Bombardeio da Plaza de Mayo


Há 68 anos, em 16 de junho de 1955, ocorria o Bombardeio da Plaza de Mayo em Buenos Aires. Em um esforço dos setores militares antigovernistas para depor o presidente argentino Juan Domingo Perón, pilotos da Armada Argentina lançaram várias bombas contra uma multidão de civis desarmados que protestavam pacificamente contra os intentos golpistas, matando 364 pessoas e ferindo mais de 800. Foi o maior bombardeio aéreo já ocorrido na Argentina continental e um prelúdio da onda de terrorismo de Estado que seria implementado posteriormente pela ditadura militar.

Oficial de carreira, Juan Domingo Perón ascendeu politicamente após sua participação na chamada "Revolução de 43", movimento político que encerrou a ditadura de cariz fascista da "Década Infame". Apoiado pela classe trabalhadora em função da abrangente legislação de direitos trabalhistas que implementara durante sua gestão no Ministério da Guerra e do Trabalho, Perón foi eleito presidente da Argentina em 1946. Seu governo foi marcado pela aplicação da doutrina do justicialismo, aliando projetos de reformas e justiça social ao dirigismo econômico e à neutralidade em política externa — plataforma que o próprio Perón classificou como uma "terceira via" entre o capitalismo e o socialismo. Além das medidas de proteção dos operários, sua gestão se destacou pelo trabalho social desenvolvido por sua esposa, a primeira-dama Evita Perón, granjeando-lhe enorme popularidade entre os chamados "descamisados" — as classes baixas e os trabalhadores precarizados.

A partir da reeleição em 1951, Perón moderou significativamente seus projetos sociais, voltando-se progressivamente ao conservadorismo e a alguns setores da direita argentina. A inflexão não bastou para debelar o antiperonismo hidrofóbico da burguesia reacionária e de um grande contingente das Forças Armadas argentinas. Desde meados dos anos 40, o diplomata estadunidense Spruille Braden agia para articular os setores golpistas. Medidas como a expropriação de latifúndios, a nacionalização de setores da economia e o fortalecimento dos sindicatos, causaram enorme rancor na elite e a receio de perda de privilégios sociais e econômicos em amplas camadas da classe média.

Essa oposição raivosa logo se manifestou na criação de um estado de conspiração permanente, tendo os militares como ponta de lança. Em 1951, ocorreu uma primeira tentativa de golpe por tropas do exército que se recusavam a aceitar a reeleição de Perón. Dois anos depois, um comando militar antiperonista realizou um atentado terrorista na Plaza de Mayo, atacando uma manifestação de trabalhadores organizada pela Confederação Geral do Trabalho (CGT), principal central sindical do país. O atentado deixou 6 mortos e 95 feridos.

As tensões entre o governo de Perón e a oposição atingiram o ápice em 1955, num contexto de forte agitação social, com a ocorrência de massivas manifestações pró e contra o governo, cada vez mais tumultuadas. A Igreja Católica juntou-se à oposição, conclamando ativamente os fiéis a se juntarem às mobilizações antigovernistas, que já contavam com o apoio da imprensa e do alto empresariado argentino. A oposição passou a realizar ataques violentos às organizações vistas como governistas e setores antiperonistas dos militares passaram ao enfrentamento aberto contra as forças legalistas. A sede da Confederação Geral do Trabalho foi metralhada e pilotos sublevados bombardearam uma coluna de soldados do Regimento de Infantaria de La Tablada.

Em 16 de junho de 1955, pilotos da Armada Argentina puseram em prática um plano para assassinar Perón. Os golpistas apoderaram-se de trinta aviões estacionados na Base Aérea de Morón e decolaram rumo à Casa Rosada, sede do governo argentino. Perón, entretanto, fora avisado sobre o movimento por seu Ministro da Guerra, Franklin Lucero, refugiando-se em um bunker no subsolo do Edifício Libertador. Paralelamente, um grupo de militares sublevados do 4º Batalhão tentou capturar a Casa Rosada, mas foram repelidos por tropas legalistas do exército argentino.

Ao tomarem conhecimento da tentativa de golpe, civis apoiadores de Perón compareceram em peso à Casa Rosada. O líder sindical Héctor Hugo Di Pietro conclamou os trabalhadores a defenderem o governo constitucional e as centrais sindicais iniciaram a mobilização dos trabalhadores das fábricas nos subúrbios de Buenos Aires. Em poucas horas, a Plaza de Mayo estava tomada por uma multidão manifestantes que expressavam apoio ao governo de Perón e repúdio à tentativa de golpe.

Ao invés de dissuadir o intento golpista, a mobilização popular enfureceu os militares revoltosos. Os pilotos da Armada Argentina iniciaram um massacre, despejando bombas sobre a Casa Rosada e a multidão concentrada na Plaza de Mayo. Ao todo, 364 pessoas morreram nos ataques e mais de 800 ficaram feridas. Ao todo, 364 pessoas morreram nos ataques e mais de 800 ficaram feridas. Os bombardeios também destruíram a ala sul da Casa Rosada, matando oficiais legalistas que estavam dentro do edifício. Apesar da violência do ataque, civis peronistas seguiram lutando contra os golpistas ao lado dos militares leais ao governo. Aviões das tropas legalistas interceptaram as aeronaves utilizadas no ataque, forçando o recuo dos golpistas, ao passo que unidades do exército lograram sitiar as tropas sublevadas no solo, forçando-as à rendição.

Indignadas com o ataque, multidões peronistas saíram pela cidade queimando igrejas e postos militares em vingança pelas centenas de mortes ocorridas. Os principais líderes do golpe, Samuel Toranzo Calderón, Benjamín Gargiulo e Aníbal Olivieri, foram presos e informados de que seriam levados à corte marcial. Gargiulo cometeu suicídio, mas Calderón e Olivieri seriam reabilitados pouco tempo depois, após a eclosão da chamada "Revolução Libertadora", um novo golpe militar que obrigou Perón a renunciar em setembro de 1955.

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