Valentina Tereshkova
Tendo como marco inicial as teorias sobre exploração espacial desenvolvidas por Konstantin Tsiolkovski e os experimentos conduzidos pelo Grupo de Estudos de Propulsão Reativa na década de trinta, o programa espacial da União Soviética ingressou em sua era de ouro após a Segunda Guerra Mundial, alavancado pelo desenvolvimento de novos sistemas de propulsão de mísseis. Com o início da Guerra Fria, Estados Unidos e União Soviética iniciaram uma forte concorrência pela primazia na exploração do universo e pelo aperfeiçoamento da tecnologia aeroespacial — um ativo estratégico para o aperfeiçoamento dos sistemas de defesa e de segurança nacional das duas superpotências.
Coube à União Soviética a liderança na corrida espacial, afirmada por uma sequência de feitos inéditos. Em 1957, os soviéticos lançaram o R-7, o primeiro míssil balístico intercontinental. Nesse mesmo ano, colocaram em órbita o Sputnik 1, o primeiro satélite artificial da história. Dois anos depois, lançaram a sonda Luna 1, primeira espaçonave a se aproximar da superfície lunar. Por fim, em abril de 1961, o cosmonauta Yuri Gagarin se tornou o primeiro ser humano a viajar pelo espaço, a bordo da espaçonave Vostok 1. Dando sequência à tradição de pioneirismo, o governo soviético lançou em 1962 um programa para selecionar a primeira cosmonauta a viajar para o espaço. O processo seletivo contou com a inscrição de milhares de voluntárias e cinco mulheres foram selecionadas.
A jovem Valentina Tereshkova foi escolhida para tripular a espaçonave Vostok 6. Nascida em 6 de março de 1937 na cidade de Bolshoye Maslennikovo, Valentina pertencia a uma humilde família de operários. Seu pai faleceu durante a Guerra Russo-Finlandesa, o que a levou a trabalhar desde cedo para auxiliar nas despesas de casa. Paralelamente ao trabalho como técnica têxtil, Valentina ocupava a função de secretária da seção local do Komsomol — a União da Juventude Comunista — e era fundadora e presidente do Clube de Paraquedistas Amadores. A experiência com o paraquedismo, o peso e a altura ideais e o bom desempenho nos testes físicos e psicológicos permitiram a Valentina chegar entre as finalistas do processo seletivo. Sua origem operária, o fato de ser filha de um herói de guerra e suas ligações com o Partido Comunista também pesariam em seu favor durante a seleção.
Após sete meses de treinamento, Valentina partiu para o espaço a bordo da Vostok 6, em 16 de junho de 1963. O lançamento ocorreu no Centro Espacial de Baikonur, no Cazaquistão. A espaçonave atingiu a altitude de apogeu de 212 quilômetros e permaneceu em órbita por 72 horas, período durante o qual completou 48 voltas ao redor da Terra. Valentina passou mais tempo em órbita do que a soma de todos os astronautas do programa espacial estadunidense Mercury, que ocorria em paralelo. As fotografias e dados coletados pela cosmonauta soviética durante o voo foram utilizados para identificar posteriormente as camadas de aerossol na atmosfera terrestre.
Após quase três dias em órbita, a Vostok 6 retornou à Terra. Valentina teve de assumir o controle manual da espaçonave em função de uma falha no sistema de navegação. Quando a espaçonave estava a seis quilômetros de distância do solo, Valentina ejetou seu assento, pousando de paraquedas em uma fazenda coletiva na fronteira entre a Rússia e o Cazaquistão. Aclamada internacionalmente pelo feito, Valentina foi condecorada com a Ordem de Lenin e recebeu o título de Heroína da União Soviética. Nos anos seguintes, Valentina visitou diversos países para promover o programa espacial soviético e ingressou no Comitê Central do Partido Comunista.
Em 1963, Valentina se casou com o também cosmonauta Adrian Nikolayev, com quem teve uma filha chamada Elena. Divorciou-se posteriormente e casou-se pela segunda vez com o cirurgião Yuli Shaposhnikov. Foi eleita para o Duma em 2011, pela legenda governista Rússia Unida e ainda exerce função parlamentar. Valentina permanece até hoje como a única mulher a ter feito um voo solo ao espaço.
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