação em Partido Popular Socialista (PPS, atual Cidadania). Ainda nos anos noventa, projetou o Caminho Niemeyer e o Museu de Arte Contemporânea em Niterói (MAC). Também desenhou o Monumento Eldorado dos Carajás, em memória às vítimas do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) assassinadas em uma chacina no Pará, e o Memorial 9 de Novembro, em homenagem aos operários da CSN assassinados durante a greve de 1988.
Em 2002, foi inaugurado em Curitiba o Museu Oscar Niemeyer e iniciou-se em São Paulo a construção do Auditório do Ibirapuera, idealizado por Niemeyer ainda em 1952. No ano seguinte, o arquiteto projetou o anexo da Serpentine Gallery, seu primeiro edifício no Reino Unido, e em 2004 desenhou o Monumento à Paz na cidade de Paris. Em 2006, projetou o Centro Cultural Principado de Astúrias na Espanha e o Memorial Leonel Brizola no Rio de Janeiro. Completou seu centenário em 2007, ocasião em que o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) anunciou o tombamento de 35 de suas obras. Nesse mesmo ano, foi condecorado por Lula com a Medalha Ordem do Mérito Cultural.
Em seus últimos anos de vida, Niemeyer receberia diversas outras condecorações e honrarias, além de ter sido escolhido presidente de honra do Centro de Educação Popular e Pesquisas Econômicas e Sociais (CEPPES), organização fundada por Luís Carlos Prestes. Presenteou o mandatário cubano Fidel Castro com uma escultura de um homem com a bandeira cubana confrontando uma figura monstruosa — uma referência à resistência de Cuba contra as agressões imperialistas dos Estados Unidos. Entre seus últimos projetos estão a Cidade Administrativa de Minas Gerais, em Belo Horizonte, e o Teatro Puerto de la Música em Rosário, Argentina. Oscar Niemeyer faleceu no Rio de Janeiro em 5 de dezembro de 2012, aos 104 anos de idade.
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