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Mostrando postagens de agosto, 2021

Os órfãos de Sankara

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Fidel Castro recepcionando Thomas Sankara e um grupo de crianças burquinesas em Havana, Cuba. Em 1986, após firmar um acordo com o governo cubano, o revolucionário marxista Thomas Sankara, presidente de Burquina Fasso, enviou um grupo de 600 crianças para Cuba, a fim de se formarem em cursos técnicos e superiores como medicina, agronomia, geologia e soldagem industrial, para que pudessem ajudar no progresso da nação africana quando retornassem. As crianças tinham entre 12 e 15 anos e foram selecionadas por critérios socioeconômicos - geralmente órfãos ou provenientes de famílias muito carentes das regiões rurais de Burquina Fasso. No ano seguinte, entretanto, Thomas Sankara foi assassinado em um golpe de Estado orquestrado por Blaise Caompaoré, auxiliado por setores reacionários das forças armadas burquinesas e pelas agências de inteligência dos Estados Unidos e da França. Deposto o governo revolucionário, Blaise Compaoré encerrou unilateralmente o acordo com o governo cubano e ordenou

Thomas Sankara e o Comando de Vacinação

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Um cartaz da campanha "Comando de Vacinação" e adultos sendo imunizados em Burquina Fasso, em 1984. O "Comando de Vacinação" foi um dos programas de imunização mais bem sucedidos do continente africano e se tornou um modelo replicado pela Organização Mundial da Saúde em países subdesenvolvidos. Em 4 de agosto de 1983, o revolucionário marxista Thomas Sankara assumiu a presidência de Burquina Fasso (então chamada Alto Volta) e logo implementou uma série de programas, medidas e reformas que operariam transformações sociais inéditas no continente africano. Uma das prioridades de Sankara era a reestruturação do sistema de saúde do país e a criação de programas visando debelar as epidemias que castigavam a população burquinesa. A primeira grande ação do Conselho Nacional da Revolução em matéria de saúde foi uma grande campanha de imunização chamada "Comando de Vacinação", conduzida pelo farmacologista Abdoul Salam Kaboré, ministro da Saúde de Burquina Fasso. A

Folha de S. Paulo

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Veículos pertencentes ao jornal Folha de S. Paulo são incendiados por opositores da ditadura militar brasileira, em 21 setembro de 1971. O ataque aos veículos foi uma reação à colaboração de Octávio Frias de Oliveira, proprietário da Folha de S. Paulo, com os órgãos de repressão do regime militar. Conforme apurado pela Comissão Nacional da Verdade (CNV), Octávio Frias de Oliveira foi um dos financiadores da Operação Bandeirantes (Oban) - um centro de informações mantido pelo regime militar, responsável por capturar, torturar e assassinar os opositores da ditadura. O relatório da CNV também aponta que veículos pertencentes à Folha de S. Paulo eram utilizados para transportar opositores do regime militar até as dependências da Oban ou do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), onde eram então torturados e assassinados. Octávio Frias de Oliveira era amigo pessoal do delegado Sérgio Fleury, apontado junto com o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra como comandante das operações de

A vacina Sabin

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O cientista polonês Albert Sabin e pesquisadores soviéticos trabalham no desenvolvimento da vacina contra a poliomielite, doença viral infecciosa responsável por causar a paralisia infantil. Moscou, União Soviética, c. 1955. Com auxílio soviético, Sabin desenvolveu, testou e lançou a vacina oral ("gotinha") que permitiu erradicar a pandemia global de poliomielite nos anos 60. Limitada a surtos isolados de curta duração no período pré-Revolução Industrial, a incidência da poliomielite evoluiu para a escala de pandemia em meados do século XX. Nos anos quarenta, a doença se espalhou por todo o mundo, causando pavor em função de sua alta taxa de letalidade e de seus efeitos devastadores. A poliomielite matava 10% dos infectados e deixava outros 40% com sequelas irreversíveis. A situação era particularmente grave nos Estados Unidos, em grande parte em função da negligência do governo, que tinha um papel extremamente limitado na promoção da saúde pública, deixando a campanha de pre

Bombardeios de Natal

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O Hospital Bach Mai, maior hospital de Hanói, destruído pelos "Bombardeios de Natal" conduzidos pelos Estados Unidos em dezembro de 1972, durante a Guerra do Vietnã. Em 18 de dezembro de 1972, o então presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon, autorizou o início da Operação Linebacker II. A operação foi apelidada ironicamente de "Bombardeios de Natal" pelos militares da maior nação cristã do mundo. A operação durou 11 dias, se estendendo até 29 de dezembro. Foi uma das maiores campanhas aéreas conduzidas pela Força Aérea dos Estados Unidos no período do pós-Segunda Guerra, expandindo o foco da Operação Linebacker (até então restrita à destruição de pontes, infraestrutura e aeronaves vietnamitas) para alvos civis, de forma indiscriminada. Os bombardeios aéreos foram concentrados nas cidades de Hanói e Haifom. Os Estados Unidos empregaram 741 aviões bombardeiros B-52, que despejaram 15.237 toneladas de bombas sobre os alvos civis e militares vietnamitas. Outras 5.0

