Eduardo Suplicy

Artigo publicado em 21 de junho de 2021

Nascido em 21 de junho de 1941, Eduardo Suplicy completa hoje 80 anos.

Natural de São Paulo, Suplicy é descendente do clã dos Matarazzo, aristocrática família ítalo-paulista que estabeleceu o maior conglomerado empresarial da América Latina no fim do século XIX. Sua mãe, Filomena, era neta do conde Francesco Matarazzo, patriarca da família e homem mais rico do Brasil em seu tempo. Seu pai era Paulo Cochrane Suplicy, afluente empresário do ramo do café. Suplicy cresceu em São Paulo, onde se formou em administração de empresas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Paralelamente aos estudos, atuou como diretor cultural e presidente do centro acadêmico. Após a graduação, trabalhou no escritório de corretagem do seu pai, ocupando-se da exportação de manufaturados.

Em 1964, casou-se com a psicanalista e sexóloga Marta Teresa Smith de Vasconcelos, dita Marta Suplicy, bisneta dos barões de Vasconcelos e futura mãe de seus três filhos — Supla, André e João. Dois anos depois, foi selecionado em concurso para exercer o cargo de professor de economia da FGV. Ainda em 1966, viajou para os Estados Unidos, onde obteve mestrado em economia pela Universidade Estadual de Michigan. Doutorou-se em 1973 por essa mesma instituição e concluiu uma especialização na Universidade de Stanford. De volta ao Brasil, tornou-se colunista do jornal Última Hora e analista de assuntos econômicos da Folha de S. Paulo. Também assumiu a editoria de economia da Revista Visão, onde trabalhou com o jornalista Vladimir Herzog, militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e opositor do regime militar.

Em 1976, Suplicy travou amizade com o então líder sindical Luiz Inácio Lula da Silva, a quem conheceu durante uma palestra na Fundação Santo André. Por influência de Lula, aproximou-se do chamado Novo Sindicalismo, passando a utilizar seu espaço na imprensa para denunciar as perdas salariais dos operários e criticar a política econômica do governo. Em 1978, foi eleito deputado estadual pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB), então única legenda de oposição institucional ao regime militar. Durante seu mandato, dedicou-se a obter informações sobre o paradeiro de desaparecidos e presos políticos e endossou a campanha pela redemocratização. Em 1980, após a abolição do bipartidarismo, ajudou a organizar e fundar o Partido dos Trabalhadores (PT), tornando-se membro da executiva e do diretório nacional.

Eleito deputado federal pelo PT em 1982, denunciou os escândalos financeiros envolvendo a caderneta de poupança Delfin e o grupo Coroa-Brastel. Engajou-se na campanha das "Diretas Já" e votou a favor da Emenda Constitucional Dante de Oliveira, que propunha o restabelecimento de eleições diretas para a Presidência da República já em 1984. Após a rejeição da proposta, boicotou o pleito indireto do Colégio Eleitoral, vencido pela chapa encabeçada por Tancredo Neves — que faleceria pouco antes da posse, legando a presidência a seu vice, José Sarney. Disputou a prefeitura de São Paulo em 1985, ficando em terceiro lugar, atrás de Jânio Quadros e Fernando Henrique Cardoso (FHC). No ano seguinte, candidatou-se ao governo paulista, obtendo a quarta colocação. Em 1988, elegeu-se para a Câmara Municipal de São Paulo com mais de 200 mil votos, tornando-se o vereador mais votado do Brasil. Foi eleito presidente da câmara e teve papel de destaque durante a elaboração da Lei Orgânica do Município.

Em 1990, tornou-se o primeiro senador eleito pelo PT, obtendo mais de 4,2 milhões de votos. Durante seu mandato, redigiu o Projeto de Garantia de Renda Mínima (PGRM) — proposta que previa a concessão de um auxílio financeiro para todos os cidadãos brasileiros que recebessem menos de dois salários mínimos. O valor seria equivalente a 30% da diferença entre a renda efetiva e o teto do benefício. O projeto foi aprovado por unanimidade no Senado, mas teve sua votação obstruída indefinidamente na Câmara dos Deputados. Suplicy também foi responsável por revelar atos de corrupção na gestão de Fernando Collor, com base na análise realizada a partir dos dados do Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi). Foi autor da proposta de  Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que embasaria posteriormente o pedido de impeachment contra Collor.

Em 1992, voltou a disputar a prefeitura de São Paulo, sendo derrotado por Paulo Maluf no segundo turno. No ano seguinte, Suplicy articulou a criação da CPI responsável por investigar um esquema de desvio de verbas públicas por um grupo de parlamentares que ficariam conhecidos como "anões do orçamento". O relatório final, aprovado em 1994, resultou na cassação de seis deputados e na renúncia de outros quatro. Durante a presidência de FHC, Suplicy destacou-se pela aguerrida oposição às privatizações e denunciou o favorecimento ilegal à multinacional Raytheon, indicada pelo presidente estadunidense Bill Clinton para implementar o Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam). Atuou também para neutralizar tentativas de criminalização do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), chegando a dormir nos acampamentos para demover ações violentas das forças policiais. Em 1997, esteve à frente de mais uma investigação de desvio de recursos — a CPI dos Precatórios, que apurou irregularidades na emissão e negociação de títulos públicos. Paralelamente, seu projeto de Renda Mínima inspirou em diversos municípios a criação das bolsas-escola.

