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Mostrando postagens de janeiro, 2024

A Revolta das Barcas

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Manifestantes depredam e incendeiam as mansões da família Carreteiro, responsável por gerir o serviço das barcas, durante a chamada Revolta das Barcas. Niterói, 22 de maio de 1959. O levante, insuflado pelo descontentamento com o serviço prestado pelo Grupo Carreteiro, forçou o governo federal a estatizar as barcas da Baía de Guanabara. Até 1974, quando foi inaugurada a Ponte Rio-Niterói, o único serviço de transporte ligando as cidades de Niterói e Rio de Janeiro eram as barcas que faziam a travessia da Baía de Guanabara. O serviço era prestado por empresas privadas desde o século XIX e tornava-se cada vez mais demandado, graças à rápida urbanização do Rio de Janeiro — então capital federal e local de trabalho de boa parte dos moradores de Niterói. Em 1953, as duas empresas que controlavam o transporte aquaviário na Baía de Guanabara — a Companhia Cantareira e Viação Fluminense — foram adquiridas pela Frota Barrero S/A, uma subsidiária do Grupo Carreteiro. A empresa pertencia à aristo

Birobidjan, o primeiro território autônomo judeu do mundo

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Um rabino posa para foto em frente à estação ferroviária de Birobidjan, junto à gigantesca menorá de 21 metros de altura. Birobidjan é a capital do Oblast Autônomo Judaico — o primeiro território autônomo judeu do mundo, fundado pela União Soviética em 1934, 14 anos antes da criação de Israel. O oblast ("província") seguiu existindo como território autônomo após a dissolução da União Soviética. É o único oblast autônomo da Rússia e uma das únicas duas entidades políticas autônomas judaicas do mundo, junto com Israel. A presença de judeus no atual território da Rússia remonta ao século VII, quando comunidades asquenazes começaram a se estabelecer na Europa Oriental. Após a constituição do Czarado da Rússia, o país chegou a hospedar a maior população de judeus do mundo, mas a perseguição religiosa e o antijudaísmo levariam à dispersão gradual das comunidades judaicas. Em 1791, a imperatriz Catarina II instituiu uma política oficial de segregação dos judeus, criando uma Zona de

O sistema hidrelétrico estadunidense e os limites do discurso liberal

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Militares estadunidenses realizam uma obra de manutenção no reservatório de Carlyle, no estado de Illinois. Os Estados Unidos são o terceiro maior gerador de energia hidrelétrica do mundo, atrás apenas da China e do Brasil. As hidrelétricas estadunidenses tem um potencial instalado de 102,8 GW e contribuem com 6,6% de toda a energia consumida nos Estados Unidos. Há usinas hidrelétricas em 36 dos 50 estados do país. A maioria das usinas, entretanto, estão concentradas na bacia hidrográfica do Rio Columbia (44% do total). O sistema hidrelétrico estadunidense é administrado diretamente pelo governo dos Estados Unidos e a imensa maioria das grandes usinas e reservatórios pertencem às Forças Armadas ou outros órgãos públicos. Somente o Corpo de Engenheiros do Exército dos Estados Unidos possui 356 usinas e 75 represas. A estatal Tennessee Valley Authority, criada durante o New Deal, também opera outras dezenas hidrelétricas e mantém uma rede de transmissão com mais 26 mil quilômetros de lin

George Orwell e a demonização do comunismo

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Cenas dos filmes "A Revolução dos Bichos" (animação de 1954) e "1984" (longa-metragem de 1956), adaptações para o cinema dos livros homônimos do escritor inglês George Orwell (1903-1950). Os filmes foram produzidos no Reino Unido como parte um projeto financiado e coordenado pelo governo dos Estados Unidos, dirigido pela Diretoria de Estratégia Psicológica da Agência Central de Inteligência, a CIA. Após a morte de Orwell, a CIA aproximou-se de sua viúva, Sonia Blair, e conseguiu persuadi-la a ceder os direitos autorais e de reprodução das obras para a agência. A intenção era, de acordo com o presidente da Agência de Informação dos Estados Unidos, fazer "os filmes anticomunistas mais devastadores de todos  os tempos”. Os filmes são testemunhos não apenas do fenômeno do forte envolvimento da CIA na produção cultural da Guerra Fria, visando influenciar narrativas e percepções de mundo, mas também das distorções produzidas com objetivos proselitistas. O alinhamento