Maria Bonita

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A cangaceira Maria Bonita, companheira de Lampião, retratada por Benjamin Abrahão Botto em 1936. Nascida em 8 de março de 1911, Maria Gomes de Oliveira era filha de Dona Déa e José Filipe Gomes, uma família humilde de Paulo Afonso, interior da Bahia. Era então conhecida como Maria de Déa. Aos 15 anos, por determinação da família, foi obrigada se casar com o seu primo, o sapateiro Zé de Neném. O matrimônio era muito conturbado e seu marido, alcoólatra e agressivo, a espancava constantemente. Em 1929, Maria Bonita se envolveu afetivamente com Virgulino Ferreira da Silva, o famigerado Lampião, chefe do maior e mais temido grupo de cangaceiros do Nordeste. Originado no século XVIII, o cangaço é um fenômeno que mescla banditismo e revolta social, caracterizado pela formação de grupos marginalizados que se organizam para praticar crimes, saques e pilhagem como uma reação aos graves problemas sociais, anomia política e negligência do Estado. Até as primeiras décadas do século XX, os cangaceir

Lampião

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Retrato de Virgulino Ferreira da Silva, alcunhado Lampião, o "Rei do Cangaço". O registro fotográfico foi realizado em 15 de junho de 1927, durante o saque à cidade de Limoeiro do Norte, no interior do Ceará. Lampião nasceu no atual município de Serra Talhada, em Pernambuco, em 4 de junho de 1898. Seus pais eram José Ferreira dos Santos e Maria Sucena da Purificação. A família era humilde e numerosa. Lampião era o terceiro mais velho dos onze filhos do casal. Não era analfabeto, mas tinha uma instrução rudimentar. Em sua juventude, foi habilidoso vaqueiro e dedicou-se à fabricação de utensílios de couro, produzindo móveis, arreios, selas e chicotes. Seu pai era dono de um pequeno lote de terra, de onde a família tirava sua subsistência. Vizinha ao terreno, estava a propriedade dos Alves de Barros. As duas famílias a princípio tinham relações amistosas, mas acabaram se tornando inimigas em função da disputas sobre os limites das propriedades. Em 1919, o pai de Lampião foi assa

Instituto Butantan (I)

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Cenas do incêndio no Instituto Butantan: o galpão que guardava as coleções científicas do instituto em chamas e pesquisadores correndo para salvar exemplares resgatados do prédio. São Paulo, 15 de maio de 2010. O incêndio do laboratório do Instituto Butantan destruiu a maior coleção científica de serpentes, aranhas e escorpiões do mundo. O acervo queimado guardava cerca de 80 mil serpentes e 500 mil artrópodes, conservados em formol - alguns deles coletados há mais de 100 anos pelo próprio fundador da instituição, Vital Brazil. Harry Greene, professor de biologia evolutiva da Universidade Cornell, Nova York, definiu o incêndio como "uma tragédia científica global", responsável por destruir "um século de pesquisas e parte da memória biológica da humanidade". O incêndio destruiu até mesmo espécimes novas, que ainda não tinham sido catalogadas. O prédio destruído pelas chamas não tinha alvará nem sistema de proteção contra incêndios. A perícia constatou que o incêndio

Vital Brazil

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O pesquisador Vital Brazil e um assistente extraindo veneno de uma cobra para produção de soro antiofídico. Instituto Butantan, São Paulo, 1908. Considerado um dos grande expoentes da ciência mundial, Vital Brazil foi o primeiro cientista a desenvolver o soro antiofídico para tratamento de picadas de cobras venenosas dos gêneros Crotalus , Bothrops e Micrurus. Ele também foi o pioneiro na criação de soros contra picadas de escorpiões e aranhas e participou da criação das terapias antitetânica e antidiftérica. Sua contribuição mais importante para a medicina, entretanto, foi a descoberta da especificidade antigênica, um conceito chave que permitiu o desenvolvimento da imunologia e de novas tecnologias que possibilitaram criar, pela primeira vez na história, terapias antipeçonhentas verdadeiramente eficazes, ajudando a salvar milhões de vidas. Em reconhecimento a esse feito, um busto na cidade de Mumbai, na Índia, o homenageia com os dizeres: "um homem que salvou mais pessoas do que

Touro Sentado

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Touro Sentado, chefe indígena do povo Sioux Hunkpapa, retratado por David F. Barry, por volta de 1883. Visando explorar os recursos naturais dos territórios indígenas, expandir a colonização e substituir as culturas de subsistência por lavouras comerciais, o governo dos Estados Unidos conduziu um dos piores genocídios da história, reduzindo a população indígena norte-americana de 25 milhões de nativos para menos de 2 milhões em um intervalo de dois séculos. Nascido no vale do Grand River, Dakota do Sul, em c. 1831, Touro Sentado ("Tatanka Iyotake" na língua Sioux) foi um dos principais líderes da resistência indígena à esse processo de limpeza étnica. Na década de 1870, o líder indígena unificou os guerreiros das nações Sioux e Cheyenne, formando uma força de combate composta por 3.500 nativos. Em 1876, as tropas de Touro Sentado derrotaram o Exército dos Estados Unidos na Batalha de Little Bighorn, na maior vitória dos nativos norte-americanos durante as Guerras Indígenas. P