Othon Pinheiro, Lava Jato e Programa Nuclear Brasileiro

O engenheiro nuclear Othon Luiz Pinheiro da Silva (de boné), preso pela Operação Lava Jato, é transferido para a Superintendência da Polícia Federal em Curitiba. Othon é considerado o mais importante cientista nuclear brasileiro e foi um dos principais responsáveis pelo desenvolvimento da tecnologia da ultracentrifugação, que permitiu ao Brasil dominar toda a cadeia produtiva da energia nuclear. Em 2016, o cientista foi condenado a 43 de anos prisão em sentença proferida pelo juiz Marcelo Bretas.

O almirante Othon é considerado o pai do Programa Nuclear brasileiro. Formado em Engenharia Naval pela Escola Politécnica da USP em 1966, Othon obteve mestrado pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) em 1978, concomitantemente com a graduação em engenharia nuclear. De volta ao Brasil, foi indicado para conduzir os primeiros estudos de produção de um submarino nuclear brasileiro e liderou o Programa Nuclear Paralelo entre os anos de 1979 e 1994. O programa visava dotar o Brasil de autonomia para realizar o ciclo completo da produção de combustível nuclear. O país chegou a assinar um acordo de transferência de tecnologia com a Alemanha nos anos setenta, mas foi boicotado pelos Estados Unidos que, preocupados com a possibilidade do Brasil dominar a tecnologia de enriquecimento e reprocessamento de urânio - potencialmente utilizável para produzir bombas atômicas -, obrigou a Alemanha a retroceder na oferta.

O projeto secreto coordenado por Othon resultou no desenvolvimento de uma tecnologia nacional para enriquecimento de urânio a partir do método de ultracentrifugação. A tecnologia nacional é utilizada para a produção de combustível nuclear nas usinas de Angra dos Reis, no Rio de Janeiro. Além de chefiar o Programa Nuclear Paralelo, Othon foi o diretor de pesquisas de reatores do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN) entre 1982 e 1984. As atividades do cientista foram monitoradas constantemente pelos Estados Unidos. Documentos liberados pelo governo estadunidense mostram que Othon era vigiado de perto por agentes da CIA. Ray H. Allar, espião da agência, chegou a ser vizinho de apartamento de Othon por anos em São Paulo. O cientista também foi alvo de tentativas de incriminação nos anos oitenta, quando foi acusado de desvio de verbas do erário. Comprovou-se, entretanto, que as verbas que Othon movimentou em contas secretas não eram frutos de corrupção, mas parte do expediente utilizado pelo próprio governo brasileiro para financiar o Programa Nuclear Paralelo. O inquérito foi arquivado em 1988 pelo procurador Sepúlveda Pertence.

Após se aposentar da Marinha em 1994, Othon abriu uma empresa de consultoria para projetos na área de energia. Nesse mesmo ano, foi condecorado pelo presidente Itamar Franco com a grã-cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico. Em 2005, durante o primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, Othon aceitou convite do Ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, para assumir a presidência da Eletronuclear - subsidiária da estatal Eletrobras responsável por projetar, construir e operar usinas nucleares. Em sua gestão, Othon retomou as obras da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto - a usina de Angra 3. As obras ficaram paralisadas por 23 anos, em grande parte graças à pressão dos Estados Unidos e seus aliados europeus, que bloquearam financiamento internacional para a obra e tentaram obstruir sua construção, utilizando-se de artigos do acordo firmado com a Agência Internacional de Energia Atômica.

Além de retomar a construção de Angra 3, Othon coordenou a construção do reator nuclear do Centro Tecnológico da Marinha,  responsável por gerar o combustível para o submarino nuclear brasileiro que será construído em cooperação com a França. Também durante sua gestão, o programa nuclear brasileiro foi alvo de críticas e desconfianças do governo estadunidense, sobretudo após o episódio do acordo de enriquecimento de urânio que Lula firmou com o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, e com o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, em maio de 2010. A intervenção do Brasil, que visava criar uma alternativa ao impasse do programa nuclear iraniano, então sob ameaças constantes de Barack Obama, enfureceu diversos setores do governo estadunidense. Othon também estava trabalhando em um projeto de desenvolvimento de tubos geradores aptos a produzir eletricidade com quedas d’água de apenas um metro de altura - uma fonte de energia complementar que poderia servir dezenas de milhares de brasileiros.

Em abril de 2015, almirante Othon foi acusado pela Operação Lava Jato de ter recebido 4,5 milhões de reais em propinas da construtora Andrade Gutierrez em troca de vantagens na construção da usina nuclear Angra 3. O cientista foi alvo de uma delação premiada feita pelo ex-presidente da Andrade Gutierrez, Rogério Nora de Sá, que afirmou que Othon teria pedido 1% do valor de contrato em propina para repassar para PT, PMDB e projetos científicos. Othon disse que os valores que recebeu (um terço do que o Ministério Público alegou) são relativos a serviços de consultoria prestados à Andrade Gutierrez desde 2004, que a construtora já possuía o contrato para a construção da usina há vinte anos (antes, portanto, de seu ingresso na Eletronuclear) e afirmou que sua prisão obedece a interesses geopolíticos internacionais que visam impedir o Brasil de se tornar uma potência nuclear.

Othon foi condenado a 43 anos de prisão pelo juiz Marcelo Bretas, pelas acusações de corrupção e a lavagem de dinheiro. Sua filha, Ana Cristina da Silva Toniolo, também foi presa. O cientista tentou se suicidar na prisão, mas foi impedido pelos agentes penitenciários. A prisão de Othon foi revogada em outubro de 2017, mas a defesa ainda tenta reverter a sentença ou diminuí-la. A prisão de Othon interrompeu a retomada do Programa Nuclear Brasileiro e atrasou a construção de Angra 3 e do reator nuclear do Centro Tecnológico da Marinha.

Comentários

  1. Parabéns pela matéria 👏👏
    Lamentável, assim como a morte do reitor. Esses canalhas têm que pagar por toda essa maldade.

    ResponderExcluir
  2. ... a capacidade que estas pessoas tem de subverter a ordem é de causar indignação e revolta. Acredito que em algum momento da nossa história elas serão julgadas e punidas conforme a lei.

    ResponderExcluir
  3. E sempre assim essa lava jato os interesses estão acima do Brasil apenas para servir aos americanos até quando ?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Até hoje, Abril de 2023, quando Moro lesa-pátria criminoso tornou-se senador da república das bananas! Mas ele há de cair, Tecla Duran que o diga! #Engenheiro nuclear Othon Luiz Pinheiro da Silva, herói nacional!

      Excluir
  4. A batalha do Armagedom é a luta entre manter a verdade encoberta e revelar a verdade a todos...

    ResponderExcluir
  5. Esses estadudinense sempre metendo o bedelho! Desgraçados desgraçado mundo a fora! Agora é a Ucrânia/Rússia. Até quando?

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Explosão da Base de Alcântara

O ataque ao carro de Nixon na Venezuela

George Orwell e a demonização do comunismo