A Eletrobras

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O presidente João Goulart discursa durante a cerimônia de fundação da Centrais Elétricas Brasileiras S.A. — a Eletrobras. Instalada em 11 de junho de 1962, a Eletrobras é a maior companhia de energia elétrica da América Latina, respondendo por 38% de toda a energia gerada no Brasil. A companhia possui capacidade instalada de 42.080 megawatts, administra 164 usinas (36 hidrelétricas, 126 térmicas e duas nucleares) e concentra 57% da rede de transmissão nacional (58.000 quilômetros de linhas). A criação da Eletrobras tinha por objetivo atenuar a grave escassez de energia elétrica, que constituía um dos maiores obstáculos ao processo de industrialização e modernização do Brasil até meados do século XX. Desde o fim do século XIX, a geração e a distribuição de energia elétrica no Brasil estavam a cargo da iniciativa privada. Duas multinacionais respondiam pela maior parte da oferta de energia no país — a estadunidense Amforp e a canadense Light. Operando sob a lógica de mercado, sem regulam

Kerala e os comunistas indianos

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Autorriquixás decorados com imagens de Fidel Castro percorrem as ruas de Calicute, estado de Kerala, em dezembro de 2016. Nenhum lugar do planeta onde vigore a economia de mercado possui tantas referências ao comunismo quanto Kerala — o mais vermelho dos 28 estados da Índia. Em Kerala, estrelas, foices e martelos estão por toda parte, até no design dos pontos de ônibus. Bandeiras vermelhas e adágios famosos de teóricos do socialismo decoram as esquinas das cidades. Os muros são pintados com representações de Karl Marx, Lenin, Stalin, Fidel Castro e Che Guevara e as ruas são batizadas com nomes como Friedrich Engels e Ho Chi Minh. É difícil percorrer mais do que cinco quilômetros sem se deparar com um comitê de um partido de esquerda. A presença massiva de referências às ideias socialistas e comunistas em Kerala é explicada por seu histórico peculiar de sucessivas administrações de esquerda, bastante raro no contexto das democracias liberais burguesas. Desde os anos cinquenta, as legend

Zejneba Hardaga e a Rivka Kavillo

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Uma muçulmana usa seu véu para cobrir a estrela amarela de sua vizinha judia enquanto caminham nas ruas de Sarajevo em 1941. A muçulmana é Zejneba Hardaga e a judia é Rivka Kavillo. Durante a ocupação nazista da Iugoslávia, para fins de identificação, os judeus eram forçados a andar com um emblema amarelo com o desenho de estrela de Davi, sendo constantemente submetidos a prisões arbitrárias e violência física pelas tropas nazistas quando reconhecidos nas ruas. Mesmo vivendo próxima a uma instalação da Gestapo e apesar dos cartazes espalhados por Sarajevo dizendo que aqueles que estivessem acobertando judeus seriam executados, a família Hardaga escondeu Rivka Kavillo, seu marido, Joseph, e os filhos do casal em sua residência por um longo período. Todos sobreviveram à guerra.

Obras de arte destruídas pelos nazistas

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Antes de se tornar líder máximo do ideário nazista, Adolf Hitler foi um artista frustrado. A Academia de Belas Artes de Viena recusou sua matrícula e as galerias austríacas e alemãs também não se interessaram em comercializar suas obras. Após assumir o poder na Alemanha, Hitler tentou impor sua concepção estética e depurar a arte europeia daquilo que via como "degeneração artística moderna". Hitler também ordenou que seus soldados saqueassem museus, galerias e coleções privadas para formar um acervo artístico que estivesse à altura das pretensões supremacistas do nazismo. Muitas obras também foram destruídas por bombardeios e incêndios ao longo da Segunda Guerra Mundial. Como resultado, as décadas de 1930 e 1940 foram marcadas pelo desaparecimento de grande parte do patrimônio artístico europeu. Estima-se que os nazistas tenham saqueado ou destruído 20% de todo o acervo artístico conservado nos museus do continente. Conheça 10 obras de arte destruídas pelo nazismo. " Cab

Reconhecimento internacional do Estado da Palestina

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Em 15 de novembro de 1988, a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), sob a presidência de Yasser Arafat, proclamou oficialmente a independência do Estado da Palestina, tendo como base o desenho das fronteiras anteriores à Guerra dos Seis Dias, travada entre Israel e os países da Liga Árabe em 1967. O país é oficialmente uma democracia parlamentarista. O poder executivo é exercido pela Autoridade Nacional Palestina (ANP) e o Conselho Legislativo da Palestina é o parlamento. Desde 2007, entretanto, o governo está dividido entre os dois principais partidos. O Fatah, principal legenda de esquerda, domina o bolsão da Cisjordânia e reconhece Mahmoud Abbas como presidente legítimo da Palestina. Já o Hamas, maior movimento de direita, governa a Faixa de Gaza, sob a liderança de Aziz Duwaik. O Estado da Palestina reivindica Jerusalém Oriental como sua capital, mas a cidade está inteiramente sob controle de Israel. Ramallah e a cidade de Gaza sediam os centros administrados "de fa