A Campanha da Rússia

 "Marechal Ney e suas tropas se retiram de Moscou", obra de Adolphe Yvon.


Há 209 anos, em 24 de junho de 1812, tinha início a Campanha da Rússia. Intencionando forçar a Rússia a obedecer ao Bloqueio Continental imposto contra o Reino Unido, o imperador francês Napoleão Bonaparte reuniu um exército de quase 700.000 homens e, sem declaração formal de guerra ou qualquer aviso, invadiu o território russo.

Contando com o reforço de soldados italianos, poloneses, espanhóis, alemães e suíços, as tropas francesas obtiveram grandes avanços nos primeiros meses, destacando-se a vitória na Batalha de Smolensk. Mas a Rússia logo conseguiu reorganizar sua defesa: o general Peter Wittgenstein bloqueou os avanços do exército francês, impondo uma derrota decisiva ao marechal Nicolas Oudinot. A defesa de Wittgenstein impediu que os franceses tomassem a então capital russa, São Petersburgo. Isso forçou Napoleão a tentar decidir a guerra na frente de Moscou.

Visando esgotar as tropas francesas, os russos utilizaram-se da estratégia de terra arrasada e determinaram o recuo do seu exército principal, priorizando ataques secundários com a cavalaria ligeira de cossacos. A estratégia não bastou para impedir os avanços das tropas francesas, que venceram os russos na Batalha de Borodino, a mais sangrenta de todas as batalhas ocorridas no âmbito das Guerras Napoleônicas. Em setembro de 1812, as tropas de Napoleão finalmente entraram em Moscou, mas, a essa altura, os russos já haviam evacuado toda a cidade. Instalações e armazéns que poderiam ser úteis aos franceses haviam sido incendiados e até criminosos foram libertados das prisões para complicar o avanço dos invasores. Assim, a captura de Moscou não obrigou o imperador russo Alexandre I a negociar a paz. Após esperar por um mês uma proposta de armistício que jamais chegou, Napoleão e seu exército decidiram se retirar de Moscou.

Buscando alimentos para os soldados e seus cavalos, os franceses tentaram chegar a Kaluga, mas o exército russo bloqueou seu avanço na Batalha de Maloyaroslavets, forçando os invasores a recuarem pela rota de Smolensk, deliberadamente devastada para aumentar o desgaste do exército francês. Nas semanas seguintes, iniciou-se o rigoroso inverno russo, agravando a situação das tropas napoleônicas, que já sofriam com a falta de suprimentos e com os ataques constantes das tropas regulares e de camponeses russos. Quando Napoleão finalmente conseguiu se retirar da Rússia, lhe restavam somente 27 mil soldados: aproximadamente 400 mil haviam morrido e outros 100 mil foram aprisionados. Napoleão abandonou então suas tropas e regressou a Paris, tentando proteger sua posição como imperador.

A derrota de Napoleão na Campanha da Rússia foi o ponto de inflexão das Guerras Napoleônicas. A desastrosa invasão reduziu o outrora poderoso exército francês a uma fração mínima de sua força inicial, enfraquecendo dramaticamente a hegemonia francesa na Europa e devastando a reputação de invencibilidade de Napoleão. A França perdeu o domínio sobre seus aliados e em apenas dois anos Napoleão perderia seu trono e seria forçado a se exilar na ilha de Elba.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Othon Pinheiro, Lava Jato e Programa Nuclear Brasileiro

Explosão da Base de Alcântara

O tango e o apagamento histórico da herança cultural negra na Argentina