Ariano Suassuna


Há 94 anos, em 16 de junho de 1927, nascia o dramaturgo, romancista, ensaísta e poeta paraibano Ariano Suassuna.

Expoente da literatura nordestina, Ariano Suassuna é considerado um dos maiores dramaturgos brasileiros de todos os tempos. Sua obra tem como marca a valorização da cultura popular, evocando o cotidiano das massas e exaltando o sertanejo comum, ao mesmo tempo em que satiriza as classes altas e os poderosos e denuncia a injustiça social. Ariano é autor de alguns dos textos mais populares da história do teatro brasileiro, nomeadamente o "Auto da Compadecida" — comédia dramática combinando elementos da literatura de cordel e da tradição barroca que o projetou nacionalmente na década de cinquenta. Doutor "Honoris Causa" por diversas universidades brasileiras, Ariano teve suas obras traduzidas para vários idiomas e foi eleito em 1990 para para a cadeira de número 32 da Academia Brasileira de Letras.

Filho de João Suassuna e Rita de Cássia Dantas Villar, Ariano nasceu em Parahyba do Norte, atual cidade de João Pessoa. À época, seu pai ocupava o cargo de presidente do estado da Paraíba. Pouco tempo após seu nascimento, a família se mudou para a Fazenda Acauã, no sertão paraibano. João Suassuna foi assassinado durante a Revolução de 1930, em um desdobramento possivelmente vinculado à morte João Pessoa, candidato à vice-presidência na chapa encabeçada por Getúlio Vargas. A morte precoce do pai levaria o escritor a discordar da futura renomeação da capital paraibana, por atribuir à família Pessoa sua execução. Aos cinco anos de idade, mudou-se com a família para Taperoá, onde realizou seus primeiros estudos e conheceu a arte dos mamulengos e do repente, que teriam grande influência sobre sua produção textual.

Em 1942, Ariano concluiu o ensino básico em Pernambuco. No ano seguinte, ingressou na Faculdade de Direito de Recife, onde se graduou em 1950. Durante seus estudos, travou amizade com nomes como Hermilo Borba Filho, Aloísio Magalhães, Capiba e Gastão de Holanda. Iniciou nesse período sua carreira artística, fundando o Teatro do Estudante de Pernambuco. Em 1947, escreveu sua primeira peça, intitulada "Uma Mulher Vestida de Sol", e nos anos subsequentes produziu os textos "Os Homens de Barro" e "Auto de João da Cruz" — essa última laureada com o Prêmio Martins Pena. Nos anos cinquenta, enfatizou a temática nordestina em suas obras, publicando "O Castigo da Soberba" e "O Rico Avarento". Em 1955, escreveu a aclamada peça "Auto da Compadecida", sua obra mais conhecida. A peça, descrita pelo crítico teatral Sábato Magaldi como "o texto mais popular do moderno teatro brasileiro", lhe granjeou reconhecimento nacional, sendo montada por companhias de teatro de todo o país e adaptada para cinema e televisão.

Ariano assumiu o cargo de professor de estética da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) em 1956, permanecendo na função por quase quatro décadas. Prosseguiu escrevendo peças de influxo popular — "O Santo e a Porca", "O Poder da Fortuna" e "A Pena e a Lei" (obra premiada no Festival Latino-Americano de Teatro de 1969) — e fundou o Teatro Popular do Nordeste, em parceria com Hermilo Borba Filho. Por meio dessa companhia, montou as peças "Farsa da Boa Preguiça" e "A Caseira e a Catarina". Casou-se em 1956 com Zélia Suassuna, por influência de quem se converteria ao catolicismo. No fim da década de sessenta, tornou-se membro fundador do Conselho Federal de Cultura e foi nomeado diretor do Departamento de Extensão Cultural da UFPE.

Em 1970, Ariano fundou o "Movimento Armorial", iniciativa que visava estabelecer uma manifestação artística erudita baseada nas raízes da cultura popular. O movimento congregava diversas formas de expressão artística — música, dança, literatura, artes plásticas, teatro, etc. — e teve como marco inaugural o concerto "Três Séculos de Música Nordestina". O escritor também se dedicou aos romances em prosa nos anos setenta, destacando-se com as obras "Romance d'A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta" (1971) e "História do Rei Degolado Nas Caatingas do Sertão" (1976). Ariano ocupou o cargo de Secretário de Educação e Cultura da cidade de Recife entre 1975 e 1978 e foi Secretário de Cultura do Estado de Pernambuco durante o governo de Miguel Arraes, de 1994 a 1998.

Embora não se identificasse como marxista, Ariano era profundamente crítico da exploração capitalista e do neoliberalismo, que descrevia como "um regime cruel e desumano". Presidente de honra do Partido Socialista Brasileiro (PSB), Ariano afirmava enxergar no socialismo a única saída para a emancipação da humanidade. "Está escrito nos atos dos apóstolos: todos tinham tudo em comum, quando um precisava todos ajudavam e ninguém tinha nada como seu. A meu ver, enquanto houver um miserável, um homem com fome, o sonho socialista continua", afirmou em uma ocasião. Criticava igualmente o entreguismo da direita e o desinteresse das elites pelo Brasil. "A classe dirigente quer que o Brasil seja uns Estados Unidos de segunda ordem. Eu não quero nem que seja Estados Unidos de primeira. Eu quero que o Brasil seja o Brasil de primeira". Ariano Suassuna faleceu em Recife, em 23 de julho de 2014, aos 87 anos.

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