Paulo Mendes da Rocha
O arquiteto Paulo Mendes da Rocha é considerado um dos maiores expoentes da chamada "escola paulista de arquitetura", notabilizando-se por seu estilo único, aliando funcionalidade, monumentalidade e expressividade plástica e ao mesmo tempo preservando o desenho limpo e a pureza das formas.
Nascido em 25 de outubro de 1928 em Vitória, no Espírito Santo, Paulo Paulo Mendes da Rocha era filho do engenheiro Paulo Menezes da Rocha, responsável pelos planos de combate à seca no Nordeste no começo do século XX e diretor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli/USP) nos anos quarenta. Formado em arquitetura e urbanismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, Paulo integrou a geração de arquitetos de influxo modernista influenciada por João Batista Vilanova Artigas. Destacou-se profissionalmente após projetar o Ginásio do Clube Atlético Paulistano (1958) — obra que lhe rendeu o Grande Prêmio da 6ª Bienal Internacional de São Paulo, antecipando várias características estéticas formais da chamada "virada brutalista". O edifício se distingue pelos grandes espaços abertos e pelo desenho peculiar dos pilares de concreto, que criam a sensação de leveza à medida em que afinam antes de tocarem o solo.
Paulo assumiu o cargo de professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU/USP) em 1961. Desenvolveu paralelamente outros projetos de grande destaque, incluindo a sede social do Jockey Club de Goiânia (1962) e sua residência no bairro paulistano do Butantã (1964). Ao lado de Vilanova Artigas e Fábio Penteado, integrou a equipe que projetou o Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães Prado/Parque Cecap (1968) — conjunto de moradias populares em Guarulhos. A oposição de Paulo ao golpe militar de 1964 e suas ideias sobre o papel social da arquitetura lhe granjearam a antipatia e retaliação do regime militar. Após a promulgação do Ato Institucional Nº. 5 (AI-5), o arquiteto teve seus direitos políticos cassados e seu registro profissional cancelado, ficando impedido de trabalhar no Brasil. Paradoxalmente, Paulo venceu no ano seguinte o concurso nacional para o Pavilhão do Brasil na Expo'70, de Osaka, sendo posteriormente premiado em concurso internacional promovido pelo Centre Georges Pompidou de Paris.
Nos anos setenta, Paulo assumiu a presidência da seção paulista do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB/SP) e projetou o Estádio Serra Dourada, em Goiânia (1975). Após a redemocratização, retomou sua prolífica carreira, vencendo em 1986 o concurso para o projeto do Museu Brasileiro da Escultura (MuBe) em São Paulo. Atuou também no campo do urbanismo, apresentando o audacioso desenho da Cidade do Tietê (1981) e os planos de reurbanização das baías de Vitória (1993) e Montevidéu (1998). As propostas urbanísticas tinham em comum elementos derivados do pensamento desenvolvimentista da "escola paulista de arquitetura", baseado por sua vez no projeto político do Partido Comunista Brasileiro (antigo PCB), que preconizava a necessidade de amplos investimentos em infraestrutura para alavancar o desenvolvimento das forças produtivas nacionais. Não obstante, Paulo criticava severamente a subordinação da arquitetura às contingências do capital, defendendo a primazia das necessidades humanas como elemento norteador do partido arquitetônico. Também foi um profundo admirador do construtivismo soviético, sobretudo em relação ao planejamento urbano, enxergando-o como uma tentativa de contraposição à desumanização das metrópoles capitalistas e à prevalência da visão predatória do consumo.
Paulo obteve crescente reconhecimento internacional a partir dos anos noventa, quando elaborou uma série de projetos de reforma e de intervenções urbanas, estimulando um reavivamento do interesse internacional pela arquitetura brasileira. Desenhou o pórtico da Praça do Patriarca (1992), elaborou a reforma da Pinacoteca do Estado (1993) e o projeto do Centro Cultural FIESP (1996), todos em São Paulo. Foi homenageado com uma sala especial durante a 10ª Documenta de Kassel, na Alemanha (1997), e laureado com o Prêmio Mies van der Rohe de Arquitetura Latino-Americana (2000). Em 2006, venceu o Pritzker, o mais importante prêmio da arquitetura mundial. Dez anos depois, foi homenageado com o Leão de Ouro, da Bienal de Veneza e recebeu o Prêmio Imperial do Japão. Em paralelo, desenvolveu novos projetos internacionais, desenhando as novas instalações do Museu Nacional dos Coches e Casa do Quelhas, ambos em Lisboa. Faleceu em São Paulo em 23 de maio de 2021, aos 92 anos.
Comentários
Postar um comentário