Massacre da Candelária


A educadora Yvonne Bezerra de Mello conforta um grupo de crianças de rua, sobreviventes do Massacre da Candelária. Rio de Janeiro, 23 de julho de 1993.

A praça em frente à Igreja da Candelária, na região central do Rio de Janeiro, costumava servir de abrigo a um grupo de aproximadamente 70 moradores de rua, entre crianças e adolescentes. Numa madrugada de inverno de 1993, um táxi e um Chevette com placas cobertas pararam no local e abriram fogo contra o grupo. Oito pessoas morreram, dos quais seis eram menores de idade. Vários outros ficaram feridos. A vítima mais jovem era Paulo Roberto de Oliveira, de onze anos. As crianças eram atendidas por um projeto social chamado "Escola sem Portas nem Janelas", mantido pela educadora Yvonne Bezerra. Ela foi a primeira pessoa contatada pelos sobreviventes e também a primeira a chegar ao local.

As investigações apontaram para o envolvimento de sete homens. Entre os suspeitos, estavam um ex-policial militar (Marcus Vinícius Emmanuel Borges), dois policiais da ativa (Cláudio dos Santos e Marcelo Cortes) e quatro civis (Jurandir Gomes França, Nelson Oliveira dos Santos, Marco Aurélio Dias de Alcântara e Arlindo Afonso Lisboa Júnior). Os policiais Cláudio e Marcelo e o civil Jurandir foram inocentados no processo. Arlindo até hoje não foi julgado. Dos quatro que já foram condenados, três permanecem soltos, beneficiados por indultos ou em liberdade condicional (Marcus Vinícius, Nelson Oliveira e Marco Aurélio). A chacina, conforme apurado, teria sido uma represália pelo fato de um adolescente do grupo supostamente ter arremessado uma pedra contra uma viatura no dia anterior.

Os envolvidos foram identificados por um adolescente que sobreviveu à chacina, apesar de ter sido atingido por quatro tiros. Em 12 de setembro de 1994, ele seria vítima de um segundo atentado, enquanto dormia junto à Estação Central do Brasil, e novamente sobreviveu. Foi colocado no Programa de Proteção a Vítimas e Testemunhas e deixou o país. Um estudo conduzido pela Anistia Internacional concluiu que dos 70 moradores de rua que pertenciam ao grupo atacado na chacina, 44 perderam a vida de forma violenta em um intervalo de dez anos.

A brutalidade e covardia de uma chacina cometida contra crianças de rua por motivos banais chocou o mundo e abalou a imagem internacional do Brasil, mas foi recebida de forma ambivalente pela sociedade brasileira. O presidente Itamar Franco declarou que "o massacre deve doer em nossa face como uma bofetada humilhante", mas parte considerável da população aplaudiu o massacre, sobretudo comerciantes da região central do Rio de Janeiro. Segundo estudo feito pela ONG visão mundial, o Brasil tinha 70 mil crianças vivendo em situação de rua em 2019 - uma das maiores populações de crianças de rua em todo o hemisfério ocidental.

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