Naftali Bennett
Notícia publicada em 13 de junho de 2021:
Da frigideira para o fogo: o ex-militar ultranacionalista Naftali Bennett, líder da extrema-direita sionista, assumiu hoje o cargo de primeiro-ministro de Israel, em substituição a Benjamin Netanyahu.
Nascido em Haifa em 1972, Bennett é oriundo de uma rica família de judeus estadunidenses que imigraram para Israel após a Guerra dos Seis Dias. Em sua juventude, filiou-se ao Bnei Akiva, movimento juvenil sionista que defendia a expansão territorial de Israel e o suposto direito divino de ocupar as terras palestinas. Em 1990, ingressou nas Forças Armadas de Israel, servindo como comandante nas unidades de elite Sayeret Matkal e Maglan e ascendendo posteriormente à patente de major. Nessa função, participou de diversas ofensivas contra o Hezbollah no Líbano e ordenou o bombardeamento da aldeia de Qana, onde se encontravam instalações das Nações Unidas e campos de refugiados. O ataque causou a morte de 102 civis e quatro capacetes azuis.
Após se formar em direito pela Universidade Hebraica de Jerusalém, Bennett se mudou para Nova York, onde ampliou sua fortuna como empresário de software. Foi um dos fundadores e CEO da companhia "Cyota", empresa de programas antifraude vendida em 2005 para a RSA Security por 250 milhões de dólares. Também serviu como CEO da Soluto, uma companhia de computação em nuvem vendida por 100 milhões de dólares em 2013.
De volta a Israel, Bennett ingressou na política, filiando-se ao partido conservador Likud, onde comandou a campanha em favor da liderança de Netanyahu. Em 2010, foi nomeado diretor-geral do Conselho de Yesha, onde buscou reverter a disposição legal que impedia a expansão dos assentamentos judaicos em terras palestinas. No mesmo período, fundou os movimentos "Yisraelim" e "Minha Israel", voltados à difusão do ideário de extrema direita e do sionismo. Em 2012, deixou o Likud e filiou-se à agremiação sionista Lar Judaico, pelo qual foi eleito para o Knesset, o parlamento israelense. Durante seu mandato, Bennett defendeu a anexação imediata da Área C da Cisjordânia, um dos últimos bolsões de assentamentos palestinos, e incentivou o recrudescimento das ações de repressão aos militantes palestinos.
Protegido por Netanyahu, Bennett ocupou diversas funções em seu governo. Foi indicado para chefiar o Ministério da Economia e comandou a pasta dos Serviços Religiosos. Posteriormente, Bennett assumiu o Ministério da Educação, onde instaurou uma gestão autoritária, promovendo o revisionismo histórico em prol de uma narrativa pró-israelense, perseguindo e censurando os educadores que criticassem os abusos militares de Israel ou denunciassem violações de direitos humanos perpetradas contra palestinos.
Em 2018, Bennett desligou-se do Lar Judaico e se tornou um dos membros fundadores do partido ultranacionalista Nova Direita. Assumiu desde então uma retórica ainda mais agressiva, passando a defender a anexação de todos os territórios palestinos ainda existentes e opondo-se visceralmente à solução de dois Estados. Foi um dos principais defensores da Lei do Estado Nação do Povo Judeu, que estabelece diferenças legais entre israelitas judeus e não judeus, criando categorias de cidadãos de primeira e segunda classe e instituindo formalmente um sistema análogo ao "apartheid".
Em junho de 2021, após o estabelecimento de uma frente de legendas progressistas e de centro-direita no parlamento israelense, Bennett concordou com um governo rotacional. O candidato de extrema-direita assumirá o governo israelense até 2023, sendo então sucedido pelo parlamentar de centro-direita Yair Lapid, que governará até 2025. O acordo sofreu a oposição do Hadash, agremiação da esquerda não-sionista, mas foi apoiado em peso pelos partidos progressistas, que enxergaram a oportunidade de estabelecer um futura gestão mais propensa à conciliação, mesmo que ao custo da ascensão imediata ao poder de um fanático sionista à direita de Netanyahu. Resta saber se ainda haverá uma Palestina para salvar em 2023.
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