As relações entre Brasil e Coreia do Norte


Embaixada do Brasil em Pyongyang, capital da Coreia do Norte. Localizada no distrito de Taedonggang, a embaixada foi oficialmente inaugurada em 26 de dezembro de 2009, no segundo mandato de Luís Inácio Lula da Silva. Brasil, Cuba e Venezuela são os únicos três países americanos que possuem missões diplomáticas fixas na Coreia do Norte.

Seguindo uma política externa de subordinação e alinhamento automático aos interesses dos Estados Unidos e ecoando a paranoia anticomunista da Guerra Fria, o Brasil ignorou a existência da Coreia do Norte por quase seis décadas. Desde a fundação da República Popular Democrática da Coreia em 1945 até 2001, os dois países não possuíam relações diplomáticas, representações comerciais ou qualquer tipo de cooperação internacional. As duas nações somente estabeleceram vínculos diplomáticos em 2001, no contexto das reformas econômicas conduzidas pelo líder norte-coreano Kim Jong-Il, buscando estabelecer novas parcerias comerciais para contornar as sanções estadunidenses impostas contra o país desde 1950. A iniciativa, entretanto, não trouxe mudanças significativas, frustrando expectativas de estabelecimento de missões diplomáticas ou assinaturas de acordos comerciais.

Somente após a chegada de Luís Inácio Lula da Silva à presidência do Brasil é que se registrou aumento significativo das relações diplomáticas e comerciais entre as duas nações. Sob a coordenação do chanceler Celso Amorim, a política externa brasileira vivenciou um período áureo, marcado por uma série de iniciativas de expansão das parcerias comerciais e aumento significativo de seu protagonismo internacional. Impulsionado pelo bom desempenho econômico, o Brasil liderou uma série de medidas de fortalecimento da cooperação Sul-Sul e integrou-se ao movimento de atuação mais assertiva das potências emergentes em prol da reforma da ordem internacional, expressa sobretudo pela criação do grupo dos BRICS. Como parte desse processo de fortalecimento da influência brasileira e de criação de novos fluxos comerciais e diplomáticos, o governo Lula inaugurou 35 novas embaixadas, todas em nações em desenvolvimento.

Entre os países com quais o Brasil buscou estreitar suas relações diplomáticas está a Coreia do Norte. Em março de 2006, os governos brasileiro e norte-coreano assinaram um acordo comercial facilitando as transações entre os dois países. O acordo possibilitou o aumento exponencial do fluxo comercial bilateral, que chegou a 380 milhões de dólares em 2008. Em apenas três anos, o Brasil se converteu no quarto maior parceiro comercial da Coreia do Norte, atrás apenas de China, Rússia e Coreia do Sul. Visando intensificar ainda mais os laços entre os países, o Brasil inaugurou sua embaixada em Pyongyang em dezembro de 2009, ingressando no seleto grupo de 25 países que possuem missões diplomáticas permanentes na Coreia do Norte — o segundo nas Américas, atrás apenas de Cuba. Tornou-se igualmente o único país do continente a possuir embaixadas nas duas Coreias, o que lhe granjeou condições de postular a mediação nas disputas entre as duas nações.

O diplomata Arnaldo Carrilho foi nomeado para o posto de primeiro embaixador brasileiro na Coreia do Norte, assumindo a responsabilidade pela instalação da missão diplomática e por debelar as severas críticas da imprensa brasileira, apontando a quantidade enorme de boatos difundidos sobre a nação asiática e ressaltando que "o preconceito é inimigo da diplomacia". Carrilho foi sucedido em 2012 por Roberto Colin. Nos anos seguintes, os dois países fortaleceram seus vínculos, consolidando uma importante iniciativa de combate ao isolamento diplomático imposto à Coreia do Norte pelas potências ocidentais. Entre 2010 e 2011, o Brasil enviou uma equipe de pesquisadores da Embrapa para a Coreia do Norte, com o objetivo de qualificar os profissionais locais em técnicas de plantio de soja. O governo brasileiro também coordenou três iniciativas de ajuda humanitária ao país asiático no período, com transferências de recursos e doação de 21 mil toneladas de alimentos. Em contrapartida, a Coreia do Norte tornou-se uma importante aliada das iniciativas do Brasil em política externa, apoiando as candidaturas do país para os organismos internacionais. O governo norte-coreano endossou a o nome de José Graziano da Silva para a diretoria da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e apoiou a candidatura brasileira para o Conselho de Direitos Humanos da ONU.

Desde o golpe parlamentar de 2016, as relações entre as duas nações estão se deteriorando. Há cinco anos, o Brasil não nomeia nenhum embaixador para Pyongyang e a missão diplomática está sendo presidida pelo encarregado de negócios, Cleiton Schenkel. Durante o governo de Michel Temer, chegou-se a cogitar o fechamento da embaixada. A guinada nas relações bilaterais está em conformidade com a vontade expressa pelo ex-vice-presidente dos Estados Unidos Mike Pence, que em 2017 instou o governo brasileiro a cooperar com Washington no isolamento do governo norte-coreano. Como resultado das pressões estadunidenses, da nova orientação da política externa brasileira e da aplicação de novas sanções econômicas, o comércio bilateral entre Brasil e Coreia do Norte sofreu uma redução de 97%, despencando de 380 milhões de dólares em 2008 para 10,7 milhões de dólares em 2017.

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