Coletivo Coiote
Artistas do Coletivo Coiote realizam uma performance quebrando imagens sacras e crucifixos na Praia de Copacabana. A performance ocorreu durante a Marcha das Vadias, realizada nos arredores do ponto de encontro dos peregrinos católicos que aguardavam o início da Jornada Mundial da Juventude, onde o Papa Francisco estaria presente. Rio de Janeiro, 27 de julho de 2013.
Fundado em meados de 2013, o Coletivo Coiote é um grupo de arte anarquista que utiliza práticas escatológicas, modificações corporais, performances e improvisos abordando temas como a "heterossexualidade compulsória" e a violência de gênero. O grupo denomina esses atos como "pornoterrorismo", ou "terrorismo com o c*". Na definição do manifesto do grupo postado em suas redes sociais, lê-se: "Manifesto Coiote Conectivo pela arte contemporânea como conceito aberto, estourado, sanguíneo, caleidoscópio; que abrange revolta e fazer artístico fora da moldura de qualquer tipo de gênero que delimite. Lambamos a sensibilidade pós-moderna e permitamo-nos o desabrochar e nascimento constante. Morte ao esteticismo, burguês de olhos arregalados! Somos bichxs3 antropomórficos pintados de néon s(em) técnica mista".
Durante a performance, os artistas ficaram seminus e cobriram os órgãos sexuais com símbolos religiosos e uma pintura de Jesus Cristo. Também colocaram um preservativo na cabeça de Nossa Senhora e simularam a prática de masturbação com a imagem. Juntaram os crucifixos, jogaram preservativos em cima e começaram a pisotear os artigos religiosos. Em seguida, quebraram as imagens sacras. Em um momento do protesto, um dos manifestantes introduziu um crucifixo no ânus.
A performance foi gravada, fotografada e difundiu-se rapidamente pelas redes sociais e pela imprensa, causando reações extremamente negativas e críticas severas nas colunas de jornais. Os artistas chegaram a ser indiciados pelo Ministério Público do Rio de Janeiro por prática de ato obsceno em local público e intolerância religiosa. As organizadoras da Marcha das Vadias divulgaram nota repudiando a ação do coletivo e afirmando que a performance não tinha qualquer ligação oficial com a manifestação. A Marcha das Vadias é um movimento inspirado na "SlutWalk" - manifestação criada em 2011 em Toronto, Canadá, influenciada por pautas liberais da segunda onda feminista, em especial a defesa da liberdade sexual.
O Coletivo Coiote protagonizou outra polêmica em 2014, ao organizar uma performance chamada "Xereca Satânik", realizada durante uma festa de encerramento de um evento artístico sediado no Polo Universitário de Rio das Ostras da Universidade Federal Fluminense (UFF). A performance teve automutilação, onde a artista teve a vagina cortada com bisturi e depois costurada com uma bandeira no Brasil dentro. Reinaldo Azevedo, então colunista da Veja, escreveu um artigo associando a performance ao PT, criticando os gestores da universidade e o uso de dinheiro público para financiar o evento.
As imagens e polêmicas do coletivo até hoje circulam pelas redes sociais e continuam sedimentando no imaginário popular a percepção negativa do feminismo, dos movimentos LGBT, dos artistas e dos estudantes de universidades públicas. Explorados à exaustão por setores conservadores, esses episódios ajudaram a fomentar a repulsa popular pela esquerda - sobretudo entre os cristãos, que representam 86,8% da população brasileira -, aprofundando a cisão entre os movimentos sociais e as massas. Damares Alves, Ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos do governo Bolsonaro, por exemplo, fez referência ao episódio pouco tempo após sua posse em 2019, afirmando que as feministas têm o "hábito de enfiar crucifixos na vagina".
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