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Mostrando postagens de novembro, 2023

Fatah e Hamas: as disputas políticas na Palestina

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Militantes do Fatah (à esquerda, com bandeiras amarelas) e do Hamas (à direita, com bandeiras verdes) participam de um protesto conjunto contra a expansão das colônias israelenses em territórios palestinos. Fatah e Hamas, respectivamente os maiores movimentos políticos da esquerda e da direita palestinas, disputam o comando do governo palestino desde 2007. Fundado em 1959 por Yasser Arafat, Khalil al-Wazir e outros membros da Diáspora Palestina, o Fatah (acrônimo transliterado de "Movimento de Libertação Nacional da Palestina") foi por décadas o principal movimento armado ativo na luta pela criação do Estado da Palestina. A princípio, o Fatah rechaçava a "solução dos dois Estados", referendada pela Resolução 181 da ONU, e negava a legitimidade de Israel. A organização era majoritariamente composto por estudantes, guerrilheiros e lideranças populares ligados à esquerda política. Em 1967, no contexto da Guerra dos Seis Dias, o Fatah se filiou à Organização para a Libe

O sionismo e as origens do conflito entre Israel e Palestina

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Situada em uma encruzilhada estratégica entre a Ásia, a África e a Europa e cercada pelas civilizações do Mar Mediterrâneo e do Crescente Fértil, a região da Palestina é um território marcado por disputas desde a Antiguidade. Habitada por tribos semitas, nômades e indo-europeias (cananeus, filisteus, arameus, moabitas, etc.) e berço dos reinos de Samaria e Judá, a região foi controlada por muitos impérios ao longo da história. Assírios, babilônicos, persas, egípcios, helênicos e romanos se sucederam no domínio da Palestina. Após a Revolta de Barcoquebas (132-136 d.C.), parte substancial dos judeus foi banida de Jerusalém e a região, convertida na província romana de Síria Palestina, passou a ser progressivamente habitada por árabes. Cristianizada pelo Império Bizantino, a Palestina ganhou de Constantinopla o status de "Terra Santa", embora tenha conservado importante atividade intelectual judaica. Após a conquista árabe (634-640), a região foi islamizada e integrada aos calif

O massacre israelense na Palestina e a fetichização do martírio

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Acima, o manifestante palestino Aed Abu Amro enfrenta as forças de segurança de Israel com uma atiradeira durante um protesto contra o bloqueio à Faixa de Gaza, em 22 de outubro de 2018. Abaixo, o mesmo manifestante é socorrido após ser atingido por um tiro em outra manifestação, em 5 de novembro de 2018. Produzida pelo fotógrafo Mustafa Hassouna, a imagem de Aed lançando uma pedra contra os soldados israelenses, ao mesmo tempo em que ergue a bandeira palestina, tornou-se uma das fotografias mais icônicas do conflito médio-oriental. O registro viralizou nas plataformas digitais e foi reproduzido à exaustão pelos veículos da esquerda política. A repercussão é compreensível. A obra de Hassouna tem um impacto visual patente. Composição dinâmica, a energia cinética expressa de forma quase palpável, a expressão corporal imponente, tudo colabora para criar uma peça de deslumbramento visual. A fotografia chegou a ser comparada com "A Liberdade Guiando o Povo", célebre obra de Eugène

Princesa Isabel e o mito isabelista da abolição

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Em 13 de maio de 1888, princesa Isabel, exercendo a regência do império em nome de seu pai, Dom Pedro II, sancionou a Lei Áurea, extinguindo a escravidão no Brasil. O ato lhe rendeu a alcunha de "A Redentora" e ensejou a criação de um verdadeiro culto à sua imagem — o "isabelismo", mitificação que reinventou a biografia da aristocrata, agraciando-a com virtudes que nunca possuiu e ocultando as manchas e falhas que não combinavam com a narrativa heroicizante. O culto cooptou expoentes do movimento abolicionista, tais como André Rebouças e José do Patrocínio, engajados defensores da monarquia. Incorporada aos livros didáticos e à historiografia oficial, a narrativa isabelista perdurou ao longo de décadas, garantindo à princesa por muito tempo o status de heroína. O culto à princesa Isabel foi respeitado até mesmo pelos próceres da República Velha, que tanto se empenharam em combater a glorificação da monarquia. A explicação está na conveniência da diegese isabelista,

"A Redenção de Cam", enbranquecimento e eugenia na Primeira República

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"A Redenção de Cam", pintura executada por Modesto Brocos em 1895 e conservada no acervo do Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro. Considerada uma das principais referências iconográficas das doutrinas racistas que vigoravam na Primeira República, a obra enaltece o projeto de branqueamento racial da população por meio da miscigenação e se converteu em um símbolo das aspirações do movimento eugenista brasileiro. Pintada poucos anos após a abolição da escravatura, "A Redenção de Cam" evidencia o esforço da elite brasileira em reafirmar sua hegemonia no ordenamento político e social do Brasil. Buscando criar uma sociedade que emulasse a Europa e que estivesse estruturada segundo o ideário da supremacia branca, o governo brasileiro instituiu uma política nacional de branqueamento, financiando a vinda de milhões de imigrantes europeus e fomentando a miscigenação como meio de "diluir" e eliminar gradualmente a presença de negros na população. Esse mesm