Ayn Rand
Musa dos anarcocapitalistas e dos libertários, a pseudo-filósofa Ayn Rand tornou-se uma das vozes mais influentes da "nova direita" global graças à sua obra pautada na glamourização do egoísmo, na exaltação das virtudes do individualismo e na rejeição do altruísmo. A naturalização da falta de limites éticos do comportamento capitalista, a oposição ao "coletivismo" e ao "estatismo", o apoio irrestrito ao ethos irrefreável do capitalismo e ao laisse-faire e a sacralização irracional da propriedade privada promoveram Ayn Rand ao posto de formadora de opinião de boa parte da intelligentsia liberal e de suas derivações utópicas.
A pretensão intelectual de Ayn Rand, entretanto, passa ao largo da justificação material. Embora cite Aristóteles, Tomás de Aquino e os liberais clássicos como influências de seu autoproclamado "objetivismo", o pensamento de Ayn Rand é raso e caricato, beirando a paródia. Demonização de pobres, elitismo e defesa pueril do egoísmo são todos justificados por falácias simplórias. A inconsistência intelectual não se restringe à produção textual de Ayn Rand. Contrariando inúmeros autores - incluindo liberais - que sempre defenderam que uma mínima rede de proteção social é necessária para o bem-estar das sociedades e indivíduos, Ayn Rand sempre se referiu às pessoas que precisavam de programas sociais e assistência do Estado como "parasitas e saqueadores". Influenciado por sua obra, Alan Greenspan, na era dos "Reaganomics", iniciou um programa de aumento das taxas de impostos regressivos sobre as classes menos menos abastadas, seguido pelo corte de benefícios e redução dos gastos públicos, prejudicando milhões de cidadãos estadunidenses de baixa renda.
As convicções intelectuais de Ayn Rand foram postas à prova nos anos 70, quando a escritora foi vitimada por um câncer de pulmão. Ayn Rand teve de gastar todas suas economias para financiar seu tratamento no sistema de saúde privado dos Estados Unidos. Falida, não hesitou em solicitar assistência social ao governo estadunidense e requisitar inscrição em todos os programas sociais aos quais era elegível. Inquestionavelmente, a assistência médica é seu direito e mais do que uma obrigação do Estado, ainda que a tenha feito entrar em contradição com suas definições de beneficiários como "parasitas" e "saqueadores" do erário.
Ayn Rand passou seus últimos anos dependendo de uma pensão do governo, recebendo subsídios médicos por intermédio do programa Medicare e o auxílio da assistente social Evva Pryor, designada pelo governo para acompanhá-la. Sobre o episódio, Pryor declararia: "Ela estava chegando num ponto da vida dela que ela iria precisar justamente da coisa que ela não gosta. Para eu fazer meu trabalho, ela deveria reconhecer que existiam algumas exceções na teoria dela. Ela teve que ver que existia uma coisa chamada ganância nesse mundo."
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