Suplicy foi reeleito senador em 1998 com 6,7 milhões de votos — a segunda maior votação da história. No mesmo ano, foi escolhido em uma pesquisa de opinião conduzida pelo jornal Folha de S. Paulo como "o melhor político do Brasil". Mudou-se temporariamente para a favela de Heliópolis, na Zona Sul de São Paulo, visando recolher impressões e dados para escrever seu livro "Em direção a uma renda cidadã". Em abril de 2001, encerrou seu relacionamento de 40 anos com Marta Suplicy. Nesse mesmo ano, disputou as prévias internas do PT, postulando a candidatura presidencial. Foi derrotado por Lula, que venceria o pleito de 2002, conduzindo pela primeira vez o partido à presidência. No primeiro ano da gestão petista, criticou o formato dos programas de transferência de renda, opondo-se à vinculação dos gastos das famílias à alimentação. Desentendeu-se com quadros do partido ao apoiar o grupo de parlamentares dissidentes liderado por Heloísa Helena, que seriam posteriormente expulsos e fundariam o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL). Também criticou a concentração de poder nas mãos de José Dirceu e os critérios de nomeação para cargos no segundo escalão.

Em 2004, participou da cerimônia de sanção do Programa Renda Básica de Cidadania, mas logo se frustrou com a priorização do modelo de transferência de renda operada pelo bolsa-família. Foi punido pelo PT após subscrever abaixo-assinados em favor da criação de CPIs para investigar alegados esquemas de corrupção na gestão petista. Reeleito para o seu terceiro mandato como senador em 2006, liderou a oposição ao projeto de redução da maioridade penal. Em 2007, viajou para a Venezuela e presenteou Hugo Chávez com um exemplar do livro "Renda básica de cidadania". Seria a primeira de uma séria de viagens internacionais em que o senador defenderia a implementação de programas de renda mínima e de combate à desigualdade social, incluindo passagens por Iraque, Irã, Cuba, Guatemala, República Dominicana, Paraguai, Uruguai, Marrocos, Namíbia e Argentina. Em 2009, integrou a frente de senadores que cobrou explicações acerca do arquivamento de onze denúncias contra José Sarney.

Na eleição parlamentar de 2014, marcada pelo acirramento do discurso antipetista, Suplicy foi derrotado por José Serra, deixando o Senado após três mandatos e 24 anos de atuação representando o estado de São Paulo. No ano seguinte, enviou carta a Dilma Rousseff manifestando sua insatisfação com o veto presidencial ao seu projeto de concessão de auxílio financeiro suplementar para famílias de baixa renda. Em fevereiro de 2015, tomou posse como Secretário de Direitos Humanos e Cidadania do Município de São Paulo durante a gestão de Fernando Haddad, destacando-se por programas de inclusão direcionados a moradores de rua e transexuais. Elegeu-se vereador pela cidade de São Paulo em 2016 com mais de 300 mil votos, ocasião em que atuou contra a implementação do projeto de lei do Sampaprev. Em 2018, foi derrotado na campanha pelo Senado, ficando em terceiro lugar, atrás de Mara Gabrilli e Major Olímpio. Reelegeu-se vereador em 2020, novamente com a maior votação da Câmara Municipal de São Paulo.


Eduardo Suplicy ingressou na política como deputado federal pelo MDB, então única legenda de oposição institucional ao regime militar.




Suplicy conversa com Lula durante um comício das greves dos metalúrgicos do ABC.




Encontro de fundadores do PT: Ivan Valente, Plínio de Arruda Sampaio, Eduardo Suplicy e José Genoino.




Eduardo e Marta Suplicy recebem em sua casa o jogador de futebol Sócrates, Lula e o ex-diretor do Corinthians Adilson Monteiro Alves, fundador da "Democracia Corinthiana". São Paulo, 1985.




Eduardo Suplicy dorme em um barraco de uma ocupação do Movimento dos Trabalhadores sem Teto (MTST) em São Bernardo do Campo para demover ações violentas das forças policiais. Suplicy utilizou o mesmo expediente em ocupações do MST e rebeliões na Casa de Detenção do Carandiru.




Suplicy defendendo moradores de rua de uma agressão policial, após presenciar uma abordagem violenta em frente ao seu gabinete no centro de São Paulo.



Suplicy é preso e carregado por policiais durante protesto contra reintegração de posse de um terreno ocupado por famílias carentes na Zona Oeste de São Paulo, em 2016.




Suplicy conversa com Rubinho, ex-ator do filme Cidade de Deus, então em situação de rua na Cracolândia. Durante sua gestão como Secretário Municipal dos Direitos Humanos de São Paulo, Suplicy contratou moradores de rua e transexuais como agentes do seu gabinete.




Suplicy impede a prisão de uma professora, tirando-a dos braços de um guarda municipal, durante os protestos contra a reforma da previdência dos servidores da prefeitura de São Paulo.




Suplicy participa de protesto contra contingenciamento de verbas da cultura durante a gestão João Doria.



Suplicy divide o palco com Mano Brown, em um show dos Racionais MC's.

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